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quarta-feira, 21 de novembro de 2012

XVIII - JACOB FUGGER – O BANQUEIRO DO RENASCIMENTO


Após os dramáticos eventos do século XIV, tais como a perseguição à ordem dos cavaleiros templários (1311 – 1319) , a Guerra dos 100 anos (1339 – 1453), a Peste Negra (1334 – 1352) e o cerco ao Império Romano do Oriente pelos islâmicos (1326 – 1453), os quais estenderam-se até a primeira metade do século XV, a Europa teve que enfrentar uma das maiores crises da sua história. Os grandes cataclísmas apocalípticos da guerra,  da fome, da peste e da carestia deixaram um rastro de destruição nos campos e nos burgos comerciais recem surgidos, oriundos dos vilarejos formados ao redor dos castelos medievais e das feiras promovidas para o comércio da produção artesanal e agropecuária regionais. As intempéries climáticas que comprometeram as produções agrícolas e pecuárias, também afetaram as condições das estradas em muitos casos interrompendo o fluxo  transporte de mercadorias e comprometendo o abastecimento dos vilarejos. As mortes decorrentes da guerras, das doenças e da fome dizimaram quase toda a força de trabalho européia, sendo que não houve uma família européia que não tenha sido tocada pela desgraça. Tal sofrimento humano, que estendeu-se por mais de um século, deu contornos a esse tempo de um período de trevas, causando a perda de esperança e a uma idéia de “castigo divino”, que conduziu os sobreviventes a uma conclusão: o ser humano nasce só, morre só e sua sobrevivência depende apenas de si mesmo e de sua capacidade de adaptar-se às circunstâncias e superar as adversidades de seu destino.  
As consequências desse período que avassalou todas as crenças dos europeus inicialmente foi o surgimento de tropas de mercenários, constituidas de desertores dos exércitos reais e ex-cavaleiros das diversas ordens militares católicas, em ambos casos guerreiros desencantados com os ideais que um dia tinham abraçado, que passaram a lutar em troca de pagamento de quem contratasse seus serviços ou de quem pagasse mais, dando origem ao soldado profissional e remunerado. Nos campos o declínio do trabalho servil que já vinha ocorrendo devida a migração dos servos para os burgos em busca do trabalho remunerado, bem mais lucrativo, passa gradativamente a dar lugar à mão de obra remunerada, em razão dos movimentos de reivindicação da supressão das obrigações feudais e do regime de servidão. Por sua vez os senhores feudais cada vez mais passaram a integrar o a rede econômica urbana, desejosos de obterem lucros mais fáceis e cada vez maiores com a atividade de compra e venda. Muitos deles passaram a perceber que seria muito mais vantajoso eliminar a servidão e pagar salários aos trabalhadores de suas terras. A escassez de mão de obra após o período da grande crise européia resultou não só na valorização do trabalho, mas também na própria valorização da capacidade de cada indivíduo para exercer sua atividade profissional.
Um dos maiores exemplos do surgimento do indivíduo competente e produtivo em sua atividade deu-se no seio da famíla Médici, de origem russa que fixou-se na região da Toscania ao norte da Itália no século XIII, que através da transformação da lã e do comércio textil veio a adquirir a sua riqueza inicial. Durante o período da peste negra (1334 – 1352), a família  teve entre seus membros “físicos”, titulo que designava na época os praticantes de medicina, os quais fundaram o Hospital Tozzy Firenze, em Florença, que tornou-se renomado por toda a Europa, sendo responsável por salvar muitas vidas. O hospital deu aos Médici grande renome apesar de serem destituídos de nobreza, mas em razão do trabalho prestado galgaram uma posição aristocrática na sociedade florentina com tal sucesso que por sua influência poderosa não só passaram a governar Florença (1378) como em 1397, com a fundação do Banco Médici, a tornaram o grande centro econômico-financeiro, da Europa. Pode-se dizer que a família Médici é o primeiro exemplo do grandioso sucesso do poder burguês nascente na Europa, que naturalmente em razão da posição alcançada em algum momento passa a se revestir de títulos de nobreza, não devido ao tal “direito de nascença”, mas, sim, devido ao próprio mérito,  pela capacidade individual do indivíduo de exercer sua liderança alcançada por sua competência profissional.  

