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segunda-feira, 8 de outubro de 2012

XVII – UMA JORNADA RUMO AO DESCONHECIDO


A mitologia grega deu para a civilização Ocidental o seu mito mais forte: ZEUS (que significa em grego deus do céu, também dito Dia, Diós ou Dyeu que significa “brilhar do céu”).  Segundo os textos gregos ele foi o todo-poderoso da terceira geração dos deuses, filho de Crono e Réia teve sua vida salva por sua mãe com a ajuda da sua avó Gaia, a Terra Máter, que no passado desgostosa com o filho Cronos profetizara que ele seria derrubado do seu poder por um filho, o que levou o deus a devorar os filhos assim que nascessem. Réia estando prestes a dar à luz fugiu e escondeu-se numa caverna  e assim que Zeus nasceu, seguindo o conselho de Gaia, embrulhou uma pedra num manto e deu para Cronos comer, assim enganando o deus.

ZEUS – Dyeus Phater ("Pai do Céu")
Zeus cresceu longe dos olhos do pai e teve como seu primeiro amor a neta de Gaia, Métis, uma deusa descrita por Hesíodo como “aquela que sabe mais de todas as coisas do que os deuses e os homens”. Métis personificava a sabedoria, a habilidade e a astúcia. Ela tinha a capacidade de prever todos os acontecimentos e assim como a capacidade da metamorfose, podendo se transformar em qualquer coisa que quisesse de uma montanha a um mero inseto. E será Métis que irá ajudar Zeus a enfrentar o pai Cronos e destroná-lo. Após a vitória Zeus tomou Métis como sua esposa, contudo sua avó Gaia profetizou que Métis daria dois filhos para Zeus: Atena (ou Tritogenia) que seria igual a Zeus em força e sabedoria e o segundo seria o rei dos homens e dos deuses, seria mais poderoso que Zeus e eventualmente o destronaria.

Zeus tal como deuses e seres humanos também estava sujeito ao princípio de ordem natural, ou seja, o destino, que era personificado por Moira. Assim quando Métis ficou grávida, Zeus a fez se transformar numa mosca e a enguliu, para que ela não viesse a dar a luz. Atena cresceu dentro do ventre de Zeus, causou-lhe uma tremenda dor de cabeça e o deus foi obrigado a permitir que fosse libertada. Assim, a poderosa deusa Atena saiu da cabeça de Zeus já adulta. A profecia de Geia se cumprira, pois nem Zeus estava autorizado a transgredir o destino ditado por Moira, sem interferir na harmonia cósmica.

DEUS – também Dyeus Phater ("Pai do Céu") como Zeus!
Zeus foi sem dúvida o deus mais poderoso da Antiguidade, foi cognominado “pai dos deuses e dos homens”, foi chamado de Dyeus Phater (“Pai do Céu”) e Deus Supremo, justiceiro e protetor. Ele tinha como seus símbolos o raio, a águia, o touro e o carvalho, e a ele rendia-se culto por todo o mundo da Antiguidade. Quem poderia imaginar que um deus tão poderoso poderia vir um dia ser derrubado de seu trono? Pois foi, por um filho de Deus ou filho do Pai do Céu Todo-Poderoso!!! Assim, novamente, a profecia de Géia se cumpriu, mesmo que esta história não seja contada na mitologia grega, ela encontrou o seu lugar na realidade com a pessoa de Jesus de Nazaré, e por incrível que pareça foi exatamente os gregos a reconhecerem primeiramente que este homem desprovido de exércitos e armas poderosas, mas de inegualável sabedoria, era filho do “Todo Poderoso”, o qual teve a capacidade de simplesmente de não só destronar inteiramente Zeus de seu trono no Olímpos como também de derrotar todos os deuses e estabelecer firmemente o Reino de Deus nos Céus. Conclue-se assim que a semelhança gráfica entre o nome Zeus e Deus não foi uma mera coincidência, simplesmente refete um progresso nas relações entre o ser humano e o seu criador divino. 

