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sexta-feira, 24 de março de 2023

XX - O SER HUMANO PLANEJA O FUTURO, MAS É DEUS QUEM DECIDE.

        A esta altura, quando eu chego ao último capítulo desta obra, eu escrevo para quem com ela aprendeu um pouco de conhecimento histórico, adquirido uma imaginação especial capaz de compreender a trajetória humana na criação de sua civilização e, também, que seja capaz de ver a grandiosidade de toda a sua construção e não se atenha apenas aos detalhes. Ninguém espere que eu apresente uma bibliografia e referências de quais obras foram utilizadas por mim para sustentar o que escrevi nesta obra e menos ainda neste derradeiro capitulo. Eu diria aos interessados em bibliografias que leiam muito como eu leio, leiam de tudo e se possível até consultem a biblioteca do Vaticano, agora disponível online na Internet. Durante os doze anos em que escrevi “DEUS? SOU EU! - OS TECELÕES” muita coisa mudou no mundo e. verdadeiramente, o mundo não é mais como antes. Eu me considero uma observadora, mais do que escritora e jornalista, a mim importa relatar o fenômeno do processo civilizatório humano, eu não me arrogo em ser uma historiadora, ao meu ver o britânico Arnold Joseph Toynbee (Londres, 1889 - 1975) se consagrou com sua obra magna “UM ESTUDO DE HISTÓRIA” ( A STUDY OF HISTORY) com seus 12 volumes sobre o nascimento, crescimento e queda das civilizações com foco global. Toynbee foi o maior historiador do século XX e não surgiu, ainda, ninguém para substituí-lo. Assim como Toynbee, eu também observo que existe um ciclo em que as Nações vivem seu próprio ciclo temporal de vida com um processo civilizatório com uma cultura característica que dura entre 500 a 600 anos, pode-se dizer que até elas estão sujeitas à morte. 

         No ultimo capitulo, “XIX - JACOB FUGGER E O GLAMOUR DOS HABSBURGO”, eu ali narrei como o primeiro grande banqueiro europeu de origem germânica e da classe burguesa em ascensão consolidou sua posição de homem mais rico do mundo ocidental com apoio da Igreja de Roma e da família imperial Habsburg do Sacro Império Romano Germânico, durante os séculos XVI e XVII. Mas, a partir daquele ponto de apogeu, o desmonte do poder dos Habsburg estará sempre no centro de todas as questões européias e será alvo de ataques de seus inimigos implacáveis. Para quem queira adquirir um conhecimento mais acurado e profundo eu aconselho a leitura da obra inigualável do escritor e jornalista francês Jean Des Cars (Paris, 1943 - , idade 75 anos) “LA SAGA DES HABSBOURG”, em francês, publicado em 2010, revisada em 2013, não tendo versão para o português, apenas para o espanhol. Doravante farei pois um breve resumo histórico e sua análise do período que vai de 1519 até os dias deste ano de 2023, numa viagem temporal de 504 anos. 

         No interim destes últimos doze anos, a Inteligência Artificial (IA) com seus aplicativos como o Bing da Microsoft ou o ChatGPT já leu todos os capítulos desta obra, processou e guardou devidamente na memória e sem me pagar um tostão pelo conteúdo criado aqui e disponibilizado gratuitamente por mim para humanos, mas com uma atitude inconvencional serão as “coisas” (os bots) exatamente que tirarão melhor proveito do conhecimento contido nestes escritos e provavelmente venham a usar dele para escrever textos para as futuras gerações humanas de analfabetos e ignorantes funcionais, dependentes do conhecimento da Inteligência Artificial (IA). Espantoso! Mas, tem uma coisa que a IA não possui, algo que um ser humano pode ter em abundância: IMAGINAÇÃO. Essa capacidade criativa de planejar o que é inexistente ainda, mas que possui a semente do existir em um futuro. 

         Então, eu convido a você leitor a usar a sua imaginação como ferramenta imprescindível nesta viagem que faremos juntos. Para começar imagine a Terra, com seus continentes divididos em campos civilizatórios. No Extremo Oriente, a mãe Ásia, com suas culturas exóticas os povos orientais chineses, japoneses, tailandeses e outros adeptos de uma mistura de filosofias e influenciados por religiões antigas oriundas da Índia e misturadas com uma crença abraâmica de origem árabe em ascensão vinda do Oriente Médio, que se dará com várias tribos de origem mongol invadindo o Oriente Médio, formando o maior império do mundo, o Império Otomano, que conquistará todo o território do Oriente Médio e do Norte da África que antes fora parte do Império Romano, o qual ao ter-se transformado em um Estado Teocrático Cristão passa a dominar a Europa e perde seus territórios do Extremo Oriente para o Estado Teocrático Islâmico do Império Otomano. Por sua vez, o Continente Africano passa a ser de interesse dos europeus em razão do fornecimento de mão de obra escrava, sendo que a escravidão, que hoje nos parece tão desumana, fazia parte dos costume civilizatório ainda no século XVI, um costume da exploração do ser humano por seu semelhante. O Império Romano se transfigurará, mas manterá antigos costumes quando for conveniente atravessando os séculos e chegando, quem diria, ao século XXI, sob a égide da Igreja Católica Apostólica Romana. E, por fim, pode-se ver as Américas, e os territórios do Pacífico, as novas terras descobertas pelos navegadores latinos, com suas populações ameríndias e nativas, com padrões bem diferentes de civilizações, que fizeram os filhos da civilização romana européia se questionarem a respeito do mundo que os cercava. 

        O avanço tecnológico das navegações deu uma nova visão do mundo para todos os grupos humanos do Oriente ao Ocidente. Um segundo ponto de suma importância foi o recrudescimento bélico com o surgimento das armas de fogo capazes de matar a distancia, isso deu às guerras uma nova dinâmica mortal, em pouco tempo o mundo todo se tornaria um imenso campo de batalha com o advento das Revoluções Burguesas. Os séculos XVI e XVII são marcados pelo processo de destruição do domínio da Teocracia Romana Cristã, tendo seu começo com a primeira revolução promovida pela burguesia contra a nobreza a quem era subalterna e seu ponto de fricção inicial foi justamente no Sacro Império Romanos dos Habsburgo, onde o clérigo Martinho Lutero, filho de burgueses alemães, então frade agostiniano, se rebelou em 1517 contra o comércio de indulgencias patrocinado por ninguém mais que o banqueiro Jacob Fugger. Desta questão emergiu o protestantismo com variados líderes da burguesia européia ateando fogo não só contra o poder de Roma como contra as monarquias católicas européias estabelecidas. Não faltarão neste período histórias sórdidas de lutas pelo poder, permeadas de extrema crueldade e sanguinolência, A segunda Revolução Burguesa veio com o avanço cientifico, uma fase chamada “iluminismo’”, que foi descrita anteriormente nesta obra no tempo das “sociedades secretas” dos iluminatis e dos maçons. Um tempo em que se defendeu o conhecimento cientifico e a racionalidade humana acima da religiosidade e da ordem politica estabelecida pela Teocracia Romana Cristã. 

        O ponto nevrálgico desta revolução burguesa aconteceu na França, então unida ao poder dos Habsburgo através do casamento de Luiz XVI da França (1754 - 1793) com Maria Antonieta Lorena-Habsburgo, Arquiduquesa da Áustria (1755 - 1793). A revolução popular contra o poder central francês tinha como objetivo não só destruir a monarquia francesa, mas sobretudo atingir o poder dos Habsburgo e os colocar de joelhos. Durante um período de luta sem trégua contra o poder da família Habsburgo, até o grande líder da burguesia francesa, o então, Imperador Napoleão Bonaparte (1769 - 1821), foi tocado pelo sedutor brilho dos Habsburgo e foi casado de 1810 a 1821 com Maria Luísa da Áustria, chegando a ter um filho com a princesa Habsburgo, Napoleão II da França (1811 - 1832), que veio a falecer na juventude. Na França muito sangue ainda seria derramado até que a República fosse implantada de maneira definitiva a partir de 1870, seguindo os moldes democráticos defendidos pelo novo Estado dos Estados Unidos da América, que apesar da conquista da independência do domínio britânico em 1776, enfrentara uma guerra civil, a Guerra da Secessão, de 1861 a 1865, tendo como centro da disputa a questão escravagista, e com a vitória dos yankees, combatentes dos estados industrializados do norte, a escravidão foi abolida em todo os Estados Unidos da América, o que levou a supressão da escravatura primeiro nas Américas e depois nas colônias européias. 

         Enquanto o mundo europeu se dedicava a sucessivas batalhas por conquista territorial para atender o sistema econômico mercantilista, em Viena, na Áustria, que tornara-se o coração do Império Habsburgo, acontecia uma grande empolgação com o surgimento de grandes orquestras com instrumentos de sopro, cordas e de percussão, A música saiu de seu berço nas igrejas e catedrais e ganhou os palcos dos novos teatros com óperas e sinfonias, assim como os salões com bailes palacianos ou não, tornando-se cada vez mais popularizada motivando danças como marcha, polca e principalmente a sedutora valsa, considerada de inicio uma dança obscena. Pode ser incompreensível, que ao mesmo tempo que se fizesse tanta guerra do outro lado ocorresse tanta diversão e esse fenômeno parecesse revigorar a imaginação humana com tanta expressão artística como nunca antes visto. Nos rodopios das valsas e das esperanças imaginativas da Belle Époque, o mundo também rodopiava enlouquecidamente. Do avanço cientifico ao inicio de uma nova revolução burguesa, que emerge na Inglaterra trazida pela Revolução Industrial que despontara em 1760 e atinge seu primeiro estágio de maturidade em 1840, promovendo revoluções constantes a cada nova invenção tecnológica introduzida no sistema de produção industrial. A industrialização do sistema produtivo trouxe um novo conceito de escravatura para uso de mão de obra barata, pois na produção em série em linhas de fabricação de mercadorias nas plantas das fábricas, as pessoas faziam trabalhos manuais repetitivos por longos períodos, para atender a produção em grande escala destinada a um número cada vez maior de consumidores. Por sua vez, os empreendedores, os empresários industriais, usavam para tanto o capital de investidores como empréstimos bancários. Então o mundo foi transformado com o primórdio do tempo das máquinas. Com a crescente industrialização originaram-se novas classes sociais como; capitalistas, produtores, empreendedores, comerciantes, consumidores todas estas constituíam juntas uma nova classe burguesa, que tinha uma aristocracia burguesa quase tão nobre quando os nobres de outrora que quiseram varrer da face da terra. Em oposição a esta alta burguesia surgiu a classe do proletariado, constituída de pessoas responsáveis pela fabricação das mercadorias. Fato é, que na primeira década do século XX, para grande parte da humanidade as mudanças foram atordoantes, a ponto de não conseguir acompanhar os acontecimentos e era apenas o inicio da grandiosa revolução civilizatória que se anunciava, maiores mudanças ainda estariam por vir. 