Um dos raros retratos pintados de Lorenço de Médici em vida
Quando em 1469, com apenas 20 anos, Lorenço de Médici (1449 – 1492) assumiu a direção  do Banco Médici, ele trazia na cabeça idéias adquiridas durante seus estudos em Veneza e Milão, assim como da sua própria experiência em viagens diplomáticas a serviço de seu pai, que o dotaram de um caráter conciliador. No que diz respeito a atividade bancária, não via com bons olhos a exploração financeira-econômica, sua incompetência para os negócios bancários revelou-se de pronto por sua incapacidade de cobrar o emprésitmo feito a Eduardo IV da Inglaterra para que se sustentasse no poder com o apoio dos barões inglêses, cuja vultuosa quantia nunca seria recuperada e obrigaria ao fechamento da filial do banco em Londres, em 1472. De modo que a decisão de Lorenço de dar ao banco uma função filantrópica caritativa assim como de patrocinador das artes, porquanto ele mesmo era um poeta e filósofo, usando dos fundos bancários para investir na modernização de Florença e na administração pública, levaria o Banco Médici a grandes perdas financeiras e de poder, tanto por seu descuido com os vastos negócios bancários, como pela liberdade dada aos seus administradores das filiais no estrangeiro e pela falta de uma administração central firme acarretando o fechamento das filiais uma a uma. Nem mesmo a boa relação que Lorenço mantinha com o sultão Mehmed II do Império Otomano, cujos negócios com o comércio marítimo otomanos foram no passado grande fonte de riqueza para os Médici, impediria que o Banco Médici perdesse seu prestígio econômico-financeiro na Europa.
Lorenço de Médici foi  em essência um grande estadista – apesar de ser tido como um tirano em razão das exigências das circunstâncias de seu momento histórico que instalara o caos e a necessidade do restabelecimento de uma nova ordem –, que como governate de fato de Florença buscou promover a conciliação estre os Estados da Itália em busca de uma união harmoniosa, conseguindo estabelecer um entendimento entre eles e um período de paz, que no espaço de alguns anos resultou no nascimento de uma nova cultura humanista.   
Máscara Funerária de Lorenço de Médici
Assim, foi como um mecenas que Lorenço cumpriria o seu propósito intimo de lançar uma semente transformadora do mundo ao seu redor. Não foi em vão que dedicou grande parte de sua fortuna a serviço das artes, menos ainda o fato de ter aliado o Banco Médici ao governo de Florença,  certamente se ele não tivesse agido dessa maneira nós jamais teríamos ouvido falar de Sandro Boticelli (1445 – 1510), Leonardo da Vinci (1452 – 1519), Erasmo de Roterdã (1466 – 1536), Nicolau Maquiavel (1469 – 1527) – o qual escreveu sua obra master "O Príncipe" analisando sua convivência com Lorenço –, ou Michelangelo Buonarroti (1475 – 1564) – que morou no Palácio Médici quando jovem – e todos outros mais, que em algum momento de suas vidas fizeram parte do círculo privilegiado de cabeças pensantes na reconstrução do mundo, partilhando uma filosofia neoplatônica, tão apreciada por Lorenço, que partia da noção da importância do ser humano e da necessidade do indivíduo cultivar-se através da cultura, procurando a um só tempo um constante aprimoramento do corpo e do espírito.
Em razão da decepção com o coletivismo, nasceu a valorização da individualidade e do objeto que a caracteriza, o corpo humano, suas sensações e sua capacidade racional. O que leva cada vez mais o grupo de pensadores que rodeava Lorenço a transformar as idéias que entre eles vicejavam em obras de arte, usadas como uma espécie de “propaganda subliminar” para divulgar esse novo pensamento, em tudo revolucionário em seu tempo, sem entrar assim em confronto direto com a Igreja Católica de Roma, porquanto esta surgente filosofia humanista que valorizava a razão humana como única fonte do conhecimento entrava em confronto com o pensamento escolástico da igreja cristã, que afirmava que o conhecimento humano era resultado de uma mistura de fé e razão, dependente da graça divína e do esforço humano, porquanto a natureza humana tendia ao mal, condenada pela marca do pecado  original. Contudo, quando o filho de Lorenço, João Lorenço de Médici (1475 – 1521) tornou-se o papa Leão X (1513) não só era impregnado pelas idéias de seu pai como elas estavam espalhadas pela Europa de tal forma que uma verdadeira revolução teria seu início.
Foi por causa de Lorenço de Médici que Leonardo da Vinci foi empregado em 1482 na corte do Duque de Milão Ludovico Sforza, um grande aliado de Lorenço. Quando Leonardo estava às voltas com o projeto de um monumental cavalo de bronze para o duque chegou à corte de Milão em 1497 o grande matemático toscano e frade franciscano Luca Pacioli (1445 – 1517), vindo também à convite ducal de trabalho. Assim,  ambos estando ao serviço da corte de Sforza, Leonardo e Paccioli não só se conheceram como tornaram-se amigos, moraram juntos e trocaram idéias geniais. Com o cerco de Milão pelas tropas francesas em 1499, Leonardo e Pacioli fugiram para Veneza, onde Leonardo empregou-se como arquiteto militar e engenheiro. Mas, logo foram para Florença e ficaram hospedados no Monastério de Santissima Annunciata, contudo o talento de engenharia militar e para fazer mapas de Leonardo foi requisitado em 1502 pelo novo governante de Florença, César Borgia (1475 – 1507), filho bastardo do papa Alexandre VI. Assim, Leonardo da Vinci passou a integrar o grupo que acompanhava César Bórgia em suas campanhas militares com um exército de mercenários italianos e suiços em nome do papa,. Nesta ocasião Leonardo teve como seu companheiro de destino ninguém mais que Nicolau Maquiavel. Mas, Leonardo retornou à Florença em 1503, ficou por lá até que foi chamado de volta à Milão pelo Duque de Sforza em 1506, ficando entre idas e vindas à Florença para tratar de negócios familiares até 1508, quando então fixou residência em Milão, onde permaneceu até que o papa Leão X, filho de Lorenço Médici, o chamou à Roma em 1513, onde juntou-se ao velho companheiro de reuniões no palácio de Lorenço de Médici, Michelangelo e o novo protegido dos Médici, o pintor Rafael, no trabalho de construção e acabamento da Basílica de São Pedro. E foi por indicação de Leão X, que Leonardo foi servir à corte do novo rei da França, Francisco I em 1516,   onde faleceu em 1519, para tristeza de seu amigo e admirador, Francisco I.