Com o novo Reino dos Céus revelado por Jesus, o céu divino passou a estar ao alcance  de qualquer ser humano, situação bem diferente do Olímpos de Zeus, onde o ser humano não podia entrar. O novo reino de Deus seria estabelecido na terra em algum tempo futuro indeterminado e todo aquele que tivesse fé em Deus viria a poder entrar nele por ocasião desse dia. Assim, as pessoas passaram a se sentir mais próximas de seus Criador, do Deus que era o Pai deles. Essa proximidade gerou uma nova intimidade das pessoas com o mundo divino, todavia ela seria de estranhas influências na mentalidade humana e  transformaria a capacidade mental humana durante várias gerações da civilização Ocidental.

Em nome de Deus e de seu filho Jesus, honorificado com o título de “Cristo”, guerras sanguinárias seriam travadas, perseguições impiedosas seriam feitas e justificariam-se tremendas injustiças e atos pouco dignos de honra ou justiça. Assim,  ao aproximar-se quase mil e quinhentos anos do nascimento de Jesus, na pobre manjedoura na cidadezinha de Belém na Judéia, uma grandiosa revolução silenciosa começou a acontecer na medida em que a verdade começou a ser revelada, cumprindo a promessa que o próprio Jesus fizera: “Não temais, pois, porque nada há de escondido que não venha à luz, nada de secreto que não se venha a saber. O que vos digo na escuridão, dizei-o às claras. O que vos é dito ao ouvido, publicai-o de cima dos telhados.” (Mt. 10:26) ou “ Guardai-vos do fermento dos fariseus, que é a hipocresia. Porque não há nada oculto, que não venha a descobrir-se; e nada há escondido, que não venha a ser conhecido. Pois o que dissestes às escuras será dito à luz; e o que falastes ao ouvido, nos quartos, será publicado de cima dos telhados.” (Lc. 12;1-3) Jesus disse isso aos seus discípulos logo após ter censurado duramente os fariseus em seu discurso dizendo entre outras coisas: “Aí de vós escribas e fariseus hipócritas! Vós fechais aos homens o reino dos céus: vós mesmos não entrais e nem deixais que entrem os que querem entrar.” (Mt. 23:13) e “Ai de vós doutores da lei! Vós que  tomastes a chave da ciência , e vós mesmos não entrastes e impedistes aos que venham para entrar.” (Lc. 11:52). Como se pode constatar históricamente, na medida em que o cristianismo ganhava mais e mais poder no Ocidente, o clero detinha mais e mais poder também. Assim, não seria errado comparar o comportamento do clero cristão da Idade Média com o comportamento dos fariseus do tempo de Jesus. Comprovadamente o comportamento humano de restringir o conhecimento para garantir o poder de domínio sobre as massas estava se repetindo, fazendo grassar a ignorância para melhor governar e garantir a secularização do poder da Igreja Cristã sobre os vários reinos europeus. Contudo esta situação não se sustentaria por muito mais tempo e tal comportamento daria origem a eventos de grandiosa dramaticidade que levaria a Humanidade não só a uma jornada rumo ao desconhecido como a ponto de constestar a própria existência de Deus, a fé milenar depósitada em Jesus e toda a civilização erguida sobre os preceitos cristãos.

Da mesma maneira que Cronos fora suprimido de seu poder por Zeus e que Zeus fora  destituído de seu trono por Jesus, filho de Deus,  a nova intimidade na relação do ser humano com Deus, proporcionada pela figura de Jesus, viria a ter consequências paradoxais, pois, se de uma lado, os cristõas eram capazes de travar as maiores batalhas e vencer os maiores desafios em defesa do nome de Jesus, também, de outro, eles seriam capazes de combatê-lo no desejo implantar sobre a face da Terra o tão ambicionado e desejado “Reino dos Céus”, não esperando mais por seu estabelecimento por obra divina mas, através de seus próprios meios e segundo a própria concepção humana e não divina do que deveria ser um mundo perfeito.

