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quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

X - A DISPUTA DE MERCADO


                                                         
A 3ª Cruzada seria de grande importância para o nascente processo econômico europeu em vários aspectos. Frederico I Barbarossa ao morrer afogado no rio Saleph em 1190, deixou as suas tropas sem um líder. Ricardo Coração de Leão resgatou os fundos para a sua campanha usando de todos os meios possíveis, seria capaz de vender até o reino da Inglaterra se fosse preciso. De Ricardo Coração de Leão tudo podia ser esperado, conseguira o trono inglês cedendo seus direitos a Normandia e Anjou a Filipe Augusto da França, então seu amigo de juventude e aliado. No dia de sua coroação em 1189, Ricardo proibiu aos judeus que comparecessem, mesmo assim alguns deles insistiram em ir, foram brutalmente assassinados pelos membros da corte, e a violência se estendeu causando uma mortandade na comunidade judaica, ao que mais tarde o próprio Ricardo chamou de holocausto. Apesar disto Ricardo obrigou os agiotas judeus a financiarem sua cruzada, além de ter cobrado impostos altíssimos e lançado mão de todo o tesouro deixado pelo seu pai, o qual, diga-se de passagem, foi acumulado com o dízimo de Saladino; uma taxa criada na França e na Inglaterra para patrocinar uma cruzada para livrar Jerusalém da posse de Saladino, e que Henrique II jamais usou para este fim. Com medo que Filipe Augusto viesse a tomar seu trono enquanto estivesse fora, Ricardo Coração de Leão astutamente o convidou para acompanhá-lo e deixou sua mãe como regente da Inglaterra.

Dos dez anos de seu reinado, Ricardo Coração de Leão só passou seis meses na Inglaterra, além do que nem falava a língua inglesa, porquanto fora criado na Aquitânia e freqüentava assiduamente a corte francesa. Apesar de seu perfil de caráter controvertido passou para História como um herói. Sua estátua imponente esta lá ornando a fachada do palácio de Westminster, em Londres, como se o fato dele ter perdido territórios ingleses continentais preciosos não conspurcasse sua imagem heróica. Ricardo possuía admiráveis qualidades e defeitos na mesma proporção, podia ser um mestre militar e um astuto político, mais isso não o impedia de ser um tolo em outras maneiras.Quando estava a caminho da Cruzada, passou pelo reino da Sicília, com o intuito de assegurar a influência inglesa no território, pois sua irmã, Joana, era casada com o rei normando da Sicília. Estando lá armou uma tremenda encrenca, cujo resultado foi apenas imediato e não impediu que o reino fosse parar anos depois nas mãos dos germanos. Ricardo saindo de lá empreendeu na conquista de Chipre (1191), tomando a ilha do governo bizantino. Entrementes, Filipe Augusto foi para Tiro, onde se encontrou com Leopoldo V da Áustria, que estava no comando das tropas germânicas remanescentes de Barbarossa, também se encontrou com o seu vassalo conde Conrad de Montferrat, que reclamava o trono por seu casamento com a herdeira presuntiva do reino de Jerusalém, entrando em disputa com seu herdeiro nominal, o viúvo da irmã de sua mulher, Guy de Lusignan, que era vassalo de Ricardo Coração de Leão. Após a tomada de Acre, ficou decidido que Guy de Lusignan seria o rei de Jerusalém e Conrad de Montferrat seu herdeiro. Uma decisão que não tardaria a mudar por conta do rei inglês.

Aconteceu depois, que Leopoldo V da Áustria achando que tinha o mesmo direito que Ricardo e Filipe Augusto, hasteou também sua bandeira após a conquista de Acre junto com as dos outros dois. Ricardo quando viu, rápido foi lá e arrancou a bandeira de Leopoldo. Depois da querela das bandeiras, Filipe Augusto desanimado por uma disenteria abandonou a cruzada e voltou à França, deixando para trás um indignado Ricardo Coração de Leão ressentido com o abandono do aliado. Por conta dessa atitude arrogante no Acre com Leopoldo V da Áustria, quando Ricardo estava voltando à Inglaterra, teve que se disfarçar para passar desapercebido pelo território austríaco, apesar de sua cautelosa atitude foi reconhecido pelo anel real que não tirara, e acabou prisioneiro de Leopoldo, que o entregou ao imperador Henrique VI, que sem maiores escrúpulos exigiu um fabuloso resgate da Inglaterra para soltá-lo.