A importância do frade Luca Pacioli na vida de Leonardo Da Vinci é raramente mensurada, possivelmente porque carece de reconhecimento a genialidade matematica desse monge franciscano, pouco comentado pelos historiadores, cuja a obra não só foi fundamental para os projetos surpreendentes de Leonardo da Vinci como à estruturação econômica e financeira do processo capitalista, que passará a se instalar na cultura européia, dando as condições necessárias ao lançamento de todo um novo processo de desenvolvimento que assegurará o progresso da sociedade humana até os nossos dias.
      Frade Luca Pacioli e assistente por Jacobo de Barbieri (antes de 1516)
Luca Pacioli nasceu no vilarejo de Borgo de Sansepolcro,  na região da Toscania ao norte da Itália, em 1445. Sua educação inicial se deu em linguagem vulgar e não em latim, recebendo aulas de seu conterrâneo o matemático e pintor Piero della Francesca (1412 – 1492). Aos vinte anos foi para Veneza para ser preceptor dos filhos do comerciante Antonio Rompiasi. Enquanto desempenhava essa função deu continuidade aos seus estudos matemáticos e geométricos em uma escola pública dependente da Universidade de Veneza, e começou a escrever seu primeiro livro. Quando seu empregador faleceu em 1470, Pacioli recebeu o convite de um dos primeiros investigadores da perspectiva geométrica, o arquiteto León Battista Alberti (1404 – 1472), para ir para Roma. E, em 1472, Pacioli ingressou na ordem de São Francisco de Assis.
Já como frei franciscano Luca Pacioli  se mudou em 1475 para a cidade de Perugia para lecionar matemática e ocupou a primeira cátedra de Matemática em sua Universidade de 1477 a 1489, porém em 1481 passou uma temporada em Zara (atual Croácia) onde escreveu um manual de matemática de fácil compreesão em linguagem vernacular para seus estudantes. Em seu retorno à Perugia passou uma temporada em Florença, possivelmente frequentando o círculo dos pensadores e artistas humanistas neoplatônicos de Lorenço de Médici. Certo é que quando do seu retorno à Universidade de Perugia em 1486 obteve o título de Magistrado e lecionou Matemética de 1486 a 1489. Mas, devido a sua saúde frágil e esgotado Pacioli abandonou a docência e fixou residência em Roma. Em 1490, a convite do duque de Urbino, Guidobaldo de Montefeltro, ensinou teologia e matemática em Nápoles, mas logo retornou para sua cidade natal,  permanecendo em Sansepulcro de 1490 a 1493 preparando a sua obra master “Summa de Arithmetica, Geometria, Proportioni et proportionalitá”. Em 1493 chegou a lecionar em Pádua, mas assim que terminou a redaçãos da sua obra mudou-se para Veneza para supervisionar os trabalhos de impressão, pois a esta altura  as impressoras de Gutemberg já tinham se espalhado por todas grandes cidades européias.
Summa de Arithmetica, Geometria, Proportioni et Proportionalitá
Em 1494, o livro de quase 600 páginas de Pacioli chamado “Summa de Arithmetica, Geometria, Proportioni et proportionalitá” foi publicado em Veneza trazendo um tratado sobre a metemática comercial, o chamado “método veneziano” – o qual segundo algumas fontes teria se originado do método introduzido por Giovanni de Mádici na administração contábil do Banco  Médici –, e que Pacioli fora instruído em Perugia a não ensinar aos seus alunos, porquanto era considerado a razão do sucesso comercial da elite dos negociantes de seu tempo, sendo essa uma das causas que o fez abandonar a docência. 
Mas do que trata esse secretíssimo “método veneziano”?  Em seu “Traestus XI – Particularis de computis et seripturis”, Pacioli por 36 capítulos escreve o tratado de contas de contabilidade usando a partida dobrada, onde define as regras fundamentais do príncipio matemático e o da partida dobrada”:
1ª. Não há devedor sem credor ( ou débito sem crédito);
2ª. A soma que se debita a uma ou várias contas tem que ser igual a que se credita (ou cada débito corresponde a um crédito de igual valor);
3ª. Todo que recebe deve a pessoa que dá ou entrega;
4ª. Todo valor que ingressa é do devedor e todo valor que sai é do credor e
5ª. Toda perda é devedora e toda ganância (perspectiva de lucro) é credora.
Em seu tratado Pacioli aconselha o uso de quatro livros de acompanhamento de contas: o de inventário e balanços, o de comprovantes, diários e o maior, que correponderiam ao Livro Razão (ordem sistemática, que demonstra resultados de lucros ou de perdas), ao Livro de Contas Correntes,  ao Livro Caixa (recursos disponíveis, dando o conceito de que o valor em caixa é igual ao capital consolidado disponível para uma transação) e ao Livro Diário (ordem cronológica)  e, como são conhecidos na contabilidade moderna.  Pacioli ensinou como essas contas deveriam ser feitas em colunas demonstrativas organizadas em folhas de balanço de uma categoria contábil de forma a relatar a atividade do fluxo de entrada e saída de valores, e avisava que uma pessoa não devia dormir antes de igualar os débitos aos créditos, ou seja os ganhos aos gastos, para manter suas contas financeiras em dia. 
Ora em tempos de crises comerciais como no final do século XV, o livro de Pacioli foi um salto qualitativo nas relações comerciais européias onde a falta de controle da administração dos negócios era sempre a causa primeira de levar os empreendimentos comerciais à falência. Não é sem motivo que Luca Pacioli é considerado nos dias atuais o pai da “contabilidade” e o criador do conceito de “capital” (=  dinheiro em “caixa”, em refer6encia a caixa usada pelos comerciantes venezianos para guardar o dinheiro das negociações).
Um dos poliedros desenhado por Da Vinci para Pacioli
Por conta do sucesso do seu livro é  que Pacioli foi chamado por Ludovico Sforza para sua corte em Milão em 1496 e deu aulas de matemática à Leonardo Da Vinci enquanto conviviam juntos. O resultado da intíma relação entre esses dois gênios foi o livro escrito por Pacioli em Milão de 1496 a  1498, chamado “Da Divina Proporção”, onde ele permeou a Matemática com uma  especulação neoplatônica, apresnetando um estudo de perspectiva que revolucionaria desde a arquitetura como sem dúvida a prática artística da pintura e da escultura. Em paga dos preciosos conhecimentos recebidos do frei franciscano, Leonardo da Vinci realizou os desenhos dos sessenta poliedros que aparecem no livro e outros temas explicativos, que tornaram essa obra uma das mais importantes do tempo renascentista e explica o grande progresso nas obras de artes e mesmo na aquitetura a partir de sua publicação. Contudo, é preciso não esquecer que o conhecimento matemático fornecido por Leonardo Fibonacci (1170 - 1250) em sua obra, responsável por introduzir a numeração com digitos de zero a 9 como novo sistema numeral, o livro de cálculo e outros conceitos matemáticos  foi deveras fundamental para que Pacioli pudesse dar tanto uma natureza prática à Matemática em sua obra de contabilidade, como uma natureza especulativa com seus estudos de perspectivas e frações.