Os cruzados liderados por Jesus na Evangelização
A partir do primeiro milênio da nossa era, a crença nos ensinamentos evangélicos de Jesus impulsionou os europeus ao início de uma “jornada rumo ao desconhecido”,  a fim de cumprir uma das profecias feitas por Jesus sobre o seu retorno, presente no Evangelho de Mateus, capítulo 24, versículo 14, onde está escrito: “Este Evangelho do reino será pregado pelo mundo inteiro para servir de testemunho a todas as nações, e então chegará o fim.”  O processo de evangelização sempre for a levado muito a sério pelas Igrejas Cristãs, além de naturalmente servir aos inúmeros interesses políticos e econômicos do renovado Império Romano sob a égide da religião cristã. Esse intuíto evangélico permeou as Cruzadas e principalmente o espírito da Ordem dos Templários, que teve em seu objetivo inicial a conquista da cidade de Jerusalém sob o domínio islâmico, um objetivo alcançado e perdido. Jerusalém seria pelos séculos seguintes o pomo da discórdia entre os cristãos europeus e os islâmicos, só a partir do século XIX a cidade também se tornaria alvo de disputa dos judeus, desejosos também de cumprir a profecia de Ísaias e outros profetas das escrituras sagradas do restabelecimento de uma nova Jerusalém.

Há que se recordar que até o exôdo judáico de 135 d.C. promovido pelo imperador romano Adriano, o cristianismo em si era uma dissenção da religião judáica e seus praticantes eram convertidos ao judaismo, logo considerados judeus também. Assim a perseguição romana foi infligida por séculos sobre judeus e cristãos, pois os romanos não faziam distinção entre eles. A expulsão dos judeus do território do antigo reino de Israel, na Palestina, fez com que se espalhassem num primeiro momento por todo território do Império Romano, mas passado o tempo o ato imperial de Adriano foi sendo esquecido e muitos judeus e cristãos retornaram à Palestina.

Quando a liberdade religiosa foi adotada no Império Romano em decadência e, posteriormente, Constantino proclamou o cristianismo como religião oficial do Império Romano, Jerusalém ganhou em decorrência um um renovado status como cidade santa, e só a partir desse momento a distinção entre judeus e cristãos começou a ser realmente feita, principalmente em razão do estabelecimento da teocrácia romana-cristã implantada como forma de governo imperial, que resultou no combate as chamadas heresías, decorrentes da ortodoxia judáica, a qual era questionada pelos romanos-cristãos. Portanto, é fato que muitos judeus e cristãos viviam na região da Palestina quando se deu a conquista árabe islâmica, e que a partir do século VII d.C. as três religiões conviveram juntas em Jerusalém, uma cidade santa para todas elas, já que os habitantes da região da Palestina constituiam-se de judeus, cristãos e islâmicos. Ignorar esse fato é perverter a narração histórica, por isso quando os cruzados entraram na Palestina seus combates se deram não só contra os islâmicos que lá viviam, mas também contra os judeus e cristãos habitantes da região e que também integraram as tropas árabes, do mesmo modo que também integraram as tropas otomanas (turco-islâmico), que causariam a queda de Constantinopla, em 1453.

As Astúrias e o Califado Omíada
Portanto, quando em 711 da nossa era, os islâmicos mouros vindos da Mauritânia (atual Marrocos) – ao norte da África, província romana conquistada pelos árabes em 683 – invadiram a Península Ibérica, derrotando a Roderico, último rei visigodo, trouxeram com eles também judeus e cristãos oriundos dos maiores centros comerciais como Alexandria e Tânger. A conquista islâmica se estendeu a praticamente a toda região ibérica com exceção do sítio diminuto das Astúrias, onde se estabeleceria uma forte resistência combativa aos invasores islâmicos do Califado Omíada. Das Astúrias, ao norte da atual Espanha, um movimento de reconquista teve início a patir de 900 d.C. que daria origem aos reinos de León e Navarra, depois em 1000 d.C. à formação do reino de  Castilha (ou Castela) e a do reino de Aragão em 1035 d.C., porém a campanha espanhola de expulsão mouros se fez sentir ainda mais potente a partir de 1085, as vésperas do início das Cruzadas (1095).

Após a conquista da Palestina e a tomada de Jerusalém pelos cruzados em 1099, o foco voltou-se para a expulsão dos islâmicos do território europeu, que durante os anos de domínio na Península Ibérica estabeleceram centros culturais de elevada importância, como o do Califado de Córdoba (929), de onde irradiou-se uma poderosa influência cultural por toda a Europa,  e acabou constituindo-se uma ameça ao poder romano-cristão vigente.