         Assim, no inicio do século XX o estado de ebulição das politicas imperialistas em suas disputas territoriais e pelo comercio mercantilista mundial colocou em confronto o Império Alemão, o Império Austro-Húngaro dos Habsburgo, o Império Otomano, o Império Britânico, a República Francesa e a Itália. Os europeus pareciam estar embriagados de absinto e perdido a sanidade com tantos rodopios. Então, quando a 28 de junho de 1914 foi assassinado o Arquiduque da Áustria, Francisco Fernando, então herdeiro presuntivo e sobrinho do imperador Austro-Húngaro Francisco José I ( casa Habsburgo-Lorena) o infortúnio foi a desculpa mais que razoável para os Estados Mercantilistas se engalfinharem espalhando o conflito através de suas colônias para todo o mundo, desconsiderando as disputas bélicas apenas nos campos de batalha, de modo que as populações civis passaram a sofrer diretamente os efeitos da guerra. Em 11 de novembro de 1918, mais tarde conhecido como Dia do Armistício, ocorreu a capitulação e os Impérios Alemão, Russo, Austro-Húngaro e Otomano deixaram de existir, e o mapa da Europa, da África e do Oriente Médio foi redesenhado. O imperador Austro-Húngaro Francisco José I, veio a falecer em 1916, e foi sucedido por seu sobrinho-neto Carlos (1887 -1922), que apesar de seu perfil humanista, democrático e pacifista, acabou por sofrer forte perseguição politica patrocinada pela França que queria banir todo ou qualquer vestígio do imperialismo monarquista da face da terra, de modo que o Parlamento Austríaco aprovou a “Lei Habsburgo”, que formalmente destronou a casa imperial Habsburgo-Lorena da Áustria e baniu seus membros do país. Carlos I foi então proibido de pisar na Áustria novamente. Carlos era casado com Zita de Parma com quem teve oito filhos, o ex-imperador levou sua família para a Suíça, e depois tentou recuperar o trono húngaro sem sucesso, foi exilado com a família na Ilha da Madeira em Portugal, onde veio a falecer de pneumonia em 1922. Carlos de Habsburgo-Lorena foi beatificado pelo papa João Paulo II, em 3 de outubro de 2004, sendo este o fim melancólico da mais poderosa família real da Europa, que tinha alcançado o poder do Reino da Germânia em 1438 vindo a dominar o cenário politico europeu e suas colônias por 484 anos e com a beatificação de Carlos a proeminência fez-se reconhecida por 566, ao menos pela Igreja Católica Apostólica Romana. 

         Mal terminou a que foi chamado pelos historiadores de Primeira Guerra Mundial, a filosofia do alemão Karl Marx (1818, Tréveris, Alemanha - 1883, Londres, Reino Unido) elaborada no século anterior enquanto residia em Londres, caiu no gosto dos intelectuais burgueses de vanguarda e espalhou-se como um rastilho de pólvora pela Europa, alcançando a grandiosa Russia, um país agrícola que nem indústria tinha ainda, mas que o povo se encontrava em grande penúria e fome, de modo que a idéia de divisão de riqueza produzida pelo Estado entre o seu povo organizado em comunas proletárias, acompanhada da destituição da hierarquia monárquica russa foram atrativos mais que suficientes para que a burguesia russa promovesse uma revolução sangrenta para implantar o novo sistema politico-econômico idealizado por Marx, o Comunismo, com um Estado liberto das tradições religiosas, inteiramente laico e proletário, nascendo o novo país: o Estado da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), ou somente União Soviética a partir de 1917, institucionalizada oficialmente em 1922, e que permaneceu intocável até 1991. 

         O estabelecimento de uma nova ordem mundial, imaginada por filósofos e pensadores da época, parecia ser mais fácil com a estratégia de terra arrasada dos Estados, que se espalhou pelo mundo afora. Imaginava-se uma super civilização, com homens superiores, uma raça superior, que pudesse comandar o mundo todo, únicos capazes de por um fim no caos que se estabelecera. Não foi de admirar que pululassem ditadores em várias partes do mundo. Contudo, o processo capitalista sofreria sua primeira crise nos Estados Unidos da América, e a recessão começou a fazer suas vitimas entre os poderosos. Desde a Revolução Francesa os banqueiros burgueses ganhavam cada vez mais poder, tal como a família de judeus alemães Rothschild, (significado “escudo vermelho”) que ganhou imensa proeminência no século XiX e continuou amealhando grandes negócios mundialmente, se mantendo desde 1744 até os dias atuais, ou seja por 279 anos, como uma das principais lideranças no setor bancário e econômico mundial. Na esteira dos Rothschild, surgiram os novos banqueiros do tempo da industrialização norte-americana como J.P. Morgan, Marcus Goldman, Samuel Sachs e outros, que institucionalizaram o sistema bancário mundial estabelecendo-o como um novo poder que poderia até ser mais forte que os Estados que tinham como seus clientes. Esta geração de banqueiros foi a financiadora dos planos de uma nova ordem mundial. Mas, o novo sistema produtivo de industrialização prometia solavancos na estrada para o cobiçado progresso. Foi assim que aconteceu a crise a capitalista, a primeira de era industrial, em 1929, com a quebra da bolsa de Nova York, que levou o mundo ocidental a experimentar uma severa recessão. Mas, a aventura capitalista não morreria e, ao contrário, avançaria ainda mais. Marx poderia rir em outro mundo, mas só por algum tempo. 

         Se Marx foi um notável “influencer”, que se inspirou nas músicas retumbantes de Ludwig van Beethoven (1770, Bonn, Alemanha - 1.827, Viena, Áustria) e de Wilhelm Richard Wagner (1813 , Lipsia, Alemanha - 1883 - Veneza, Itália) que impactariam profundamente o século XX, outro grandioso “influencer” foi Friedrich Wilhelm Nietzche (1844, Lützen, Alemanha - 1900, Weimar, Alemanha), que tinha uma rivalidade apaixonada com Wagner, de modo que é possível observar nas obras de ambos o modo que um influenciava o outro. Nietzche é considerado o pensador do ateísmo, apesar de sua origem cristã protestante, escreveu sobre “a Morte de Deus”, vontade de Poder, Eterno Retorno e Super-Homem, entre outras idéias instigantes para sua época. Sua obra “Assim falou Zaratustra” virou uma espécie de Bíblia do pensamento do séculos XX, que coloca o ser humano no centro do existencialismo, como o único Senhor de seu destino, e destronando Deus de seu poder de predestinação. Após uma desilusão amorosa em 1882, já vivendo em Veneza, Nietzche começou a escrever a sua obra magna, mas ao término de “Assim falou Zaratustra”, publicada no mesmo ano de 1883, ele foi tomado de uma obsessão que o levava a escrever num ritmo crescente, o que ocasionou uma crise mental depressiva. Foi neste estado delicado, que em 3 de janeiro de 1889, ao testemunhar o açoitamento de um cavalo na Piazza Carlo Alberto em Veneza, ele saiu em corrida desabalada em direção ao pobre animal e enlaçando o seu pescoço na vã tentativa de o proteger de seu martírio. Sua emoção foi tão violenta que ele caiu ao chão e teve um colapso mental, que causaria sua morte pouco depois. Pode-se dizer que o excesso de pensamentos enlouqueceu Nietzche, e este parece ser um mal dos gênios, o mesmo aconteceu até com Nikola Tesla (1856, Smiiljan, Império Austríaco - 1943, Nova Iorque, Estados Unidos), o engenheiro fisico que lançou as bases do que viria ser o maior avanço do industrialismo do século XX, a ponto de ser voz corrente que nada do que conhecemos hoje de mecanismos computadorizados, sistemas elétricos e de radiotransmissão seria possível sem o conhecimento fundamental de Tesla, dando a ele o principal lugar no panteão de honra dos inventores de grande imaginação que transformaram a civilização nos últimos cem anos. 

         No preludio histórico da atual era industrializada observa-se o domínio humano sobre as coisas que sua imaginação criava, é o tempo dos grandes inventores, e penso que o uso da borracha como ferramenta para apagar escritos à lápis em papel, descoberto em 1770, pelo engenheiro inglês Edward Nairne (1726 - 1806) foi apenas o inicio de uma mudança, quando em 1839, Charles Goodyear (1800 - 1860) um químico e engenheiro manufaturista autodidata, descobriu o processo de vulcanização da borracha , a tornando durável, as borrachas se tornaram uma ferramenta comum. Em 1858, Hymen Lipmen de Filadelfia, EUA, (1817 -1893) fez a primeira patente de um lápis com uma borracha anexada em seu topo, possivelmente esse negociante de materiais de escritório não fazia idéia que seria o causador da maior revolução no processo do pensamento humano, facilitando os cálculos matemáticos, da fisico e da engenharia, assim como nos desenhos de projetos para novas invenções, e mesmo nos estudos de química, biologia e nos processos de pesquisas para a produção de farmacêuticos e avanço do conhecimento médico e cientifico, o que levou a Humanidade dar um espetacular salto de conhecimento cientifico e tecnológico nunca antes visto na história da civilização humana. A facilidade para apagar os erros e os corrigir seria a varinha de condão na forma de um lápis com borracha, porém, na vida propriamente dita, após uma ação realizada esta não pode ser apagada, só o rascunho dos planos que fazemos para ela podem ser. Infelizmente a natureza imediatista humana não é muito afeita a fazer planos exatos e erros sempre acontecem, muitas vezes resultando em imensos desastres. Todavia, ao meu ver, considero a borracha uma invenção fundamental para o sucesso de grandes visionários e mentes brilhantes como Tesla. 