Divina Proporção


Após a já comentada fuga de Leonardo e Pacioli de Milão em 1499, passando por Mantua e seguindo para Veneza e indo para Florença, logo ambos se separariam, Pacioli retomou a docência dando aulas nas Universidades de em Piza e Bolonha a partir de 1500. Em 1505 regressou a Roma permanecendo até 1508, quando viajou para Veneza para supervisionar a publicação “Da Divina Proporção”, que saiu da prensa em 1509, retirando-se depois para sua cidade natal em razão de sua delicada saúde. Mas, seu descanso não durou muito, pois do mesmo modo o papa Leão X,  chamara a Leonardo da Vinci para ajudar na obra da Basílica de São Pedro em 1513, Luciano Pacioli também foi convocado por Leão X em 1414, sendo instalado como professor da Sapienza, a Universidade da “cidade eterna”, em Roma, onde os dois amigos, Leonardo e Pacioli, puderam se reencontrar pela última vez. Pacioli veio a falecer em 1517, em sua cidade de nascimento em Borgo de Sansepolcro, deixando atrás de si uma semeadura de conhecimento tão vasta, que daria tantos e tantos frutos, que nem ele mesmo com a sua genialidade matemática  poderia ter calculado que seria possível.




Neste mesmo período a influência germânica passara a se expandir num processo de germanização aos territórios avizinhados aos ducados germânicos, absorvendo fazendeiros, comerciantes e artesões, atraindo também um crecente número de refugiados judeus perseguidos em outras partes da Europa  em razão do progresso e do desenvolvimento comercial da região. Assim, o final do século  XV é marcado pelo aumento da influência da emergente burguesia germânica oriunda das atividades comerciais da Liga Hanseática (Hansa), a qual expandia-se com a adesão de um número crescente de cidades mercantis ao norte da Europa, formando uma rede comercial na qual os germânicos passaram a adquirir cada vez mais poder.
Com essa burguesia germânica que se fortalecia às expensas da aristocracia feudal, surgiu o conceito de “propriedade”, que passa a substituir as antigas formas de juridição, que davam limites dentro dos quais a autoridade podia ser exercida. A “posse” de terra deixa de ser um benefício restrito à hierarquia política imperial romana da nobreza e da qual outros poderes derivavam, para vir a ser uma “propriedade” passível de ser adquirida e comerciada e da qual derivavam não só direitos, mas também  as obrigações. No entanto, note-se que este tipo novo de juridição não contava a este tempo com o amparo de uma legislação, a qual não existia ainda virtualmente. As práticas jurídicas, a este tempo, se davam com base em costumes tradicionais e nas cortes jurídicas as leis eram descritas segundo as práticas comuns.
A influência comercial de Bruges em 1487
Em termos de divisão política o território germânico como Império Sacro Romano era dividido em cinco ducados. Durante o século XII o duque de Swabia, Rodolfo de Habsburg (1218 – 1291)  adquiriu os ducados da Áustria e da Styria, e em 1273, fundou a dinastia alemã da casa dos Habsburg, que passou a expandir sua influência na Europa através de casamentos e pelos ganhos de privilégios papais. Desse modo no século XV o filho de Frederico III de Habsburg (1415 – 1493), Imperador do Sacro Império Romano e da infanta Eleanor de Portugal, Maximiliano II de Habsburgo (1459 – 1519) casou-se com a única neta do Duque de Borgonha, Filipe III, o Bom, que havia fixado sua corte na poderosa cidade comercial de Bruges, atraindo para ela muitos banqueiros e personalidades proeminentes, levando a cidade a ser consideras a “Veneza do Norte”. De seu casamento com a Duquesa Maria de Borgonha e Brabant (1457 – 1482) nasceu Filipe I de Habsbugo, cognominado o Belo, fato garantiu aos Habsburgo o domínio comercial da região ao norte da Europa. Por sua vez, Filipe I, o Belo, casou-se com Joana de Castela, a filha de Ferdinando II de Aragão e de Isabel de Castela, os reis católicos da Espanha, cuja a irmã Catarina de Aragão casou-se com Henrique VIII, rei da Inglaterra, fato que levaria Filipe I, o Belo, a instalar uma representação da casa de Habsburg e de sua corte em Londres. E será do casamento de Filipe I, o Belo, com Joana de Castela que nascerá uma das figuras mais proeminentes do século XVI, Carlos V (1500 – 1558), Imperador do Sacro Império Romano-Germânico. (1512), que por sua vez casou-se com a filha de Dom Manuel I de Portugal e Maria de Aragão (filha também de Ferdinando II e Isabel, reis católicos da Espanha). Tais casamentos deram origem ao famoso círculo de poder em torno da França, o chamado “anel de ferro dos Habsburg”, responsável por uma série de acontecimentos determinantes do futuro dos reinos europeus.
Mapa do "Anel de Ferro Habsburg"