Foi exatamente no Acre, que a Ordem dos Cavaleiros Hospitaleiros Teutônicos foi fundada pelos germânicos, para dar assistência médica aos peregrinos. Quando Leopoldo V da Áustria se retirou do Acre, os cavaleiros teutônicos se dirigiram para a rica cidade comercial de Veneza, onde ofereceram seus serviços para o governo veneziano, que estava envolvido com complexos problemas com as suas rotas comerciais. Problemas estes que tinham origem num passado que dera à Veneza toda sua riqueza. Veneza fora fundada por volta de 568, quando refugiados da invasão lombarda se instalaram no estuário do rio Pó.Veneza pertencera ao Império Romano do Oriente, e mesmo depois de se tornar uma República independente ao final do século IX, continuara a sofrer a influência bizantina.

Em 992, os venezianos conseguiram com o imperador bizantino Basílio II um tratado comercial de reduções excepcionais das altas taxas alfandegárias, este foi o primeiro ato que serviu de base à fortuna da República de Veneza. Quando Aleixo I Comnenus subiu ao trono e os venezianos forneceram apoio militar contra a invasão normanda da Tessalonica conseguiram privilégios ainda maiores, ficaram isentos de taxas e inspeções de mercadorias em todos os portos bizantinos, podiam negociar livremente em todo império e caso houvesse questões legais teriam forum especial para seus processos. Para usufruir desses privilégios os venezianos acorriam em grande número aos pontos comerciais do império, só em Constantinopla eram em torno de dez mil na metade do século XII. Por conta da arrogância e da insolência com que enfrentaram as ordens do imperador Manuel I Comnenus, ofendendo o orgulho bizantino, caíram em desfavor, e em 1171 o imperador mandou prender a todos os venezianos residentes no império e confiscou seus navios e bens.

A perda súbita da parceria com o Império Bizantino comprometeu deveras a continuidade do grandioso sucesso marítimo e comercial da República de Veneza. Uma situação que se agravou ainda mais com a tomada da Tessalonica pelos normandos em 1185, ao que se somou a agressividade pós-cruzadas dos navegadores mulçumanos e, sobretudo, pelo recrudescimento da pirataria nas águas adriáticas. Quando os cavaleiros teutônicos chegaram à Veneza a atividade comercial marítima estava praticamente paralisada. Veneza tinha obtido, em 1178, o controle da passagem alpina do passo de Brenner, aberta a partir de 1115 com o movimento cruzadista, que ligava a cidade de Munich, fundada em 1158 por Henrique I, o Leão, à Trento e à Verona, e desta chegava-se a Veneza. A nova passagem abrira uma linha comercial para a prata vinda da Germânia, tornando os germânicos os mais novos parceiros comerciais dos venezianos, por conta disto, a proteção oferecida pelos teutônicos era mais que bem vinda pelos mercadores venezianos, os quais estavam ansiosos para retomarem seus negócios lucrativos com o Oriente.

Em 1198, o papa Inocêncio III conclamou os lideres europeus para uma nova Cruzada, tendo como motivação o fracasso da 3ª Cruzada em retomar Jerusalém das mãos de Saladino, sultão do Egito e de Damasco. A ocasião não poderia ser mais inoportuna, tanto à Inglaterra como à França. Ricardo depois de perdoar seu irmão João Sem Terra por usurpar a regência e fazê-lo seu herdeiro, entrou em litígio com Filipe Augusto e por conta disto acabou morrendo em 1199. O novo rei inglês João Sem Terra bem que tentou, mas jamais conseguiu recuperar os territórios da Normandia e de Anjou, que acabaram integrados ao território da França. Já o rei francês Filipe Augusto estava indisposto com o papado, por conta da ordem de anulação de seu terceiro casamento dada por Inocêncio III, que interditara a França até 1200. O Sacro Império Romano-Germânico por sua vez estava contestando ainda mais o poder papal, porquanto o papa excomungara Henrique VI pelo seqüestro de Ricardo Coração de Leão, e excomungara também seu sucessor Filipe da Suábia. De forma que a chamada papal à 4ª Cruzada passou literalmente ignorada por estes governantes.