O condado portucalense foi fundado em 1093, integrante do reino da Galiza que tomara o nome em 910 de reino de León (Leão), e, em 1139, o conde de Portucale (Portugal) de nome Afonso Henrique de Borgonha foi aclamdo rei e com o consentimento papal Portucale passou a ser um reino independente e vassalo direto da Igreja de Roma (1179). A partir desse momento pode-se dizer que t iniciou-se o período histórico da Reconquista que terminaria em 1340, com a total expulsão dos islâmicos do território da Península Ibérica.

Reinos da Península Ibérica  – séc. XIV
No ano de 1279, subiu ao trono do Reino de Portugal e do Reino de Algarve com apenas 17 anos, Dom Dinis, filho de D. Afonso III de Portugal e da infanta Beatriz de Castela, vindo a desposar Isabel de Aragão. Dom Dinis governaria Portugal ao longo de 46 anos consolidando o reino como uma nação. Foi neste ano também que a vocação marítima portuguesa teve início com a primeira expedição em diração às Ilhas Canárias na costa africana. Dom Dinis contou com o apoio dos cavaleiros templários para concluir a Reconquista, definindo as fronteiras de Portugal no Tratado de Alcanizes. Em consequência da aliança com a Ordem dos Templários, D. Dinis promoveu a exploração de minas de cobre, prata, estanho e ferro, estabelecendo uma organização para a exportação da produção excedente para outros países europeus, mas na verdade beneficiou mais diretamente a Inglaterra, dando razão ao primeiro acordo comercial entre Portugal-Inglaterra assinado em 1308. Em seguida, em 1312, Dom Dinis fundou a Marinha Portuguesa, nomeando como 1º Almirante, o genovês Manuel Pessanha, ordenando a construção de docas e estaleiros para a construção de barcos. O início do tempo das Descobertas a partir de 1336, com as expedições para o reconhecimento dos aquipélagos das Canária, dos Açores e da Madeira no Oceano Atlântico, se daria durante o reinado de seu filho  Dom Afonso IV, o Bravo, que deu significativa contribuição ao desenvolvimento da marinha portuguesa, financiando a construção de uma marinha mercante, que garantiria o desenvolvimento econômico de Portugal.


Cruz Pátea da Ordem do Templo 
A narrativa histórica comumente interrompe-se neste ponto motivada pelo  peso de séculos de censura da Igreja Romana, responsável pela ocultação de fatos históricos indesejáveis e comprometedores. Ocorreu que em verdade os cavaleiros templários ajudaram os portugueses nas batalhas contra os islâmicos, recebendo como recompensa extensos domínios e poder político em Portugal.  Durante esse período de proteção dos templários castelos, igrejas e povoados portuguese tinham prosperado muito. Quando em 1309, o rei da França Felipe V, o Belo, e o papa francês Clemente V iniciaram a campanha para destruir a Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão, mais conhecida apenas como Ordem do Templo, Dom Dinis I de Portugal logrou primeiramente a “reserva” dos bens dos templários, tranferindo-os para a coroa portuguesa de 1309 a 1319, durante todo o processo de julgamento da ordem, rejeitando o monarca qualquer administrador papal. Assim, posteriormente Dom Dinis fez um pedido ao papa em 14/08/1318 para criar a Ordem de Nosso Senhor Jesus Cristo, ou simplesmente apenas a Ordem de Cristo, que se faria herdeira das propriedades e dos privilégios da Ordem do Templo. Em 14/03/1319, a bula papal de João XXII atendeu ao pedido do rei português D. Dinis. Tal processo versou mais de uma documentação oficial  para “refundar” a Ordem do Templo que o papado tinha condenado à extinção. Assim, naquele ano de 1319 os bens dos templários passaram intocáveis para a nova congregação, concedendo a excepção aos reis de Castela e Leão, Aragão e Portugal, que haviam se coligado para impedir a medida papal que ordenava de transferência dos bens templários para a Ordem dos Hospitalários –  Ordem de São João de Jerusalém­, posteriormente chamada Ordem de Malta a partir de 1530, quando foi estabelecida na ilha do mesmo nome pelo imperador do Sacro Império Romano-Germânico Carlos V, em 1530.