É neste cenário da conquista de poder dos Habsburgo em busca do domínio comercial europeu, que irá surgir um personagem oriundo da emergente burguesia germânica cujo papel excederá amplamente as expectativas de ascensão ao poder de um homem comum destituído de nobreza, podendo-se dizer que ele foi fundador do ideal capitalista do “made self man” , o nome desse home era Jacob Fugger.
Jacob Fugger por Albecht Dürer – 1518
Jacob Fugger (1459 – 1525) nasceu na cidade germânica de Augsburg, uma cidade que apesar de não fazer parte da Liga Hansa veio a ser cada vez mais beneficiada pelo progresso decorrente dela, em razão da qualidade de suas manufaturas, de sua tecelagem e  de seu comerciantes de prata, ouro e cobre. Ele era o nono filho de dez filhos de uma família de comerciantes de Augsburg. Dois de seus irmãos morreram em 1460 e quando ele tinha dez anos seu pai morreu também, assim seus irmãos mais velhos Ulrich Fugger (1441 – 1510) e George (1453 – 1506) tomaram à frente dos negócios da família e começam a criar as bases para o crescimento da companhia, abrindo negócios de manufaturas em Nuremberg e Veneza. Ocorreu que em 1473 uma grande oportunidade bateu à porta dos Fugger, Ulrich foi encarregado de fornecer as novas vestimentas para o imperador Frederico, seu filho Maximiliano I e seu séquito em sua viagem de visita ao Duque de Borgonha, Carlos, o Calvo, (filho de Filipe III, o Bom) quando se daria o noivado de sua filha Maria com o jovem Maximiliano. Assim, Ulrich financiou toda a opulência desejada pelo monarca e pelo empréstimo recebeu o brasão de família ornado com um lírio em 1473. Esse foi o início de uma relação muito lucrativa entre a família Fugger e os Habsburg.
No mesmo ano de 1473, Ulrich Fugger decidiu que seus dois irmãos menores Jacob e Marcos deveriam seguir a carreira clerical. Marcos, o caçula, ficou em Roma encarregado de lidar com as remessas de dinheiro da venda de indulgências para a corte papal. Jacob foi encaminhado para o mosteiro franciscano em Herrieden, na Alemanha, onde permaneceu até a morte de seu irmão Marcos em Roma, em 1478. Então, Ulrich considerou que com o crescimento dos negócios, agora com os irmãos Fugger reduzidos a apenas seis, seria melhor encerrar a carreira clerical de Jacob e o instalou na Fondaco dei Tedeschi, sede dos negociantes germânicos em Veneza, para ser instruído nas artes comerciais venezianas.
Em seu primeiro ano de estudos na Itália, Jacob acompanhou seu irmão Ulrich em suas constantes visitas à Roma e à Florença, onde teve acesso tanto ao círculo de poder papal como ao círculo de influência  de Lorenço Médici assim como de outros poderosos daquele tempo. Portanto, Jacob Fugger teve a rara oportunidade de conhecer as sutis conexões entre os comerciantes e os príncipes e a igreja. Durante a sua permanência na Itália por nove anos, de 1478 a 1487, Jacob se dedicou à sua formação como negociante, estudando o famoso método veneziano das partidas dobradas, que seriam divulgadas por Pacioli em sua “ Summa” , publicada em Veneza, no ano de1494. Não se pode desconsiderar a possibilidade de Jacob Fugger ter tido algum tipo de contato Luca Pacioli, pois naquele tempo, praticamente todas pessoas influentes se conheciam entre si. As idéias humanistas neoplatônicas que vicejaram na corte de Lorenço de Médici sem dúvida transpareceram na formação do caráter de Jacob Fugger, refletindo-se com a passagem dos anos em vários aspectos da condução de sua vida privada e de seus negócios.
Após ter tomado intimidade com todos os negócios da família pela Europa em sucessivas viagens, seria em Salzburgo que Jacob demonstrou pela primeira vez seu notável talento comercial, ao fazer um empréstimo aos trabalhadores autonomos das minas de prata de Salzburgo necessitados constantemente de capital. Jacob emprestou o dinheiro com o uso de boletos da dívida e pediu uma participação na mineradora, introduzindo-se assim no negócio de mineração e eliminando intermediários. Esse negócio o conduziu em 1485 à gerência da filial dos negócios da família Fugger em Innsbruck, de onde dirigiu sua atenção para os negócios das mineradoras na região do Tirol.
O primeiro grande empréstimo negociado por Jacob Fugger foi para o Arquiduque Segismundo, governante da rica zona mineira de Schwaz em 1487, marcando de fato a fundação do Banco Fugger. O arquiduque era o proprietário único dos direitos de um arrendatário privado de mineração, que pagava-lhe com uma parcela de seu usufruto. Contudo, o arquiduque sempre envolvido em dívidas por conta de seus gastos desmedidos era obrigado a  pedir sempre empréstimos para o sustento de sua corte, onde mantinha seus quarenta filhos bastardos e para a sua intensa atividade construtora. Em 1488 a dívida do arquiduque com Jacob Fugger era de mais de 150 mil florins, uma verdadeira fortuna que o duque não teria como pagar. Jacob então ofereceu uma proposta ao arquiduque de que faria os pagamentos diretamente aos credores dele, à casa real, aos artesões, aos soldados e todos à serviço do arquiduque, em contrapartida Jacob receberia os pagamentos diretamente dos devedores do arquiduque, suas garantias sobre os altos funcionários e principalmente os pagamentos das concessões das minas do Tirol. Ou seja, em poucas palavras, com a proposta aceita pelo arquiduque Jacob trocou a dívida do arquiduque com ele pelo direito de administrar economicamente e financeiramente a região do Tirol e inclusive a própria vida da corte do arquiduque, como resultado Jacob obteve as conexões necessárias para conseguir logo depois o monopólio da prata no Tirol. Esse foi o início de um extensivo envolvimento da família Fugger com a mineração e os metais preciosos, que transformariam os Fugger em banqueiros, permitindo que tivessem domínio sobre a casa da moeda do Tirol – a encargo também de Jacob –, podendo comprar o marco da prata a cinco florins e revendê-lo a oito, podendo também duplicar seu valor ao aliar a prata com o cobre.
Em 1489, Jacob Fugger encontrou-se com o jovem Maximiliano na feira de Frankfurt, o estreitamento da amizade entre ambos resultou em 1490 na abdicação do arquiduque Segismundo a favor de Maximiliano, motivada pelo julgamento público da má administração dos territórios tiroleses por Segismundo, de modo que todos créditos do arquiduque passaram Maximiliano, créditos estes que continuaram sendo admistrados pelo Banco Fugger, logicamente. Logo, os Fugger tornaram-se os mais importantes prestadores de serviços financeiros dos Habsburg, porém quando Maximilano subiu ao trono demonstrou ser um gastador muito maior do que algum dia o fora o arquiduque Sigismundo, o que colocou o novo imperador também nas mãos dos banqueiros Fugger, porém foi com o apoio inquestionável de Jacob Fugger que a casa dinástica dos Habsburgo tornou-se dominante no Sacro Império Romano.
Com o prestígio econômico-financeiro e político em alta, restava a Jacob Fugger a ascenção social tão desejada, assim ele casou-se em 1498 com uma Grã-burguesa (ou grã-cidadã) de Augsburg, Sibylla Artz, abrindo caminho para que ele se elevasse na aristocracia social como Grão-burguês (ou grão-cidadão) de Augsburg, chegando mais tarde até a ter um assento no conselho da cidade. Pelos serviços prestados aos Habsburg, Jacob seria elevado a nobreza do Sacro Império Romano em 1511, com o título de "conde". Os serviços indispensáveis de jacob para o sucesso das grandes ambições de domínio econômico da Europa pelos Habsburgo, agregou a ele não só a fama do homem mais rico da Europa mas como o de maior banqueiro que a Europa já tinha visto até então. Assim, naquele tempo, tal como alguém já o disse, não saber quem era Jacob Fugger eseria o mesmo de aguém hoje não saber quem é Bill Gates!!!