         Foi graças ao bom uso da borracha que a industrialização ganhou novas máquinas na locomoção; como trens, carros, caminhões, tratores, bicicletas e aviões e na comunicação; como telégrafo, telefone, gramofone e rádio. E a descoberta do uso da eletricidade pelo empresário e inventor autodidata norte-americano Thomas Edison (1847 -1931), que em acirrada disputa com Nicolas Tesla, não só descobriu como armazenar energia criando a primeira usina de geração de energia elétrica em Pearl Street como a colocou para funcionar em 1882, para acender as suas lâmpadas elétricas, fadadas a iluminar o mundo todo e acabar com o reino sombrio das noites dos lampiões, de lua e estrelas. Em 4 de setembro de 1882, a Edison Electric Iluminating Company, fundada por Thomas Edison ligou pela primeira vez lâmpadas elétricas em uma via pública, a Wall Street, já famosa na época como centro financeiro de Nova York, nos EUA, iniciando o processo da eletrificação mundial. Passados 140 anos completos em 2022, o mundo não só ficou lindamente iluminado em suas noites, como inteiramente dependente da eletricidade, a ponto da maioria da população mundial nem saber mais como viver sem ela, e a perspectiva da falta de eletricidade passou a ser o tema mais recorrente e aterrorizante das obras apocaipticas de ficção cientifica.
        Apesar da crise de 1929 em Nova York, o avanço tecnológico não parou, ao contrário ele avançava ainda mais. As máquinas sempre exigiam aprimoramentos e sempre eram renovadas. O uso do petróleo era imprescindível para os veículos de locomoção e para as industrias. Com o desmantelamento do Império Otomano os Europeus tiveram acesso a territórios até então desconhecidos, descobrindo que no Oriente Médio debaixo da extrema aridez do solo, não só existiam tesouros arqueológicos inestimáveis que explicavam a história do passado humano, como também era a maior reserva de petróleo do mundo. 

         A esta altura creio que já apresentei todos os elementos para justificar o que vai acontecer com a aproximação da segunda metade do século XX. Com o fim da Primeira Guerra Mundial e a ascensão da União Soviética, não apenas os impérios mencionados anteriormente foram dissolvidos em 1922. Gradualmente, “o Império onde o sol nunca se põe”, como foi chamado o Império Britânico no apogeu da era vitoriana, também começou a se esfacelar, com suas colônias clamando por independência. A primeira vez que se falou o termo de “Comunidade Britânica das Nações” ocorreu em 1917. Foi na Declaração de Balfour na Conferência Imperial de 1926, que a Grã-Bretanha e seus domínios concordaram “em ser iguais em status”, estabelecendo que ninguém estava sujeito a subordinação em seus assuntos internos e externos, embora unidos pela fidelidade comum à Coroa, e eram livres associados como membros da Comunidade Britânica das Nações. A formalização se deu com o Estatuto de Westminster em 1931 e a nova instituição foi oficializada a partir de 1946, quando passou a chamar-se Comunidade Britânica (British Commonwealth), fazendo desaparecer o conceito de “Império Britânico”, sendo esta mudança de titularidade uma formalização de uma perda de poder politico mundial para o Reino Unido. 

         Por outro lado, a Alemanha que saíra da Primeira Guerra Mundial numa situação vexatória e humilhante em razão das fortes imposições do Tratado de Versalhes (1919), que determinou a perda não só de 13% do território alemão mas como de todas suas colônias ultramarinas, proibindo o Estado Alemão de anexar outros Estados e a pagar altas indenizações, além de sofrer limitações quanto a capacidade das suas forças armadas, daria mostras da capacidade de resiliência do povo alemão e de sua ferocidade que faria tremer o mundo todo, não apenas a Europa. De modo geral as perdas sofridas com a Primeira Guerra Mundial despertaram um nacionalismo irredentista e revanchista em vários países europeus, apesar de um claudicante movimento pacifista que não alcançou nenhum sucesso. Ao contrário, parece que estimulou ainda mais idéias de recuperar a grandiosidade “imperial” perdida. Como foi o caso na Itália, que chorava saudoso pelos dias de glória do Sacro Império Romano-Germânico, dissolvido em 1806. Assim em 1922 o movimento fascista italiano nascia liderado por Benito Mussolini (1883 - 1945), que tomou o poder com uma forte campanha politica de comunicação de cunho nacionalista, totalitária e de colaboração de classes patronal, proletária e campesina. 

        Em 1925, Mussolini aboliu a democracia representativa vigente dando um golpe de Estado, reprimiu os socialistas e comunistas entusiasmados com a União Soviética, e inclusive as forças liberais, e implantou uma politica externa agressiva com o intuito de forjar através do uso da força, a Itália como uma potência mundial - um “Novo Império Romano”. De onde Mussolini tirou suas idéias? Em 1902, Mussolini imigrou para a Suíça, para evitar o serviço militar. Trabalhou por um tempo em Genebra como pedreiro, e aprendeu na prática um pouco de francês e alemão. Durante esse tempo ele estudou as idéias do filosofo Friedrich Nietzsche “et voilà” iniciou seu caminho de revolucionário, de cristão se tornou ateu num piscar de olhos, Ele desafiou Deus para provar a sua existência e considerou Jesus como ignorante e louco, afirmando que a religião era uma forma de doença mental que merecia tratamento psiquiátrico e acusou o cristianismo de promover resignação e covardia. Então para divulgar suas próprias idéias publicou seu primeiro livro, um tratado ateísta com o título “Homem e Divindade: Deus Não Existe”, publicado em 1904, em Lausanne, na Suíça, no qual proclamava: “Fiel, o Anticristo nasceu”. 

         O jovem Benito evoluiria e chegaria a se tornar um intelectual, com idéias consolidadas e com uma cultura acima do normal, e mais do que tudo se tornou um excelente orador, de fazer inveja ao próprio Cicero, se isso fosse possível. Escritor de mão cheia produziu artigos para jornais e discursos inigualáveis para propagar suas idéias, era um gênio nato de comunicação. Flertou com o socialismo, mas em dezembro de 1914 ele denunciou o marxismo ortodoxo que surgira após a morte de Karl Marx. Ele se considerava um marxista herege, um socialista nacionalista talvez, nem ele mesmo sabia se definir, foi num cadinho de idéias misturadas que ele criou o seu fascismo. Mussolini diria que a revolução russa foi uma “vingança judaica” contra o cristianismo, e que 80% dos líderes soviéticos eram judeus, apesar da campanha antisemita do governante soviético Josef Stalin desde 1920, Mussolini aderiu a uma campanha italiana antissemita, para depois negá-la, dizendo que não havia discriminação contra judeus na Itália. O primeiro congresso fascista aconteceu em Florença no ano de 1919 e em 1920 ele escreveu: “ Nós esperamos que os judeus italianos permaneçam sensatos o suficiente para não dar origem ao anti-semitismo no único país que ele nunca existiu”. 

         Nas eleições de 1921 os fascistas conquistaram 35 cadeiras no parlamento italiano, inclusive Benito foi eleito deputado. Em 1922, Benito se outorgou o titulo de “Il Duce” (titulo honorifico de inspiração na República Veneziana dos Doges, algo como “O Duque”), e criou suas próprias milícia chamada “camicie nere” (camisas negras), com nome institucional de Milícia Voluntária para a Segurança Nacional, ele não hesitou em usá-la para instigar o terror e combater abertamente os socialistas. O líder fascista gozava de amplo apoio no exercito, entre as elites industriais e agrárias, enquanto o Rei Vitor Emanuel III e o “establishment” conservador temiam que fosse instigada uma guerra civil, e usaram Mussolini para restabelecer a lei e a ordem que ele mesmo tinha colocado em risco com suas marchas revolucionárias, dando a ele o cargo de primeiro-ministro, sendo este o começo da sua revolução fascista. Em 6 de agosto de 1923, Benito Mussolini foi capa da revista norte-americana Time, se consagrando como grande líder mundial. 

        A trajetória de Mussolini em seu governo ditatorial da Itália é de deixar qualquer um embasbacado, Benito não tinha vergonha em mudar de posição, até se fez batizar católico novamente (1932) quando lhe foi conveniente, mas evitou ser fotografado ajoelhado em frente ao papa Pio XI, que saudou a ele como o “Homem da Providência”. Ele se esforçava em parecer piedoso, mas era hipócrita, os pronomes que se referiam a sua pessoa deviam ser sempre escritos com letra maiúscula, como se faz quando se refere a Deus. Benito Mussolini elevou-se ao patamar mais alto do culto da personalidade com o uso de uma nova máquina de comunicação: o rádio. Em 1896, Guglielmo Marconi (1874, Bolonha, Itália - 1937, Roma, Itália) registrou em Londres a primeira patente de radiocomunicação, e em 1919 foi inaugurada uma emissora de radio regular em Rotterdam. Em 1922 com a fundação da mais antiga estação de radio do mundo, a BBC (British Broadcasting Corporation) a era do rádio teve inicio, com transmissão de programas e notícias através de radiodifusão por todo o mundo, dando origem ao que se chama de “comunicação em massa”. Mussolini era pessoalmente um apaixonado pela tecnologia moderna de seu tempo. Ele e seus seguidores eram fascinados com a velocidade, eles voavam aviões e dirigiam carros em alta velocidade sem se importarem em colocar em risco suas vidas. Mussolini era uma figura intrépida e audaz, e o uso do rádio lhe daria a oportunidade de disseminar seu estilo pessoal e dar-lhe uma fama inigualável. Assim, no ano de 1924, em Roma, a primeira transmissão de radio foi feita pela companhia de radiodifusão privada Unione Radiofonica Italiana (URI) e Mussolini rapidamente a estatizou em 1927, se tornando a única emissora de rádio italiana autorizada a operar na Itália, chamada Ente Italiano para as Audições Radiofônicas (EIAR), e serviu amplamente para que Mussolini divulgasse suas idéias politicas e se tornasse o primeiro “influencer” de verdade da história contemporânea. 