No distante reino de Jerusalém, onde mal havia sido decidido por pressão de Ricardo Coração de Leão, em abril de 1192, que Guy de Lusignan ia ser o novo rei, outro esquema fora armado mudando a disposição anterior. Ricardo obrigou Guy a comprar dele a ilha de Chipre onde seria rei e, em conseqüência disto, Guy deixou o trono de Jerusalém para o protegido de Filipe Augusto. O trono de Jerusalém foi brevemente ocupado por Conrad de Montferrat e Isabella, logo Conrad foi misteriosamente assassinado deixando sua esposa grávida. Após o nascimento de sua filha, Maria de Montferrat, Isabella de imediato se casou com Henrique II, conde de Champagne, neto de Luís VII e Eleanor da Aquitânia, e também sobrinho de Luis Filipe e Ricardo Coração de Leão. Em 1197, Isabella ficou viúva novamente e se casou com Almaric, irmão de Guy de Lusignan. Em vista deste fato somente o novo conde de Champagne, Thibaut III é que atendeu o chamado papal, em 1199, interessado em reaver os interesses no reino de Jerusalém deixado pelo irmão, mas quis o destino que falecesse em 1201, sendo então substituído na liderança da 4ª Cruzada pelo tio de Maria de Montferrat, o conde da região da Lombardia, Bonifácio de Montferrat, irmão de Conrad de Montferrat e de Renier de Montferrat, o qual fora cunhado do grande imperador bizantino Manuel I Comnenus.



Além de todas as ligações citadas, Bonifácio de Montferrat era também primo pela linha feminina de Filipe da Suábia, imperador romano-germânico desde 1196. Filipe, como outros imperadores antes dele, se casara com a filha do imperador bizantino Isaac II Angelus, que fora deposto e aprisionado pelo próprio irmão em 1195. O filho do imperador deposto, Alexius Angelus, conseguira escapar das garras do tio e fora se socorrer com o cunhado, Filipe da Suábia, através do qual teve um encontro com Bonifácio de Montferrat. Alexius Angelus fez enormes promessas ao líder da 4ª Cruzada, oferecendo como principal financiador da Cruzada o seu aliado Eurico Dandolo, dodge de Veneza. 

Bonifácio de Montferrat conseguiu o apoio do papa Inocêncio III, para auxiliar Alexius Ângelus a recuperar o trono bizantino, tendo em vista que este prometera que se fosse obtido sucesso na empreitada submeteria a Igreja Ortodoxa a Roma. Oficialmente fora informado ao papa que o ataque da Cruzada se daria às cidades de Trieste, Maglie e Zara, atendendo uma exigência do dodge de Veneza, que se tornara em verdade o virtual líder da Cruzada, e seguindo a Cruzada depois ao Egito, o que jamais veio a ocorrer. Em vez da ida ao Egito, em 1203, uma frota de navios venezianos, capazes de transportarem suprimentos, armamentos, homens e principalmente cavalos, navegou para Constantinopla, que foi conquistada em 1204. Bonifácio de Montferrat, assim que Isaac II Angelus faleceu, casou-se com sua viúva, Margareta, filha do rei Bela III da Hungria, o qual anteriormente fora casado com Agnes de Chantillon, sobrinha de Henrique I de Champagne, estando naquela época já casado com Margarida da França, irmã de Filipe Augusto. Bonifácio foi aclamado rei do novo Império Latino por seus cavaleiros, mas não permaneceu porque os venezianos consideraram que ele tinha excessivas ligações políticas, constituídas por sua rede de influência, a qual reunia poderosos bizantinos, germânicos e franceses, o que não deixava mesmo muito espaço para a supremacia da influência veneziana. Os venezianos assim colocaram em seu lugar Baldwin de Hainaut, posteriormente Conde de Flandres, casado com Maria, filha de Henrique I, Conde de Champagne e era também sobrinho de Filipe Augusto.Aléxis Ângelus ficou como imperador bizantino, e a Igreja Ortodoxa nunca se submeteu à Igreja de Roma. O Império Latino fez a fortuna de Veneza 1261, enquanto o Império do Oriente a ele sobreviveria por quase dois séculos.

Depois de perder o trono do Império Latino, Bonifácio de Montferrat fundou o Estado cruzado do reino da Tessalonica no território anteriormente ocupado pelos normandos, ficou também com a posse de Creta, que depois vendeu para os venezianos, acabou morto pelos búlgaros em 1207. Quanto aos cavaleiros teutônicos só se ouviu falar deles novamente em 1209, quando ascendeu como o grão mestre da Ordem, Hermann de Salza, cavaleiro nascido no Ducado da Saxônia, na região norte de Thuringia.