Jacob Fugger tinha um verdadeiro espírito capitalista, como negociante domínou o comércio do papel, em grande procura por causa da disseminação das impressoras (Gutemberg) que permitiam a publicação de livros em massa, assim como imperava sobre o comércio de especiarias, bens de luxo, perolas e gemas preciosas. Por conta de seus negócios comerciais patrocinou financeiramente as viagens marítimas de Vasco da Gama para a Índia, de Francisco de Almeida e de Fernando de Magalhães e de ninguém mais que Pedro Alvares Cabral, descobridor do Brasil. Jacob Fugger foi o primeiro a investir no Brasil, fazendo de Fernão de Noronha representante de seus interesses na nova colônia portuguesa. E seus negócios com os navegadoras e as terras novas eram extremamente facilitados por conta do “anel de ferro dos Habsburg” e suas alianças familiares com Portugal e Espanha.
Fugger era movido não só pelo seu desejo de subir socialmente numa hierarquia européia engessada pelo culto pessoal dado pelo direito de nascimento da nobreza, ele tinha paixão não por apenas fazer algo, mas por ter lucro com o que fazia e obter assim cada vez mais riqueza. O dinheiro para ele era um fim e não apenas um meio, em razão disso o conhecimento que ele obteve na Itália da “arte da contabilidade”, não era para ele meramente uma técnica contábil, mas bem mais do que isso, Fugger via na contabilidade o seu real propósito que era o de auxiliar a obter mais e mais riqueza.
Agência e Comércio do Banco Fugger  (1495 -1525)
Jacob viajava regularmente às suas sucursais na Europa, nas quais instara um método administrativo deveras eficiente, tendo um diretor para cada uma com um time de funcionários constituído de dez contadores, dez caixas, dez escriturários, dez secretários e etc., empregados por um contrato de duração determinada de 6 à 8 anos. Fugger mudava seguidamente seus diretores de uma sucursal para outra para impedir que estabelecessem laços pessoais e profissionais nas cidades e eles não tinham o direito de fazerem negócios por conta própria. Jacob muito ciente da necessidade de proteger seus interesses formou uma rede de informação, comparável a um "serviço secreto" de espionagem,  e, igualmente, estabeleceu um serviço próprio de correios, de modo que todas as correspondências de negociações entre as partes envolvidas eram obrigadas a passarem pelas mãos do agente de Fugger, em Innsbruck. Paralelamente, Jacob Fugger usou parte de sua fortuna patrocinando não apenas a ordenação de padres como exércitos de mercenários, particularmente o primeiro contingente de mercenários suiços pedido pelo papa Julio II,  pedido à Confereação Helvética em 1505, que passou a ser conhecido como Guarda Suiça do Pontífice em 1506, e que serviu sob às ordens de César Borgia, investimentos que garantiram ao Banco Fugger ter o papado entre seus principais clientes.
Jacob Fugger estabeleu uma espécie de “arte da riqueza”, considerando que o racionalismo econômico era um requisito fundamental para o sucesso dos negócios. Ele era um desapaixonado, combatia o otimismo mal colocado, sempre colocando-o sob a luz de um escrutínio racional. Defendia a idéia de que apenas quando todas as medidas de precauções foram tomadas o otimismo se fazia necessário para que qualquer empreendedor se justificasse na tomada de decisões. Uma de suas máximas era: “en affaires comme en affaires”, isto é, negócio é negócio e é preciso negociar com isso.
Jacob Fugger se ateve à reflexão de Maquiavel e a seu conselho que “o verdadeiro estadista deve manter a cabeça calma e procurar apenas o que é realizável”, ou seja, não buscar lucros excessivos, mas reconhecer os limites apropriados de cada transação, esta seria a chave do segredo da força e do poder. Ele considerava a segurança de cada empreendimento, inclusive aquelas que não tivessem sido aventadas em termos de longo prazo, de forma a não gastar energia em várias oportunidades recorrentes constantemente presentes sob todas condições de negócio. Ele considerava que era preferível negócios menores mas certos e lucrativos do que grandes negócios mas mais arriscados, e foi assim com a soma de pequenos negócios que ele adquiriu o monopólio europeu da prata e lucraria absurdamente com o ouro do novo mundo trazido nos galeões espanhóis.
Sabiamente, Jacob Fugger adotou para si um conselheiro jurídico, o humanista Conrad Peutinger (1465 – 1547), que estudara Direito na Universidade de Pádua, vindo a ocupar o cargo de secretário adminstrativo de Augsbugo em 1497. Assim, o moderno jurísta com espírito forjado pelo Direito Romano e pela individualização pagã do neoplatonismo florentino e que dava às costas à organização social solidária cristã germânica uniu-se ao moderno negociante que não aceitava os limites do “altruísmo” cristão para seu desejo de adquirir lucros e estabelecer empreendimentos. Dessa parceria racionalista um novo rumo legal germânico foi definido, responsável pela defesa legal do direito das companhias comerciais, dos comerciantes e dos produtores de calcularem o próprio preço das mercadorias que negociavam e da tolerância com os monopólios capitalistas e cartéis.  Sob a influência de Jacob Fugger, Peutinger escreveu: “Todo comerciante é livre para vender suas mercadorias como queira, como possa e como escolha. Nesta ação, ele não comete pecado contra a lei canônica, nem é culpado de uma conduta antisocial. Por conta dessa lei canônica ocorre regularmente dos comerciantes, para prejuízo deles, serem forçados a venderem suas mercadorias mais baratas do que eles as compram.” Da cooperação entre Fugger e Peutinger surgiu uma nova política comercial imperial, que estabeleceu uma “legislação comercial”, algo até então inexistente e que seria adotada em vários centros comerciais europeus.
O Banco Fugger sob a direção de Jacob Fugger tomou cada vez mais o lugar do Banco Médici, que enfraquecido com a má administração perdia seguidmente os seus contratos e sua influência política para seu único concorrente. Jacob Fugger não era só muitíssimo rico, mas também politicamente protegido pela ligação de sua fortuna financeira ao poder político dos Habsburgo, que não só eram governantes da Áustria e de grande parte da Alemanha, mas em dado tempo tornaram-se também governantes da maior parte do Novo Mundo. Portanto, não é de admirar que Jacob Fugger passou a ser presença imprescindível na mesa de negociação dos reis europeus.
O grandioso poder de Jacob Fugger deveu-se à sua capacidade de sustetar com fidelidade e convicção os interesses dos Habsburgo, os apoiando com o poder de sua riqueza e do seu crédito a política imperial nas esferas temporal e espiritual. Porém, Jacob Fugger, prudentemente, jamais foi tão longe que seu poder fosse exposto e descoberto. Ele permitia-se ao orgulho pessoal tendo consciência de ser indispensável e de seu extraordinário poder – uma posição ímpar nunca antes alcançada por um homem comum–, mas guardava para si, sem nunca mostrar nenhum traço de vanglória. E, ele com calma fria e calculada fazia objetivamente seus negócios. Essa postura discreta foi sem dúvida a razão de seu grandioso sucesso em todos os aspectos de sua vida e pela conservação de sua influência poderosa até o fim dos seus dias, sendo ele, direta ou indiretamente, responsável pelos caminhos do destino europeu a partir do século XVI, como nós poderemos constatar no próximo capítulo.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