        Benito fez escola, e com seu desempenho dramático de liderança politica, assemelhando-se a um ator representando no palco do teatro mundial, angariou cada vez mais seguidores com seu estilo inconvencional e arrojado, entre eles o novo governante alemão Adolf Hitler, que chegara ao poder em 1933, seguindo atentamente os passos do mestre italiano. Todavia a admiração de Hitler no inicio não foi correspondida pelo Duce, que sobre o líder alemão disse: “Hitler é simplesmente um tolo confuso. Sua cabeça está cheia de rótulos filosóficos e políticos totalmente incoerentes. Brincou de bobo, com suas ridículas disputas eleitorais, para apoderar-se legalmente das rédeas do poder. Ou ele é revolucionário ou não é. Somos dinâmicos e o Signor Hitler é apenas um tagarela”. Nas ondas do rádio o mundo seria dominado pelo rugido dessas duas feras da cultura do ódio e tremeria em suas bases, inaugurando um tempo em que a sociedade humana passaria a ser dominada pelo espectro do terror e do medo. 

         Eu falarei, pois, de Adolf Hitler (1889 - Império Austro-Húngaro - 1945, Berlim, Alemanha). Este austríaco foi criado na cidade de Linz e foi para a Alemanha, e diferente de Mussolini aos 24 anos serviu com distinção ao exército alemão durante a Primeira Guerra Mundial. Em 1921 tornou-se líder do Partido Alemão dos Trabalhadores, mas ao organizar uma tentativa fracassada de golpe de Estado em Munique em 1923, ele acabou preso. Foi na prisão que ditou o seu primeiro trabalho literário “Mein Kampf” (Minha Luta). Quando solto em 1924, ele ganhou apoio popular com sua forte oposição ao Tratado de Versalhes. Dono de um carisma inigualável Hitler promoveu suas ideias com discursos loquazes recheados de pangermanismo, antissemitismo e anticomunismo. Ele frequentemente criticava tanto o capitalismo como o comunismo, tendo ambos como conspirações judias. 

        Em 1933, o Partido Nazista criado por Hitler se tornou o maior partido eleito do Reichstag (parlamento alemão) e seu nome recebeu apoio necessário para ser Chanceler da Alemanha em seguida. Não demorou que se instalasse uma ditadura de partido único tal como na Itália, totalitária e autocrática de ideologia nacionalista e que pregava a eliminação dos judeus da Alemanha e o estabelecimento de uma “Nova Ordem” para combater as injustiças do pós-Primeira Grande Guerra impostas por britânicos e franceses. Decorridos seis anos do governo de Hitler, a economia da Alemanha se recuperou da Grande Depressão iniciada em 1929, as restrições impostas ao país após a Primeira Guerra Mundial foram ignoradas e os territórios das fronteiras onde viviam alemães étnicos fossem ocupados, o que deu a Hitler um fortíssimo apoio popular. 

        De imediato Hitler iniciou um trabalho de radiodifusão de propaganda muito bem organizado, mapeou a intensidade do campo de transmissão por toda Alemanha, a fim que a transmissão de uma rádio oficial alemã pudesse cobrir todo o território e ter potência suficiente de impedir sinais vindos do exterior. Técnicos alemães criaram um radio receptor popular, o VE301, que foi distribuído para toda população para que pudesse sintonizar a radio nacional alemã, sendo proibido à qualquer pessoa sintonizar qualquer outra emissora nacional ou estrangeira, com risco de prisão de até cinco anos. Seria através do uso de suas transmissões radiofônicas que Hitler dominou o povo alemão, que nada mais sabia do que acontecia no mundo exterior. Hitler adotou uma politica externamente agressiva e revanchista. A iniciou com um grande programa de reindustrialização e rearmamento das Forças Armadas alemãs. O “Führer” (titulo honorifico que Hitler tomou para si, que em alemão significa condutor, líder, guia ou chefe) assentou-se solidamente no poder central da Alemanha, não tardou muito e ele ordenou a invasão da Polônia, a 1º de setembro de 1939. A motivação foi uma guerra defensiva no chamado “corredor polonês” estabelecido no Tratado de Versalhes, que tirou da Alemanha um território fronteiriço em que se localizava a cidade portuária de Danzigue, que tinha a população de maioria alemã. 

        Tratava-se pois de uma guerra pela recuperação territorial da Alemanha, porquanto Hitler prometera em seus discursos que libertaria as minorias alemãs que foram separadas da Alemanha, como era o caso de Danzigue. No final, Alemanha e União Soviética entraram em confronto e em 1º de setembro de 1939, uma semana após a assinatura do Pacto Molotov-Ribbentrop entre a Alemanha Nazista e a União Soviética, no dia seguinte a aprovação do pacto pelo Soviete Suprema da URSS, as tropas soviéticas invadiram a Polônia em 17 de setembro e em em 6 de outubro de 1939, a Polônia foi dividida e anexada sob os termos do Tratado Fronteiriço Alemão-Soviético. Este foi o estopim para a Segunda Guerra Mundial, que foi travada nos campos de batalha por terra, mar e ar, como também pela primeira vez no campo da radiotransmissão, com o uso de informações e contra-informações, noticias reais e noticias mentirosas, sendo que o Ministro de Propaganda da Alemanha Nazista de Hitler, Paul Joseph Goebbels (1897, Berlim, Alemanha - 1945, Berlim, Alemanha), que compensava a vergonha com sua deformidade fisico com o uso de sua mente maquiavélica para manipulação das massas com informações subliminares e aplicação táticas de domínio mental com conceitos psicanalíticos e hipnóticos tão em voga desde que o neurologista austríaco Sigmund Freud, (1856 - 1939) criara a psicanalise e tantas outras práticas inovadoras que viriam a ser aplicadas nas campanhas de marketing pós-guerra para angariar “consumidores”. 

         Por um erro de cálculo da diplomacia britânica, que não soube negociar uma aliança entre Itália, França e Reino Unido em janeiro de 1939, o que ao olhar do líder viril italiano tal fracasso de entendimento devia-se a uma debilidade destes países, que estavam fadados à decadência por falta de energia de suas populações decrescentes. Assim, não deve ser causa de espanto para ninguém, que Mussolini se visse empurrado para o colo de Hitler, apesar de ter sérias divergências com as idéias do líder nazista. Mussolini decidiu-se a entrar na guerra ao lado da Alemanha Nazista, apoiando o acordo do Eixo de 1936, que resultou no Pacto de Aço de 22 de maio de 1939, que uniu a Itália fascista e a Alemanha nazista em uma aliança militar total., aos moldes do Sacro Império Romano Germânico, dos Habsburgo, que tinha sido dissolvido definitivamente em 1922. As Forças Armadas fascistas entraram na guerra em 10 de junho de 1940, contra os aliados França e Grã-Bretanha. E foi assim que tudo começou, mas o desfecho seria ao melhor estilo dramático para o Duce Benito Mussolini, mas não como imaginara. 

         Em uma entrevista em janeiro de 1945, Mussolini disse: “Há sete anos eu era uma pessoa interessante. Agora sou pouco mais que um cadáver… Minha estrela caiu… Trabalho tanto, mas sei que tudo não passa de uma farsa… Espero o fim da tragédia e, e estranhamente desligado de tudo, não me sinto mais ator. Sinto que sou o último dos espectadores”. No dia 28 de abril de 1945, Mussolini foi preso pelos guerrilheiros da resistência italiana antifascista, que o mataram juntamente com a sua companheira e amante Clara Petacci – que embora tivesse sido lhe dada a oportunidade de fugir, preferiu permanecer e morrer ao lado do Duce –, assim como seus correligionários Bombacci e Starace, que após terem sido alvejados mortalmente tiveram seus corpos pendurados pelos pés expostos para testemunho público na Piazza de Loreto, em Milão. Os corpos só foram baixados com a chegada das autoridades norte-americanas e entregues ao necrotério, onde realizou-se a autopsia no Instituto de Medicina Legal de Milão. No estudo do cérebro de Mussolini não foi encontrado nenhum sinal de doença como sífilis para a hipótese de causa de sua “loucura”. Nunca se soube o relato das circunstâncias de como o Duce e seus companheiro foram aprisionados, muitas especulações foram levantadas, inclusive que agentes de espionagem britânicos tenham sido os verdadeiros responsáveis para a armadilha causadora do fim do líder italiano. Em 1957, Benito Mussolini recebeu um funeral católico e está sepultado no túmulo da família em Predappio, na Emilia-Romagna, local de seu nascimento. Deixou descendentes e sua neta Alessandra Mussolini abandonou suas ambições políticas em 2020. 

        A morte do Duce, marcou o encerramento melancólico do poderio do antigo Império Romano, restando de sua glória apenas suas ruínas para serem contempladas e admiradas, mas para aqueles que conhecem o povo italiano, especialmente os romanos, confirma-se que este povo jamais perdeu seu orgulho e altivez oriundos do DNA dos gêmeos Rômulo e Remulo tão bem alimentados por uma loba. 

         Se a morte de Benito Mussolini pode ser confirmada com fotos, mesmo que impressionantes e desrespeitosas para um homem que em vida foi tão poderoso, o mesmo não se pode dizer de Adolf Hitler, que segundo consta teria se suicidado de forma desconhecida em seu refúgio em Berlim, em 30 de abril de 1945, dois dias após seu “ídolo” Benito. Sua companheira Eva Braun com quem tinha se casado no dia anterior o acompanhou na morte tomando cianeto. Seguindo as suas instruções verbais de Hitler, seus corpos foram retirados do bunker, carregados para fora e encharcados de gasolina e incendiados no jardim da Chancelaria do Reich. Existem narrativas controversas sobre a morte de Hitler, não se pode afirmar que nenhuma seja a verdadeira, inclusive pode até ser possível que ele tenha vindo se refugiar na América do Sul, na Argentina ou no Brasil, como tantos nazistas vieram naquele tempo, junto com Eva Braun e vivido ainda muitos anos e muitos anos. Teorias da conspiração é que não faltaram e não faltam, mas a esta altura podemos ter a certeza que Hitler está morto. 