Em 1211 o rei Andrew II da Hungria, filho de Bella III pediu que Salza conduzisse as tropas teutônicas para lutar contra as tribos nômades cumans, de origem eslava que estavam invadindo o território húngaro, o que se constituía também uma ameaça ao Império Latino e logo à rede de influência constituída entre Jerusalém e Constantinopla pelos descendentes de Fulk V de Anjou. O sucesso na missão permitiu que os teutônicos estabelecessem o quartel-general na Hungria. O estreitamento da relação entre o grão mestre teutônico com o papa Gregório IX fez de Hermann de Salza o elemento de ligação do papado com imperador romano-germânico excomungado, Frederico II, esta posição permitiu que Salza promovesse junto ao imperador a idéia do seu vantajoso casamento com Yolanda de Jerusalém, e o levou a se engajar na 6ª Cruzada, na qual Frederico II negociou com sucesso Jerusalém com os mulçumanos. Por sua ação diplomática entre o papado e o imperador romano-germânico, Hermann de Salza lucrou o reconhecimento da Ordem dos Cavaleiros Teutônicos no mesmo grau de privilégios que as ordens dos templários e dos hospitalários, por bula papal em 1224.

A nova situação da ordem sob poder papal desagradou Andrew II da Hungria, e aos novos barões, elevados pela participação na 5ª Cruzada ao lado de Andrew II, que se sentiam ressentidos com a presença da Ordem, o que obrigou Hermann de Salza retirar os cavaleiros teutônicos da Hungria no ano de 1225. Todavia, logo foram chamados por Konrad I de Mazovia, Duque da Polônia, para subjugarem os prussianos, um povo pagão que ocupava a costa do mar Báltico, região ambicionada pela Polônia. Konrad, no ano de 1226, concedeu o território de Chelmno para os teutônicos ocuparem até que os prussianos fossem totalmente vencidos. No mesmo ano o imperador romano-germânico Frederico II concedeu ao seu mais novo príncipe imperial, Hermann de Salza, a Prússia Oriental, região que abrangia o Golfo de Riga, no mar Báltico. Em 1236, Hermann após ter reunido a ordem teutônica à Ordem dos Irmãos de Espada da Livonia, se retirou para a vida privada em Salerno, no reino da Sicília de Frederico II, vindo a morrer logo em seguida em 1239.

 A conquista da Prússia foi uma operação militar impiedosa que durou cinqüenta anos, mas quando os prussianos estavam finalmente convertidos, os teutônicos em vez de entregarem conforme o combinado o território ao ducado polonês, fundaram o Estado Teutônico. Então, seguiu-se um povoamento sistemático, com a promoção da imigração de colonos germânicos e holandeses. Em cem anos ocupariam o território da costa báltica que iria de Pomerânia, vizinha ao Ducado da Saxônia, à região de Novgorod. Entre 1280 e 1410 foram fundadas 93 cidades, 1400 aldeias e algumas dezenas de castelos, chamados Ordensburgen, foram construídos para proteção das fronteiras do Estado com a Lituânia e a Polônia, no século XX esses castelos foram usados para escolas da elite nazista de Adolf Hitler. Enfim, o Estado Teutônico deu a Lübeck, capital da Liga Hanse, o acesso ao comércio escandinavo e à Rússia. A Constantinopla e a criação do Império Latino deram aos venezianos o domínio sobre o comércio com o Oriente.