XVII – UMA JORNADA RUMO AO DESCONHECIDO


A mitologia grega deu para a civilização Ocidental o seu mito mais forte: ZEUS (que significa em grego deus do céu, também dito Dia, Diós ou Dyeu que significa “brilhar do céu”).  Segundo os textos gregos ele foi o todo-poderoso da terceira geração dos deuses, filho de Crono e Réia teve sua vida salva por sua mãe com a ajuda da sua avó Gaia, a Terra Máter, que no passado desgostosa com o filho Cronos profetizara que ele seria derrubado do seu poder por um filho, o que levou o deus a devorar os filhos assim que nascessem. Réia estando prestes a dar à luz fugiu e escondeu-se numa caverna  e assim que Zeus nasceu, seguindo o conselho de Gaia, embrulhou uma pedra num manto e deu para Cronos comer, assim enganando o deus.

ZEUS – Dyeus Phater ("Pai do Céu")
Zeus cresceu longe dos olhos do pai e teve como seu primeiro amor a neta de Gaia, Métis, uma deusa descrita por Hesíodo como “aquela que sabe mais de todas as coisas do que os deuses e os homens”. Métis personificava a sabedoria, a habilidade e a astúcia. Ela tinha a capacidade de prever todos os acontecimentos e assim como a capacidade da metamorfose, podendo se transformar em qualquer coisa que quisesse de uma montanha a um mero inseto. E será Métis que irá ajudar Zeus a enfrentar o pai Cronos e destroná-lo. Após a vitória Zeus tomou Métis como sua esposa, contudo sua avó Gaia profetizou que Métis daria dois filhos para Zeus: Atena (ou Tritogenia) que seria igual a Zeus em força e sabedoria e o segundo seria o rei dos homens e dos deuses, seria mais poderoso que Zeus e eventualmente o destronaria.

Zeus tal como deuses e seres humanos também estava sujeito ao princípio de ordem natural, ou seja, o destino, que era personificado por Moira. Assim quando Métis ficou grávida, Zeus a fez se transformar numa mosca e a enguliu, para que ela não viesse a dar a luz. Atena cresceu dentro do ventre de Zeus, causou-lhe uma tremenda dor de cabeça e o deus foi obrigado a permitir que fosse libertada. Assim, a poderosa deusa Atena saiu da cabeça de Zeus já adulta. A profecia de Geia se cumprira, pois nem Zeus estava autorizado a transgredir o destino ditado por Moira, sem interferir na harmonia cósmica.

DEUS – também Dyeus Phater ("Pai do Céu") como Zeus!
Zeus foi sem dúvida o deus mais poderoso da Antiguidade, foi cognominado “pai dos deuses e dos homens”, foi chamado de Dyeus Phater (“Pai do Céu”) e Deus Supremo, justiceiro e protetor. Ele tinha como seus símbolos o raio, a águia, o touro e o carvalho, e a ele rendia-se culto por todo o mundo da Antiguidade. Quem poderia imaginar que um deus tão poderoso poderia vir um dia ser derrubado de seu trono? Pois foi, por um filho de Deus ou filho do Pai do Céu Todo-Poderoso!!! Assim, novamente, a profecia de Géia se cumpriu, mesmo que esta história não seja contada na mitologia grega, ela encontrou o seu lugar na realidade com a pessoa de Jesus de Nazaré, e por incrível que pareça foi exatamente os gregos a reconhecerem primeiramente que este homem desprovido de exércitos e armas poderosas, mas de inegualável sabedoria, era filho do “Todo Poderoso”, o qual teve a capacidade de simplesmente de não só destronar inteiramente Zeus de seu trono no Olímpos como também de derrotar todos os deuses e estabelecer firmemente o Reino de Deus nos Céus. Conclue-se assim que a semelhança gráfica entre o nome Zeus e Deus não foi uma mera coincidência, simplesmente refete um progresso nas relações entre o ser humano e o seu criador divino. 