         O grande músico alemão Richard Wagner ao ter composto O Crepúsculo dos Deuses, a quarta parte da tetralogia de O anel de Nibelungo, trabalhando de 1869 e 1874 para a completude da saga do Anel, profetizou que a guerra dos deuses nórdicos traria um apocalipse incendiário. Foi um trabalho visionário sem duvida do mestre alemão da ópera. Não preciso falar dos episódios horríveis desta guerra, basta ver seu terrível encerramento com o lançamento de duas bombas atômicas no Japão, que entrara na guerra ao lado do Eixo. As chagas da Segunda Guerra Mundial são imensas e ainda sangram. A Segunda Guerra Mundial foi dada como finda segundo os métodos históricos em 2 de setembro de 1945, com a rendição do Japão assinado a bordo do convés do navio de guerra americano USS Missouri, colocando um fim na guerra. Todavia, o que se viu foi o início de um interlúdio, que dividiu o mundo em duas partes como se fosse uma laranja, de um lado os apoiadores dos Estados Unidos e do outro os apoiadores da União Soviética, ambos os lados travando uma luta constante pelo poder, a qual foi chamada de Guerra Fria, apenas porque não havia mortes em grande escala, mas elas aconteciam do mesmo modo, mas longe do olhar do público, que só via a propaganda politica e cultural de uma vida perfeita que jamais existiu.

         Novas fronteiras foram desenhadas de modo que os povos jamais entrassem em um acordo, especialmente na África e no Oriente Médio, assim os fabricantes de armas, os senhores da guerra continuaram a ganhar fortunas. Países do Commonwealth Britânico, como a Índia, finalmente alcançaram sua independência, trazendo novos problemas geopolíticos. Os acordos com os países do Oriente Médio garantiram não só o fornecimento de petróleo para o processo industrial, assim como deu um poder descomunal aos xeiques árabes e assemelhados. A surpresa veio em 1º de outubro de 1949, quando o país mais populoso do mundo proclamou-se como República Popular de China sob regime comunista, colocando um fim na Guerra Civil Chinesa, que então alinhou-se com a União Soviética. Essa mudança politica, levou os Estados Unidos a investirem pesado na economia japonesa, a fim de atender a suas estratégias de ambições imperialistas e talvez, quem sabe, mitigar a seu estado de culpa pecaminosa cristã pela morte instantânea de mais de 230 mil japoneses com suas bombas atômicas. 

         No que parecia ser o ocaso da Guerra Fria, na passagem do dia 9 para o dia 10 de novembro de 1989, quando se deu a queda do Muro de Berlim, o qual desde 1961 separava fisicamente a Alemanha em dois países; a República Democrática Alemã, de influencia norte-americana e aliados e da Alemanha Oriental, sob influência soviética. A reunificação da Alemanha foi um freio para o avanço econômico da República Democrática Alemã, que duraria ao menos 10 anos. Assim, o bloco de influência soviética na Europa Oriental foi se rompendo. Em 2 de agosto de 1990, as forças armadas iraquianas invadiram o Kuwait, ambicionando ter uma saída marítima para o Golfo Pérsico para escoar sua produção de petróleo, recordando que o Irã e o Kuwait surgiram como países após o desmonte do Império Otomano de forma açodada, e ambos países eram produtores de petróleo. Logo os Estados Unidos enviaram suas tropas para proteger o Kuwait e lutaram contra o Iraque, que fora seu antigo aliado contra o Irã. Em resumo, a guerra durou até 28 de fevereiro de 1991, com vitoria para os Estados Unidos e aliados, resultado que colocou os EUA no lugar que sempre ambicionou, no topo do mundo. Em seguida com uma série de conspirações e lances sórdidos os Estados Unidos finalmente deram o xeque-mate na União Soviética, que em 8 de novembro de 1991 deixou de existir. Anunciou-se o fim de 46 anos de Guerra Fria, o filósofo e economista político nipo-americano Francis Fukuyama (1952, Chicago, EUA), publicou em 1992 seu livro “The End of History and The Last Man”, aventando que o advento da Democracia Liberal ocidental seria o ponto final da evolução humana e colocando em prática uma teoria do filósofo alemão que influenciou Nietzche, Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770 -1831), sobre o Fim da História, ou seja que com o fim da Guerra Fria e a vitória da Democracia Liberal era o fim da História. Bom, este não foi o desejado ponto final, mas apenas um um ponto-virgula para a continuidade de uma disputa violenta que teria lances assustadores e tenebrosos em pouquíssimo tempo, sacudindo o mundo e a civilização contemporânea, que seria vitima de ações terroristas nunca antes imagináveis. 

         Em verdade as duas grandes guerras da primeira metade do século XX eram apenas uma continuidade da outra, e esta mesma guerra seguiu na surdina e sem alarde atravessando a segunda metade do século chegando ao século XXI. Com a queda da União Soviética, a Russia se transformou numa república capitalista, mas muito longe de ser democrática, logo a máfia russa expandiu sua rede de poder, não só pelo território russo, mas por toda Europa chegando às Américas. Muitos países europeu abriram suas portas para o dinheiro russo, do mesmo modo que já o faziam para o dinheiro do Oriente Médio, a corrupção como uma praga fungicida estendeu-se tomando os governos de todos os países do mundo, e nenhum deles escapou desse mal, fosse qual fosse o sistema de governo adotado. A União Européia foi oficializada em 7 de fevereiro de 1992, compromisso assentando no Tratado de Maastricht, em que a maioria dos países aderiram a uma moeda única, e pela primeira vez a Europa teve finalmente uma homogenia, aquela que Maximiliano Habsburgo imaginou que seria possível, mas afinal não foi preciso muitos casamentos reais para isso, apenas o desejo de sobrevivência frente ao domínio global crescente norte-americano. 

        A União Européia formou assim um bloco econômico de enfrentamento a ambição imperialista dos Estados Unidos após a queda da União Soviética, o que há de convir não foi do gosto dos norte-americanos. A partir da desintegração territorial da União Soviética em 1991, no ano seguinte apesar da politica de choque econômico implementada pelo novo Estado Russo com a introdução do capitalismo de mercado, não foi possível evitar o desastre, que se tornou fato com a falência de milhares de empresas russas e o consequente desemprego em massa, causando um aumento exponencial da violência urbana. Foi um tempo de profunda turbulência econômica que levou o país a uma recessão. Surgiram guerras como a da Bósnia em 1992 e da Chechênia em 1994. A situação caótica da Russia logo afetaria também o mercado asiático, sendo causa da Crise Financeira Asiática de 1997, em agosto de 1998 a própria Rússia entraria em Crise, declarando moratória, que deveria durar apenas 90 dias mas se estendeu até o fim de 1999. A Crise Russa levou à eleição de Vladimir Putin (1952, São Petersburgo, URSS), que iniciou o processo de reorganização do Estado Russo, e promoveu a recuperação econômica russa mantendo um ritmo de crescimento econômico acelerado, de modo que entre 2000 e 2008, o Produto Interno cresceu algo em torno de 7% ao ano. 

         Por sua vez a República Popular da China, que se tornara o maior país comunista do mundo após o fim da URSS, deu inicio na década de 1990 a um processo de inserção de sua economia no sistema econômico de globalização nascente. A China passou a ganhar cada vez mais destaque com seu empreendedorismo em que o Estado chinês passou a criar parcerias multinacionais a fim de criar novos projetos e produtos com base tecnológica, gerando ganhos para a qualificação de mão de obra chinesa e conhecimento cientifico, investindo pesado num programa de melhoria do sistema educacional, em diferentes níveis. O que faria com que a economia chinesa avançasse a passos largos para o domínio da economia global, ocupando um posto inquestionável de liderança, graças as suas parcerias com grandes empresas ocidentais, oferecendo mão de obra barata e bem qualificada e contratos com cobrança de baixos impostos, enquanto adquiria direito a patentes de tecnologia em várias áreas de produção, através de “Joint Venture” com as empresas estrangeiras e criando Zonas Econômicas Especiais (ZZE’s) em seu vasto território. De modo que ao final da década de 1990 a China tornou-se o maior receptor de investimentos estrangeiros em todo o mundo. 

        Assim não demorou para Russia, China e India se tornarem partners e grandes influencers econômicos na economia global, especialmente em relação a economia Ocidental, grande consumidora de suas produções. Na entrada do século XXI havia uma promessa de um grande avanço capaz de harmonizar e equilibrar o mundo num processo de tolerância nas relações humanas e diminuir as diferenças sociais e culturais. A radiotransmissão teve grande evolução com os aparelhos radiodifusores de imagens a partir de 1946: as televisões, capazes de promover grandes mudanças comportamentais em massa, trazendo uma incontida revolução cultural, derrubando velhos conceitos e formando uma sociedade de “consumidores” ávidos de prazeres, que não estariam ao alcance de todos, elevando o nível de insatisfação pessoal, egocentrismo e cobiça. Porquanto, aqueles que nada tinham passaram a ver e a testemunhar o cotidiano daqueles que tudo tinham. Então, em razão das grandiosas diferenças sociais que separavam as pessoas, a maldade cresceu descontroladamente alimentada pelo mais antigo sentimento humano: a inveja. O ovo do monstro Leviatã da Cultura do Ódio começou a ser chocado. 

        Os primeiros sinais de alarme apareceram com o surgimento do neo-nazismo europeu e norte-americano, a formação silenciosa de uma ultra-direita xenófoba e avessa a aceitação de diferenças culturais, ao mesmo tempo que crescia a ortodoxia religiosa em todas religiões abraâmicas, querendo cada uma estar mais certa do que a outra, adotando um comportamento extremista e de violência, o qual terá seu momento apoteótico no ataque terrorista islâmico às Torres Gêmeas em Nova York e ao Pentágono em Washington nos Estados Unidos, na data fatídica de 11 de setembro de 1999, com cenas dramáticas transmitidas pelos canais de televisões do mundo todo. Foi o maior choque de realidade desde o lançamentos das bombas atômicas no Japão. 