Após a conquista de Constantinopla (1204), o Império Bizantino foi dividido em três reinos, o de Nicéia, de Trebizonda e de Empirus. Alexius Angelus foi deposto e envenenado por um parente assim que foi feito imperador. O genro daquele tio que havia deposto seu pai, que se chamava Teodoro Lascaris proclamou-se imperador de Nicéia em 1206. Theodoro veio a se casar com Maria, filha de Yolanda de Flandres e Pedro de Courtenay, numa tentativa de estabelecer a paz entre o Império Latino e o Império de Nicéia, todavia Theodoro morreu no mesmo ano de 1222, sendo sucedido pelo genro João III Ducas Vatatzes, este ficando viúvo em 1235, e casou-se com Constance Anne, filha ilegítima de Frederico II com Bianca Lanzia, para estabelecer uma aliança com o Sacro Império Romano Germânico, mas a união não produziu filhos. Foi sucedido pelo filho do primeiro casamento Theodoro II Lascaris, que no ano de 1258, teve que lutar com o irmão de Constance Anne, o qual se casara em segundas núpcias com a filha do rei de Empirus. Falecido naquele mesmo ano, Theodoro II foi sucedido pelo seu filho João IV Lascaris, o qual tinha apenas oito anos de idade, e por isso o general Miguel Paleólogo se fez regente e se proclamou co-imperador de Nicéia no ano de 1259. Miguel Paleólogo se aliou com Genova, inimiga de Veneza, promovendo um assalto inesperado à Constantinopla, que resultou na tomada da cidade no ano de 1261, e a deposição do imperador latino Baldwin II.

Mal foi restaurada Constantinopla como capital do Império Bizantino, Miguel Paleólogo mandou cegar o jovem João IV Lascaris para o inabilitar ao trono e o encerrou num castelo na costa do mar de Marmara. Por esta atitude Miguel Paleólogo jamais foi bem-quisto pelos reis europeus, que isolaram Paleólogo e seus descendentes, os quais só conseguiram estabelecer alianças matrimonias com os reinos da Bulgária e da Sérvia.

O fim do Império Latino marcou também o inicio da queda do Império Bizantino, Apesar dos Paleólogos terem sido a mais longa dinastia bizantina, teve poucos homens de valor a sua frente para conduzir o império que se viu assim condenado a uma decadência sem mais fim. Um século depois de restaurado o império bizantino não possuía mais exércitos, nem marinha, nem finanças e nem mais unidade patriótica. O império era assolado pelas revoluções: guerras civis de pretendentes contra o governo, lutas violentas entre partidários e adversários da união da Igreja Ortodoxa com a Igreja de Roma, e revoluções nas quais venezianos e genoveses se rivalizavam no comércio e nos negócios atingindo a prosperidade econômica do império.

Os Paleólogos tinham ódio aos venezianos, por isso concederam à Genova maiores favores e privilégios do que em algum dia Veneza recebera do Império Bizantino, concedendo até possessões na costa da Ásia Menor e permitindo o estabelecimento de colônias genovesas no Mar Negro. Quando Miguel Paleólogo cedeu a entrada do Bósforo, ou Chifre de Ouro, à frente de Constantinopla, permitindo que fossem construídas não só uma sólida fortaleza, mas também um porto e uma colônia em Gálata, o prestigio dos genoveses dentro do Império chegou ao clímax. Mas colocar a raposa dentro do galinheiro realmente não é uma atitude sensata, a conseqüência da entrega progressiva de todo o comércio bizantino não apenas nas mãos de genoveses, mas de venezianos também, permitiu que os latinos se apoderassem não só das riquezas do império, mas das fontes que enriqueciam o tesouro imperial, porquanto todos os grandes negócios do império eram feitos por eles. Mas, se assim o foi como os historiadores narram, isto só aconteceu devido à fraqueza governamental dos imperadores Paleólogos e pela incapacidade deles de estabelecerem uma rede de influência que trouxesse benefícios maiores ao império.

Assim ao final do século XIII estavam criadas quatro zonas do mercado europeu: de Champagne e do Hanse ao norte e de Genova e de Veneza ao Sul. Estas zonas apesar de se interagirem, também eram causa de toda sorte de disputas de comerciais às políticas, dos comerciantes aos governantes. Por outro lado ficaram definidos dois eixos comerciais europeus: a da costa mediterrânea e da costa do mar Negro ao sul e o que reunia as costas do mar Norte, mar Báltico e oceano Atlântico ao norte. Esta nova ordem econômica originou novos instrumentos e instituições financeiras, as quais moveram o poder econômico antes retido nas mãos dos governantes para as mãos dos empreendedores e financistas, os quais exerceriam cada vez mais influência política e promoveriam ações sucessivas para a liberação da legislação comercial, a fim de atender as suas exigências para um progresso econômico continuo e lucrativo. A concorrência comercial entre os eixos configurou uma escalada capitalista, causa fundamental das sérias mudanças do contexto europeu nos próximos séculos, ao financiar um notável desenvolvimento tecnológico, que capacitou os europeus a se lançarem à conquista do desconhecidos territórios além mar.