Cruz da Ordem de Cristo (portuguesa)
Assim tudo aparentemente mudou para permanecer o mesmo, com a Ordem dos Templários transvestida de novas roupagens, pois naturalmente não poderiam ser as mesmas dada a condenação papal. Quando ao final de maio de 1420, o infante Dom Henrique, o Navegador, foi nomeado dirigente da Ordem de Cristo, cargo que teve até o fim da vida, ordenou que a cruz pátea da ordem templária recebesse um novo design para ser asteada nos mastros dos navios portugueses para recordar que os recursos da Ordem de Cristo, titular do patrimônio dos templários, foram decisivos para o sucesso do empreendimento das navegações poruguesas.

Dom Henrique veio então a ficar entusiasmado com o desenvolvimento da navegação – embora ele mesmo nunca tivesse navegado–, e com o apoio do pai, o rei Dom João I, patrocinou a reunião de todas as fontes de conhecimento sobre o assunto e as sistematizou num compendio náutico. Tal trabalho teve sua sede na região de cabo de São Vicente, no Algarve, que passou a acolher estudiosos de todas as partes de dentro e fora da Europa fossem eles cristãos, islâmico ou judeus, todos interessados por navegação, mapas e construção de embarcações. Esse grupo de estudiosos passou a ganhar fama como a Escola de Sagres, vindo a destacar-se na importância pelo aperfeiçoamento de instrumentos de navegação como o astrolábio e a balestilha, que já eram usados pelos árabes, e na construção de embarcações chamadas caravelas. A Escola de Sagres não era uma entidade de fato, mas um braço da Ordem de Cristo que congregava os membros da Ordem dos Templários remanescentes que foram acolhidos por Portugal, que antes acolhera sob a sua proteção também judeus, islâmicos e outros intelectuais perseguidos pela inquisição da Igreja de Roma, sendo que entre eles encontravam-se cartógrafos e navegadores renomados.

Antes no século XIII, o rei Afonso X de Castela, tinha publicado o Livro do Saber da Astronomia, copilando os textos, assim como as Tabelas Afonsinas ­– que indicavam as posições de vários astros ao longo de um ano –, onde contou com o trabalho de sábios judeus e islâmicos sobre a astronômia. Porém, no início do século XV a técnica de navegação pouco diferia da usada na antiguidade, quando a navegação era feita bordejando a costa, utilizando o vento nas velas e os remos como força propulsora, cabendo ao piloto o bom uso de seus conhecimentos regionais das condições climáticas, maritímas e geográficas. As técnicas de navegação na primeira metade do século XV  eram ainda visuais baseadas em pontos conspícuos referência geográfica, o estudo dos ventos dominantes e as informações passadas de um piloto para outro de geração a geração, os quais permitiam traçar um rota rudimentar, estabelecendo roteiros, que deram origem à regimentos e aos mapas. As primeiras cartas náuticas indicavam rotas entre os portos e por isso foram chamada de portulanos. Só os vickings tinham se aventurado até então em navegações no mar aberto além do horizonte, com o uso de um aparelho de navegação baseado no no movimento do Sol, com um espécie de relógio solar que indicava a direção numa rudimentar navegação astronômica através da posição solar.

Mas, o desenvolvimento de novas instrumentações tecnológicos foi de grande contribuição para o progresso das navegações, entre estes instrumentos destacam-se a ampulheta,  criada por um monge francês no século VIII só teria a sua utilidade popularizada no século XIV, por volta de 1338; a bússula, que fora criada pelos chineses na metade do século XI e passou a ser usada para navegação marítima em 1117, vindo a ser adotada pelos navegadores persas em 1132, só introduzida entre os navegadores europeu pelos árabes a partir do século XIII; a balestilha criada pelos chineses no século XI para medidas astrônomicas; o quadrante náutico, que mede a altura do Sol e das estrelas e também o astrolábio que permite determinar a posição das estrelas, criado por volta de 1460. Mas, de nada valeria todos esses instrumentos se o uso dos preciosos conhecimentos do Liber Abaci (1202) – o livro de cáculos com números arábicos introduzido por Leonardo Fibonacci (1170 ­­ – 1250) mencionado em capítulo anterior – não tivesse se popularizado entre os europeus causando uma revolução no sistema de cáculos matemáticos dos europeus.