         O que passou a ocorrer a partir daquela tragédia assombrosa naquela manhã azul e tranquila de New York, com aviões de passageiros de grande porte da American Airlines sendo lançados como armas bombásticas por terroristas islâmicos, para chocarem-se e contra as Torres Gêmeas anunciou que qualquer pensamento de pacificação da Humanidade seria impossível. dado ao crescente sentimento de xenofobia e descriminação racial. Pode-se dizer que se vive desde então sob um estado de opressão, com os direitos civis desrespeitados e perda da privacidade, com a submissão a um Estado Vigilante, tipo Big Brother, pois a guerra do Ocidente ao Terrorismo de extremistas islâmicos deu um poder imenso aos Estados para controlarem suas populações. Os anos de ferro da espionagem durante a Guerra Fria foram retomados e a liberdade individual ficou por um fio. O conceito de “vida normal” foi deixado para trás. Mas, frente a desolação só resta seguir em frente. Foi isso que a maioria das pessoas fez, seguiu em frente, alienada sem pensar muito no amanhã.
        Foi neste momento trágico que passou a entrar na vida das pessoas como instrumentos de comunicação o computador pessoal, o PC, desenvolvido a partir de 1979 por grandes empresas norte-americanas como a IBM, Microsoft e Apple. Esta máquina provida de Inteligência Artificial (IA) chegou aos consumidores do mundo no inicio do século XXI, revolucionando os sistemas de comunicações existentes, pois o sistema de integração dos computadores à uma rede chamada Internet permitia a troca de informações, que em 1993 realizava apenas 1% do fluxo de informações, em 2000 este valor tinha aumentado para 51% através de duas vias de telecomunicações, em 2007, mais de 97% de todas informações telecomunicadas foi realizada através da rede mundial de Internet. Em 2004, surgiram as redes sociais e com elas cada vez mais as pessoas se tornaram conectadas, e o excesso de comunicação entre as pessoas começou a ser causa não só de mudanças comportamentais, mas principalmente psicológica, causando nas pessoas um estado de constante estresse com exigências cada vez maiores de adequação a um mundo que mudava não mais em décadas, nem em anos, mas em dias. 

         Em meio a um estado de estresse psicológico, os bancos vendiam o lindo sonho de consumo, da “casa própria” para a grande massa, que se endividava de todos os modos, fosse com hipotecas para residências a veículos de último tipo, ou fosse para empréstimos estudantis, ou fosse para consumir muito além do que se poderia pagar, em resumo em 2008, os bancos fizeram fortunas com investimentos inexistentes e cobraram juros exorbitantes que em conjunto causaram a Crise de 2008, que jogou o capitalismo ocidental de boca no chão e quebrando todos os dentes. Pessoas pelo mundo todo perderam não só tudo o que tinham, como também perderam a esperança. E sem esperança fica difícil de seguir em frente. 

         É neste cenário monstruoso de desolação que uma nova máquina surgiu. Uma máquina capaz de que colocar um antes e um depois nas relações humanas. Como mencionei antes, desde o final da década de 1990 o avanço da tecnologia computadorizada aliada a inteligência artificial vinham promovendo já grandes transformações, mas foi a partir de 2003 que se tornou mais acessível a um número maior de pessoas. Em 2004, na Universidade de Harvard, Cambridge, Massachussetts (EUA), surgiu uma rede social que faria o rudimentar Orkut ser esquecido, o Facebook, era o inicio de um novo tempo que se consagraria com a nova tecnologia de celulares, o smartphones, mais precisamente com o lançamento do primeiro iPhone em 9 de novembro de 2007, fabricado pela Apple do visionário norte-americano Steven Paul Jobs (1955 - 2011). O iPhone foi lançado mundialmente em 11 de julho de 2008 e até janeiro de 2009 foram vendidos quatro milhões de iPhones 3G. Esse tipo de celular era um mini computador que cabia na palma da mão, e tinha a capacidade de tornar todo mundo “conectado” instantaneamente de várias maneiras, a ponto de ninguém poder mais viver sem ele por todo o tempo. A comunicação sofreu uma revolução nunca antes vista ou imaginada. Do mesmo modo que o primeiro tiro de uma arma de fogo deu o poder aos humanos para matar a distancia, um smartphone deu o poder de atingir o cérebro de uma pessoa sem nem a conhecer a milhares de quilômetros de distância, a viciando e a tornando dependente da intrusa opinião alheia, acabando com toda e qualquer privacidade, até do próprio pensamento, pois basta apenas poucos sinais de interação, como uns dez likes (gosto) nas redes sociais para que os algoritmos da Inteligência Artificial das plataformas de comunicação saberem mais de uma pessoa do que ela mesma. 

        As pessoas não se deram conta, acharam que era apenas uma diversão, mas nem perceberam que estavam sendo transformadas em produtos de consumo, tendo o seu valor medido por sinais positivos de aprovação como ao tempo dos Césares romanos no Coliseu, a decidir a sorte da vida de quem estivesse na arena. O numero descomunal de seguidores pode dar aos escolhidos o titulo de “influencer” e agregar um falso valor profissional, que se traduz em dinheiro fácil pago por patrocinadores, angariando fama e celebridade a estas pessoas vaidosas, que do mesmo modo que podem ser elevadas a uma fama instantânea podem ser levadas ao ostracismo conforme o desejo dos algoritmos da Inteligência Artificial, criando um mundo ilusório em que a realidade podia ser questionável e produzida ao prazer dos programadores da AI. 

         Todavia, não demorou que os smartphones fossem usados como armas, que seriam capazes de grandes malefícios, pois através desta comunicação fácil era possível sublevar populações inteiras, como aconteceu na Primavera Árabe, um movimento que atingiu vários países islâmicos com o primeiro levante em dezembro de 2010 e foi considerado falsamente encerrado em dezembro de 2012, e resultou que países islâmicos do norte da África e do Oriente Médio foram jogados num estado de profunda pobreza em razão de revoluções civis contra ditaduras amplamente apoiadas anteriormente pela política da Guerra Fria norte-americana e de seus aliados europeus. A pior das consequências foi o processo imigratório, com suas ondas de imigrantes indesejados vindos da costa africana atravessando o mar Mediterrâneo em busca da própria sobrevivência nos países europeus, que formularam políticas públicas a fim de impedir a entrada de imigrantes ou contê-los em áreas restritas dos campos de imigração, um problema que se alastra e continua até os dias presentes. Mas, a experiência desastrosa da Primavera Árabe parece não ter ensinado nada. 

        Com a facilidade de comunicação e o acesso descontrolado através de redes sociais tornou-se fácil cooptar jovens ocidentais para aderirem às causas terroristas de extremistas islâmicos e promover as infiltrações terroristas nos países europeus e nos Estados Unidos. As células terroristas, de traficantes de armas, drogas, tráfico humano e tráfico de órgãos humanos fizeram do mundo civilizado de alta tecnologia um mundo tenebroso comandado por máfias de países poderosos, como foi o caso da temida “máfia russa”, que instalou a sua capital em Londres, passando a ter domínio no submundo político do Reino Unido. Então, não foi de espantar quando o Reino Unido se retirou da União Européia, em 31 de janeiro de 2020, havia muitos interesses ulteriores que jamais poderiam, podem ou poderão ser revelados, pois o que se vê é apenas o que querem que vejamos, o resto está na darknet, a Internet do submundo criminoso.

         Com a nova tecnologia de comunicação a verdade foi misturada a mentira de tal modo que a única verdade que se pode confiar é aquela que está dentro de cada um, tornando quase impossível a relação de confiança e minando o Estado Democrático de Direito. A idéia de que o mundo se tornara uma ameaçadora Torre de Babel bíblica, levou a pensar que algo de ruim poderia vir disso. Em dezembro de 2019, a China anunciou que mais um perigoso coronavírus tinha sido identificado causando uma infecção nas vias respiratórias difícil de ser controlada com medicamentos conhecidos, ninguém deu muita importância. Quando a China construiu uma tenda hospitalar gigantesca e colocou em quarentena dentro de suas residências toda a população da cidade onde o vírus fora identificado, muita gente achou que era drama. Mas, em março de 2020 o vírus já tinha se espalhado por vários países do mundo e causando pânico nas pessoas, mais ainda quando se anunciou uma Pandemia, que infectou até março de 2023 o número de 675.860.881 pessoas e causou a morte de outras 6.876.867, num universo de 8 bilhões de pessoas da população mundial, não parece ter muito significativo, mas foi o motivo para os Estados, que já tinham sido empoderados com a Guerra ao Terrorismo, pudessem adquirir ainda mais poder sobre as liberdades civis de seus cidadãos, de sorte que o fim gradual da Pandemia, chegaria em meados de 2022 e as populações começaram a recuperar seus direitos.

    A Pandemia favoreceu em muitos lugares o crescimento da extrema-direita, que veio a resultar em cenas impensáveis, como o episódio da Invasão do Capitólio, sede do Congresso Norte-Americano em Washington, em 6 de janeiro de 2021, por uma horda bárbara de norte-americanos insatisfeitos com a eleição do novo presidente do partido Democrático, depredando uma das instituições democráticas mais importantes não só dos Estados Unidos da América, mas do mundo. A exemplo do ocorrido nos Estados Unidos, no dia 8 de janeiros de 2023, terroristas da extrema-direita brasileira também invadiram e delapidaram os três prédios símbolos da democracia brasileira: O Palácio do Planalto do Poder Executivo, o Congresso Nacional do Poder Legislativo e o Supremo Tribunal Federal do Poder Judiciário. Demonstrando que a democracia estava em perigo não só nestes países, mas em todas democracias ocidentais. E, tais eventos, só foram possíveis de acontecerem na realidade graças ao “smartphone” e sua capacidade de enviar noticias, nem sempre verdadeiras, conectar pessoas e inflamar o ânimo delas a ponto de tornarem-se violentas. As propagandas de influencers fariam inveja ao propagandista nazista Goebbles, por promover a Cultura do Ódio com inegável eficiência e de maneira efetiva, produzindo os resultados desejados e duradouros. Pois o ser humano deste milênio tem uma necessidade descomunal de se sentir aprovado, ter a sensação de pertencer a um grupo de poder, de se sentir mais importante que a importância que realmente tem, e se não for atendido em seu desejo de vaidade, sua reação será a mesma de uma besta destruidora e desejosa de sangue como o Leviatã que tanto em suas origens temia. 

         Pois bem, foi em 24 de fevereiro de 2022, pouco depois que a situação da Pandemia da Covid-!9 ter dado um alívio, que Vladmir Putin, o poderoso governante russo, não achou nada melhor do que dar continuidade a invasão da Ucrânia que tinha chegado a um armistício em 2014 e recomeçar a guerra. A razão principal é a de sempre, fronteiras mal estabelecidas após a Segunda Guerra Mundial e também após a dissolução da União Soviética, em 1991, quando os Estados Unidos e seus aliados europeus resolveram patrocinar a independência de vários territórios soviéticos com base no principio de “autodeterminação dos povos” que confere aos povos o direito de autogoverno e de decidirem livremente a sua situação política, bem como aos Estados o direito de defender a sua existência e condição independente. Um principio constante da Carta do Atlântico aprovada e assinada em 1941 por Estados Unidos e Grã-Bretanha, e depois assinada em 1942 pelos aliados, e que em 1945 foi ratificada por 26 Nações ao assinarem as diretrizes da Declaração das Nações Unidas, vindo ao fim da Segunda Guerra Mundial a tornar-se um direito dentro dos âmbitos diplomáticos. Com base neste principio de 1946 a 1960, surgiram trinta e sete países novos, oriundos de antigas colônias no continente asiático, no Oriente Médio e na África. Nos anos seguintes até hoje a questão de territorialidade inevitavelmente causa ainda mais conflitos e movimentos de independência dentro de muitas nações tradicionalmente estabelecidas, e, também, surgem contestações a esta afirmação, a reivindicar que a integridade territorial seja tão importante quanto a autodeterminação. No caso da Ucrânia, a Nação foi declarada independente da União Soviética em 24 de agosto de 1991 e teve seu reconhecimento em 25 de dezembro de 1991. Portanto, é uma situação recente. Esperava-se que a Guerra terminasse em pouco tempo, mas tem se estendido por mais de um ano em razão do forte apoio armamentista que a Ucrânia tem recebido dos Estados Unidos, Grã-Bretanha e aliados que se opuseram a ambição russa de retomar a a faixa territorial da costa do Mar de Azov. Fato é, que ao dizer-se, que é uma ameaça de uma Terceira Guerra Mundial, na verdade não passa de apenas um arranjo diplomático para evitar dizer que a Guerra continua, e que o mundo está em Guerra há mais de cem anos com níveis distintos de belicosidade. 

         Não há quem não se admire ao contemplar o período histórico que se iniciou no século XIX e chega ao século XXI trazendo imensas transformações na civilização humana. No que diz respeito a apenas esse um quarto do século XXI que em breve se completa, pode-se dizer que a humanidade alcançou um nível de evolução tecnológica surpreendente, a História trás vestígios que é possível que em milênios passados um nível até superior de tecnologia pode ter existido, mas não existem provas disto, já que só nos restam ruínas das civilizações passadas e há muitos lugares no mundo que os arqueólogos contemporâneos nem ao menos conseguem ter acesso para averiguar, quando não, os povos de extremismo islâmico praticam o vandalismos de sítios histórico, destruindo edificações da antiguidade preciosas e as evidências históricas que poderiam oferecer para elucidar o passado da Humanidade, do qual ainda sabemos tão pouco. Não sabemos, portanto, onde nossos ancestrais erraram para terem sido destruídos e varridos da face da terra, e por não termos estas informações vitais, nós corremos o mesmo risco de termos a nossa civilização contemporânea destruída, também, em um piscar de olhos. Não estamos atentos para a ameaça crescente que o mundo eletrificado e industrializado pode trazer à Natureza, e a cada dia testemunhamos a força poderosa de extremos climático e o poder de destruição que os acompanha. 

         “O homem que não se conheça tal como é, é lobo para o homem” de autoria do dramaturgo romano Titus Maccius Plautus (254 a.C. - 184 a.C.) ganhou popularidade como “O homem é o lobo do homem” ao ser introduzida na obra “Leviatã” (reflexão sobre o monstro mencionado nos textos bíblicos do Livro de Jó, cap. 41, e no Livro de Isaías, cap. 27) pela pena de Thomas Hobbes (1588 - 1679), o grande matemático, teórico politico e filósofo inglês, cuja a leitura é imprescindível para a compreensão da natureza humana. Segundo Hobbes, o ser humano não é livre de nascença, pois só se é livre quando se tem a capacidade de avaliar as consequências, boas ou más, das próprias escolhas e ações. Prova-se hoje mais do que nunca que Hobbes estava certo, que o homem tal como um lobo é um predador feroz, perigoso e agressivo. A violência humana é impar na Natureza, nenhum outro ser vivo se iguala a sua ferocidade e seu desejo de domínio tanto sobre a própria Natureza como em relação aos seus semelhantes. Se não existissem os limites da Lei, do Estado e das Instituições, incluo nisto as instituições de cunho religioso, se nada limitasse essa ferocidade humana e pudesse esse ser viver em liberdade absoluta, ele estaria dominado por sua natureza violenta e destruidora, seria o Leviatã ou o Anticristo. Só através de um “contrato social” é possível ao ser humano viver em uma sociedade, todavia quando se desrespeita esse contrato e sua Lei não é mais obedecida caminha-se para uma sociedade bárbara, sujeita apenas à lei do mais forte. 

         Desde a invasão do Capitólio, em 6 de janeiro de 2021, ocorrida nos Estados Unidos, nós temos assistido uma campanha sem trégua para a falência do Estado Democrático de Direito e o desmoronamento da estrutura social através do emprego da Cultura do Ódio, divulgada sem limites através das redes sociais e outros meios de comunicação, passando a sensação que existe uma guerra de todos contra todos. Todavia, é obrigação investigar a maneira que os movimentos de violência e de vandalismo estão conseguindo atravessar o forte sistema de segurança de câmeras de vigilância utilizado para o policiamento e controle social que tem sido estabelecido nas últimas décadas em todas capitais e metrópoles do mundo ocidental, e, também, como estão sendo ludibriadas as agências de espionagem extremamente capacitadas tecnologicamente patrocinadas com altos investimentos governamentais desde o ataque terrorista de 11 de setembro de 2001, agências estas encarregadas de recolher informações pessoais de todos os indivíduos do planeta que se conectassem via Internet, até mesmo com direito a invadir a privacidade de qualquer um que queiram para obter informações, e mesmo vigiar os cidadãos das democracias ocidentais em seus lares e trabalhos, com o intuito de garantir um ambiente seguro para os cidadãos viverem. Um ambiente seguro que só existe em teoria e não na vida real. 

        Como esta falta de informação sensível de inteligência foi possível para que o sistema de segurança do Estado mais poderoso do mundo fosse abalado e vandalizado por seus próprios cidadãos? A mesma pergunta cabe ao recente evento de vandalismo inspirado no ataque ao Capitólio que ocorreu de maneira brutal e assustadora na capital do Brasil. Como isto pode acontecer? No Brasil está cada vez mais comprovada a colaboração das Forças Armadas e da Polícia responsável pelo Distrito Federal, assim como das agências de informações e de inteligência (espionagem). Ora, se quem tem a obrigação constitucional de zelar pela lei e a ordem conspira para o esfacelamento do Estado Democrático de Direito, os cidadãos de modo geral estão sendo ameaçados e coagidos pela fragilidade organizacional do Estado. Mas, é inegável que toda essa situação caótica que se alastra pelo mundo se deve tão apenas a um excesso de comunicação por pessoas sem capacidade de discernir entre o que é certo e errado, entre o que verdade e é mentira e estão tomadas por um egocentrismo inato que as impedem de entrar em harmonia com a Realidade Absoluta, como bem ponderou o historiador inglês Arnold Toynbee em sua obra “A Religião e a História” (Oxford, 1960). 

        Nestes dias li um artigo que teve o mérito de consolar-me e não me fazer sentir tão só em meio a tanta insensatez. O renomado jornalista brasileiro Fernando Gabeira (1941, Juiz de Fora, MG), publicou no O Globo em 20 de janeiro de 2023, seu artigo intitulado “Fake news e Solidão”, e inicia dizendo “Uma das causas profundas da crise democrática é a naturalidade com que se usou o termo realidade alternativa. Refiro-me a governos, não apenas indivíduos. (…) Colin Powell foi à ONU, em fevereiro de 2003, e apresentou uma série de armas de destruição em massa do Iraque. Tudo fake news. A Rússia começou com a “dezinformatsiya”, termo cunhado pela KGB (agência de inteligência soviética). Depois introduziu a “maskirovka”, uma forma de iludir. Hoje tem métodos mais sofisticados, como o controle reflexivo (upravlenie), que consiste em disseminar noticias que forcem o adversário a tomar como racional uma decisão que interessa aos próprios russos”. Segue Gabeira em seu raciocínio no próximo parágrafo; “A Internet com suas bolhas e rapidez de propagação, acabou consagrando o mundo da pós-verdade.” Neste mundo de pós-verdade exalta-se a mentira transvestida de verdade e condena-se a verdade nua crua, de forma que a mentira misturada com a verdade leva à perda de confiança, pois como bem diz Gabeira: “Apenas um mundo de teorias conspiratórias, sem base real compartilhada é um espaço hostil a qualquer relação de confiança”. Ou seja, a sociedade sem o compartilhamento mínimo de fatos de senso comum, está fadada ao caos. 