Portugal tinha uma localização privilegiada entre o Mar Mediterrâneo e o Oceano Atlântico, e sua costa era passagem para a navegação costeira que ligava a rota marítima desde o Oriente Médio até os países nórdicos, e  por isso era um ponto estratégico para o comércio maritímo. Com a ocupação islâmica na Península Ibérica, o condado de Portucale esteve ligado aos reinos gaélicos ao norte da Península Ibérica, desenvolvendo crescentes relações com as ilhas britânicas, principalmente com a Inglaterra. Por isso quando osocorreu a crise dinástica de 1383-1385 entre o reino de Portugal e o reino de Castilha,  o fundador da casa real inglesa de Lancastre,  o 1º duque de  Lancastre John de Gaunt deu apoio político e militar à João, Mestre de Avis, que veio a ser coroado rei de Portugal como João I e em consequência foi assinado o tratado de Windsor entre Portugal e Inglaterra, que estabeleceu a aliança entre os dois países em 1387, ano em que para celebrar o acordo Dom João I casou-se com a filha de John de Lancastre, Filipa, tendo como um dos seus filhos Dom Henrique, o navegador. Portanto, o reino de Portugal tinha na época do início do período das navegações uma posição em tudo privilegiada para reunir os conhecimentos regionais das experiências maritímas para estabelecer uma teoria geral e unificada sobre a navegação e tornar-se pioneiro das Grandes Navegações.

As navegações portuguesas inicialmente tiveram um objetivo de exploração cientifica, em busca de levantamento de informações metereológicas e oceanográficas que permitissem o regresso dos barcos da costa africana por zonas de ventos mais favoráveis.  Foi durante estas explorações que foram descobertos os arquipélagos das Canárias, da e  Madeira e dos Açores  e, também, o Mar dos Sargaços (ou da Baga) e a rota de regresso da África.  Tais viagens de exploração permitiram o conhecimento do regime dos ventos e correntes do Atlântico Norte, assim como a determinação da latitude por observações astronômicas a bordo, levando os portugueses a se aventurarem cada vez mais longe da costa.

A bússula que chegara ao Oriente Mádio através das caravanas comerciais da rota da seda, que comerciavam produtos vindos da Pérsia, Índia e China, foi um dos instrumentos tecnológicos que deu poder aos cavaleiros templários na época das Cruzadas e por eles foi introduzida junto aos seus aliados comerciais, tais como os navegadores genoveses e venezianos, que implementaram suas rotas comerciais maritímas fazendo travessias maiores, sem a necessidade mais de recorrer à ajuda de pontos de referências da costa terrestre, podendo seguir um rumo constante determinado pela bússula durente o dia e de usarem usarem o conhecimento astrônomico que possuiam para as navegações diurnas. Por sua vez os árabes introduziram técnicas de navegação com base nas estrela e principalmente no Sol, desenvolvendo cálculos mais complexos com o acréscimo da álgebra, conhecimento esse que como já visto foi introduzido na Europa por Fabonacci. Assim, quando os portugueses reuniram os conhecimentos de navegação todos juntos e os estudaram, não só ganharam no saber como também puderam formar um quebra-cabeça de informações maritímas, constituido de informações secretas dos pilotos garantidoras do sucesso dos negócios nas rotas comerciais maritímas, o que ofereceu uma visão muito mais ampla e profunda do assunto que contribuiu fundamentalmente para o  desenvolvimento português de novas tecnologias e e de projetos de engenharia para novas embarcações, tal como a caravela.