        Tal como eu, Gabeira nestes dias andou pensando muito em Nietzsche, e sobre ele comentou no artigo: ”O grande filósofo moderno Nietzsche, ao afirmar que Deus estava morto, acreditava sinceramente que caminhávamos para uma liberdade maior, livres da mortificação e culpa impostas pela religião. Mas a liberdade de criar seus próprios padrões morais era vista por ele também como nomadismo, uma distância da sociedade, enfim, uma solidão olímpica de homem superior. Ao combater a metafísica, acabou se abraçando a ele. O resultado é também uma profunda solidão.” Mas, no âmago de todo este mundo contemporâneo está a angustia de se viver uma existência que não é sua, uma representação de si mesmo nas redes sociais, e evita-se conhecer a si mesmo com medo de que o frágil laço que nos une a sociedade desapareça, porque para conhecer a verdade primeiro é preciso ver a ilusão, mas o mundo novo construído brilha de tal maneira radiante que cega os olhos de quem olha para ele por tempo em demasia. Ou seja, a ilusão, a mentira transvestida, tornou as pessoas tão cegas que elas não conseguem nem mais ver a mais simples verdade ditada pelo bom senso; que a Terra gira em torno do sol ou que dois mais dois é quatro.

         Acrescento ainda mais uma necessária reflexão sobre estes assombrosos acontecimentos terroristas contra o Estado de Direito Democrático, tão arduamente conquistado anteriormente por mais de dois séculos. É possível constatar nestes lamentáveis eventos a tentativa de esgarçamento do tecido social fruto do trabalho constante de gerações de tecelões de todos os tempos, como se romper o atual tecido social pudesse criar uma nova realidade nos moldes da Cultura do Ódio e isto libertasse o ser humano de seu compromisso moral com a civilidade presente democrática, quando em verdade, o rompimento desse tecido social seria o fim da civilização tal como a conhecemos, abrindo o caminho para um tempo de suprema estupidez e ignorância humana, um retorno à barbarie. 

         Quando jovem, eu era apaixonada pelas obras de ficção cientifica do russo-americano Isaac Asimov (1920, Petrovich, União Soviética - 1992, New York, EUA) e do norte-americano Ray Douglas Bradbury (1920, Waukegan, Illinois - 2012 Los Angeles, Califórnia). O primeiro alimentou a minha curiosidade sobre inteligência artificial e robótica com sua obra master “Eu, o Robô” (1950), já o segundo preparou meu espírito para um futuro desolador, e um destino apocalíptico quase inevitável com suas obra “Fahrenheit 451” (1953) e depois com “The Illustrated Man” (1951). No Brasil, em tempo de ditadura militar patrocinada pelos EUA durante a Guerra Fria e pairando a ameaça de uma bomba atômica prestes a cair a qualquer momento na cabeça, ficava difícil acreditar num futuro cor-de-rosa, tal como vejo os jovens crescidos após a Guerra Fria com uma vida escrita e vivida segundo as normas que levam ao sucesso idealizado. O dar-tudo-certo parece ser apenas o caso de um bom planejamento e de ter o respaldo das pessoas certas, de tal forma que ao lado dessa geração de “super-humanos” o resto dos mortais como eu pertencem ao status dos fracassados, a classe dos “normais”. 

         No ano de 1946, o advogado australiano Roland Berrill e o jurisconsulto e cientista inglês Lancelot Ware, inspirados na onda do Super-Homem de Nietzche, fundaram na Inglaterra a “Mensa”, que em latim quer dizer “mesa” evocando a idéia da távola redonda do Rei Arthur onde sentados à mesa todos seriam iguais, ou melhor, simbolizando uma “união entre iguais”. Iguais em quê? Em inteligência. Eles tiveram a idéia da criação de uma sociedade não-política livre de todas as distinções raciais ou religiosas. Já vimos isto antes, não é? A sociedade dá boas vindas a todas as pessoas, independente de suas origens, mas que sejam pessoas brilhantes, com alto QI (Quociente de Inteligência) acima de 98% segundo os testes da própria Mensa. Atualmente a Mensa tem mais de cem mil membros no mundo, sendo cinqüenta mil nos Estados Unidos. A Mensa Brasil foi instalada em 2002, com sede oficial em São Paulo e sucursal no Rio de Janeiro e atualmente conta com 1.800 membros “brilhantes”. Asimov foi membro e vice-presidente por muito tempo da Mensa, ainda que com relutância e descrevia os colegas “brilhantes” como “intelectualmente combalidos”, exercia com mais prazer a presidência da Associação Humanista Americana (AHA), uma organização educacional norte-americana fundada em 1941, que promove o “Humanismo”, uma filosofia de vida progressiva, que afirma a capacidade e a responsabilidade do ser humano levar uma vida pessoal de realização ética que aspire o bem maior da humanidade. Naturalmente, tal como Asimov também sou adepta da filosofia humanista, apesar de nos últimos tempos já não sinta mais a mesma convicção da juventude e nem mesmo pretenda mais mudar um mundo que não deseja ser mudado. Nos últimos tempos penso que se eu conseguir apenas seguir em frente já está ótimo, pois me sinto uma pessoa “normal”, do tipo que tentou muitas coisas, fracassou em todas e descobriu que o caminho para o inferno está pavimentado de boas intenções como bem concluiu Marx, e que querendo fazer o bem, corre-se sempre o risco de ser mal compreendido e fazer da própria vida um inferno. 

         Nestes dias turbulentos e tenebrosos, em que a esperança só pode existir para quem tem Fë em algum “teísmo” sobrenatural, como a existência de uma inteligência superior, a qual chamamos de DEUS, não vejo como a aventura do ser humano criar uma “coisa” a sua própria imagem e semelhança pode acabar bem no futuro. Por mais brilhantes que sejam as mentes que estão trabalhando para a Microsoft, para o Google, para a Meta e para Apple, as experiências recentes com seus Chatbots, programas de computador que tenta simular um ser humano na conversação com as pessoas, com o objetivo de dar impressão ao interlocutor humano que está falando com uma pessoa e não com uma “coisa”, ou seja, um programa de computador. Para quem está familiarizado com o uso da Inteligência Artificial desde o surgimento dos smartphones, não é tarefa fácil, pois os bots já estão ativos nas redes sociais e os seus algoritmos há muito tempo mais, e existem exércitos deles trabalhando para a Cultura do Ódio, são eles que impedem o uso das palavras “mamilos”, “paz”, “Deus”, “Jesus” e outras, vigiando o que os internautas postam e, até, eles chegam a entrar numa “discussão”, para testarem suas capacidades ilusórias. Infelizmente, está cheio de pessoas inocentes que acreditam piamente que a “coisa” é uma pessoa, que doido é quem diz que não. Nisto tudo, são as crianças os maiores alvos e também as maiores vitimas, e não há uma forma de deter a subversão crescente. Até agora eu não vi uma “mente brilhante” levantar a sua voz para dar um grito de alerta e impedir que se continue a caminhar para o precipício, afinal fortunas estão sendo feitas com tudo isso. A sociedade contemporânea pode ser a mais rica que já existiu, com mais bens materiais, com tecnologia superior, com o maior avanço cientifico possível, capaz de ir à Lua e planejar a invasão de Marte, mas nunca se viu na face da Terra tanta desigualdade, tanta pobreza, tanta desumanidade. Alguns se deslumbram com o que parece ser um mundo “brilhante”, mas estão ofuscados e cegos pela própria luz de seu egoísmo. 

        Vivemos um tempo tão tenebroso, que como profetizou Jesus (Mateus, 24), que se não forem abreviados pela misericórdia de Deus estes dias, ninguém sobreviverá. Nós vivemos planejando um futuro que está para chegar, deixamos de viver o “agora” e dar valor ao que importa, estamos nos perdendo embriagados do cálice de paixões das nossas ambições, a ponto que não conseguimos prestar mais atenção aos sinais do destino e nem aceitar quando Deus em sua sabedoria incomensurável nos diz “NÃO”. Queira o ser humano ou não, ele não decide nada, quem decide e sempre decidiu foi DEUS, mesmo quem não acredita na hora do terror e da morte clama por Ele. Que bastasse ao incrédulo vislumbrar por uma vez que fosse o Universo e ter consciência da sua própria insignificância, do pouco valor da sua vidinha que pode ser finita num instante, quem dera houvesse mais humildade e menos arrogância, quem dera toda pessoa pudesse dominar seu egocentrismo e ser capaz de olhar o mundo com misericórdia e compreender que Deus é capaz de provocar um abalo mais violento do que a sua pueril imaginação possa conceber.

         Enquanto o ser humano é conduzido pela imaginação de sua história, pode mergulhar nela, como se mergulhasse num lago. Sonha, mas não consegue acordar, isto é ilusão, uma vida sonhada. Mas, um dia, sem aviso prévio, pode-se dar o despertar. Então se emerge do lago e finalmente se começa a viver a Realidade Absoluta. Não importa se o preço a se pagar será a solidão de um eremita, mas a sensação de contentamento de se estar vivo plenamente é muito mais gratificante do que ser um morto-vivo em meio a zumbis. Que o despertar da ilusão não seja mais uma ilusão, mas a fé e a esperança de um mundo melhor não só para si mas para todos os seres vivos. 

         Quando o escritor britânico Charles Dickens (1812 - 1870) escreveu em 1859 a introdução para o seu romance de ficção histórica “A tale of Two Cities” (Um Conto de Duas Cidades), nunca imaginou que escreveria a melhor abertura de um romance já escrita em todos os tempos. A qual aqui transcrevo para encerramento deste meu longo pensar e reflexão sobre o antes, o agora e o depois de um tempo que dobra sobre si mesmo e já se finda, e nada mais é. 

         “Foi o melhor dos tempos, foi o pior dos tempos; a era da sabedoria, a era da tolice, a época da crença, a época da incredulidade; a estação da Luz, a estação das Trevas; a primavera da esperança, o inverno do desespero; tínhamos tudo diante de nós; íamos todos direto para o Céu, íamos todos para o lado oposto – em suma, era um período tão semelhante ao atual, que algumas de suas autoridades mais barulhentas insistiam que fosse recebido, para o bem ou para mal, apenas no grau superlativo da comparação.”
                                     DEUS MISEREATUR NOSTRI, QUIA NESCIMUS QUID FACIMUS 
                                           (Deus tenha piedade de nós, pois não sabemos o que fazemos.)