Réplica da caravela tipo "carraca" de Bartolomeu Dias
A caravela foi um desenvolvimento das antigas barcas portuguesas, seu nome advém do nome árabe carib das embarcações de porte médio e velas triangulares. A caravela era uma embarcação rápida com 25 metros de comprimento, 7 metros de largura e 3 metros de calado, semelhante a uma casca de nóz, tinha 2 ou 3 mastros e velas latinas (triangulares). O barco podia levar uma tripulação com pouco mais de 20 homens e deslocava 50 toneladas, e caracterizava-se por ser uma embarcação rápida e de fácil manobra, podendo zigue-zaguear (bolinar), mas com ventos calmos ela não era de muita vantagem e mostrava-se lenta. Por esse motivo, a caravela também sofreu logo um desenvolvimento em sua engenharia náutica e deu lugar à carraca (ou nau), com um porte bem maior com cabines de proa e popa (castelos), dois ou, três ou quatro mastros, com duas ou três ordens de velas sobrepostas, as carracas eram assim imponentes e possuiam um design mais arredondado. A nova embarcação, a carraca, visava atender a necessidade do aumento da capacidade de transporte de abastecimento, mercadorias, marinheiros, armamento e soldados. E foi numa carraca que Bartolomeu Dias dobrou o Cabo da Boa Esperança , ao sul do continente africano, em 1488, que Critovão Colombo com patrocínio do governo do reino espanhol cruzou o Ocaeno Atlântico e chegou à América, em 1949, e que Pedro Álvares Cabral chegou ao Brasil, em 1500, por conta de ter-se perdido da armada portuguesa que empreendia viagem às Índias e tomado a direção errada.
Caravela portuguesa tipo "Nau"
As carracas posteriormente evoluiram em sua engenharia náutica e passaram a ser naus e no século XVI tinham tonelagem não inferior a 500. Segundo o Padre Fernando de Oliveira, em sua obra Livro da Fábrica de Naus, em meados daquele século a capacidade de tonelagem das naus era crescente chegando a ter 600 toneladas no apogeou da rota para a Índia. No século XVI a Espanha concorrente de Portugal nas navegações deu às naus um novo aperfeiçoamento e surgiu o galeão, com quatro mastros de alto bordo e de alto desempenho na navegação oceânica, com 1200 tonelagem e tendo 40 escotilhas para as bocas de canhões, com grande capacidade para o transporte de carga. Novamente, pode-se dizer que o desenvolvimento da engenharia e da tecnologia náutica só foi possível pelo uso do livro de cálculos arábicos de Fabonacci.
Se de um lado nós podemos compreender como se deu o desenvolvimento tecnológico que permitiu a era das Grandes Navegações e levou os europeus a se aventurarem em viagens rumo ao desconhecido, por outro fica difícil nós compreendermos a informação histórica de que havia falta de conhecimento dos navegadores europeus e que eram tomados por temores imaginativos da época quanto a navegação além-mar, os quais levavam a crer que os mares podiam ser habitados por monstros e que sendo a Terra um plano horizontal ao chegar-se ao seu fim a embarcação poderia cair num abismo. Tais narrativas históricas só podem ser consideradas inverídicas e dadas como verdadeiras apenas para atender os interesses da Igreja de Roma, a qual veio a patrocinar as navegações espanholas com o intuito de desbancar o empreendimento portugês.
GALÁXIA CENTRAL
No ano de 1497, em Bolonha, Itália, foi registrado por Domenico Maria Novara de Ferrara que Copérnico (1473 – 1543) fez as suas primeiras observações contrariando a teoria geocentrista de Ptolomeu (90 -168), de que o Sol girava em torno da Terra e que, sim, a Terra girava em torno do Sol. Portanto, é bem possível que esta observação não tenha sido só dele. Galileu Galilei (1564 – 1642) acrescentaria ao sistema heliocentrista de Copérnico que começara a ser divulgado a partir de 1537, a dedução de que a Terra era esférica e não plana. O que possivelmente também já fora observado por alguém mais, mas mantido em segredo, afinal uma informação pode valer fortunas para quem sabe o que fazer com ela, e no caso tudo leva a crer que os portugueses já tinham essas informações, pois ninguém vai investir toda uma fortuna num projeto ilusório e que resulte num prejuízo descomunal. É certo que os portugueses sabiam o que estavam fazendo do mesmo modo que os aventureiros contemporâneos norte-americanos também o sabiam, quando empreenderam suas expedições à Lua, e finalmente a conquistaram, quando o astronauta Neil Amstrong (1930 ­– 2012) foi o primeiro homem a pisar no satélite terrestre em 20 de julho de 1969!
Portanto, o início das Grandes Navegações marcaram o príncipio de uma jornada humana rumo ao desconhecido, levando a conquistar mares e oceanos,  continentes, conquistar aos céus tão ambicionados e, é certo, essa  jornada não terá fim até que o ser humano conquiste para si todo o Universo e consiga chegar e ficar frente a frente ao seu criador, DEUS.
O "OLHO DE DEUS" – Foto tirada pala NASA (EUA) com o telescópio Hubble da Galáxia Central. Este tipo de acontecimento dá-se uma vez a cada 3.000 anos!!!