Com o novo Reino dos Céus revelado por Jesus, o céu divino passou a estar ao alcance  de qualquer ser humano, situação bem diferente do Olímpos de Zeus, onde o ser humano não podia entrar. O novo reino de Deus seria estabelecido na terra em algum tempo futuro indeterminado e todo aquele que tivesse fé em Deus viria a poder entrar nele por ocasião desse dia. Assim, as pessoas passaram a se sentir mais próximas de seus Criador, do Deus que era o Pai deles. Essa proximidade gerou uma nova intimidade das pessoas com o mundo divino, todavia ela seria de estranhas influências na mentalidade humana e  transformaria a capacidade mental humana durante várias gerações da civilização Ocidental.

Em nome de Deus e de seu filho Jesus, honorificado com o título de “Cristo”, guerras sanguinárias seriam travadas, perseguições impiedosas seriam feitas e justificariam-se tremendas injustiças e atos pouco dignos de honra ou justiça. Assim,  ao aproximar-se quase mil e quinhentos anos do nascimento de Jesus, na pobre manjedoura na cidadezinha de Belém na Judéia, uma grandiosa revolução silenciosa começou a acontecer na medida em que a verdade começou a ser revelada, cumprindo a promessa que o próprio Jesus fizera: “Não temais, pois, porque nada há de escondido que não venha à luz, nada de secreto que não se venha a saber. O que vos digo na escuridão, dizei-o às claras. O que vos é dito ao ouvido, publicai-o de cima dos telhados.” (Mt. 10:26) ou “ Guardai-vos do fermento dos fariseus, que é a hipocresia. Porque não há nada oculto, que não venha a descobrir-se; e nada há escondido, que não venha a ser conhecido. Pois o que dissestes às escuras será dito à luz; e o que falastes ao ouvido, nos quartos, será publicado de cima dos telhados.” (Lc. 12;1-3) Jesus disse isso aos seus discípulos logo após ter censurado duramente os fariseus em seu discurso dizendo entre outras coisas: “Aí de vós escribas e fariseus hipócritas! Vós fechais aos homens o reino dos céus: vós mesmos não entrais e nem deixais que entrem os que querem entrar.” (Mt. 23:13) e “Ai de vós doutores da lei! Vós que  tomastes a chave da ciência , e vós mesmos não entrastes e impedistes aos que venham para entrar.” (Lc. 11:52). Como se pode constatar históricamente, na medida em que o cristianismo ganhava mais e mais poder no Ocidente, o clero detinha mais e mais poder também. Assim, não seria errado comparar o comportamento do clero cristão da Idade Média com o comportamento dos fariseus do tempo de Jesus. Comprovadamente o comportamento humano de restringir o conhecimento para garantir o poder de domínio sobre as massas estava se repetindo, fazendo grassar a ignorância para melhor governar e garantir a secularização do poder da Igreja Cristã sobre os vários reinos europeus. Contudo esta situação não se sustentaria por muito mais tempo e tal comportamento daria origem a eventos de grandiosa dramaticidade que levaria a Humanidade não só a uma jornada rumo ao desconhecido como a ponto de constestar a própria existência de Deus, a fé milenar depósitada em Jesus e toda a civilização erguida sobre os preceitos cristãos.

Da mesma maneira que Cronos fora suprimido de seu poder por Zeus e que Zeus fora  destituído de seu trono por Jesus, filho de Deus,  a nova intimidade na relação do ser humano com Deus, proporcionada pela figura de Jesus, viria a ter consequências paradoxais, pois, se de uma lado, os cristõas eram capazes de travar as maiores batalhas e vencer os maiores desafios em defesa do nome de Jesus, também, de outro, eles seriam capazes de combatê-lo no desejo implantar sobre a face da Terra o tão ambicionado e desejado “Reino dos Céus”, não esperando mais por seu estabelecimento por obra divina mas, através de seus próprios meios e segundo a própria concepção humana e não divina do que deveria ser um mundo perfeito.

Os cruzados liderados por Jesus na Evangelização
A partir do primeiro milênio da nossa era, a crença nos ensinamentos evangélicos de Jesus impulsionou os europeus ao início de uma “jornada rumo ao desconhecido”,  a fim de cumprir uma das profecias feitas por Jesus sobre o seu retorno, presente no Evangelho de Mateus, capítulo 24, versículo 14, onde está escrito: “Este Evangelho do reino será pregado pelo mundo inteiro para servir de testemunho a todas as nações, e então chegará o fim.”  O processo de evangelização sempre for a levado muito a sério pelas Igrejas Cristãs, além de naturalmente servir aos inúmeros interesses políticos e econômicos do renovado Império Romano sob a égide da religião cristã. Esse intuíto evangélico permeou as Cruzadas e principalmente o espírito da Ordem dos Templários, que teve em seu objetivo inicial a conquista da cidade de Jerusalém sob o domínio islâmico, um objetivo alcançado e perdido. Jerusalém seria pelos séculos seguintes o pomo da discórdia entre os cristãos europeus e os islâmicos, só a partir do século XIX a cidade também se tornaria alvo de disputa dos judeus, desejosos também de cumprir a profecia de Ísaias e outros profetas das escrituras sagradas do restabelecimento de uma nova Jerusalém.

Há que se recordar que até o exôdo judáico de 135 d.C. promovido pelo imperador romano Adriano, o cristianismo em si era uma dissenção da religião judáica e seus praticantes eram convertidos ao judaismo, logo considerados judeus também. Assim a perseguição romana foi infligida por séculos sobre judeus e cristãos, pois os romanos não faziam distinção entre eles. A expulsão dos judeus do território do antigo reino de Israel, na Palestina, fez com que se espalhassem num primeiro momento por todo território do Império Romano, mas passado o tempo o ato imperial de Adriano foi sendo esquecido e muitos judeus e cristãos retornaram à Palestina.

Quando a liberdade religiosa foi adotada no Império Romano em decadência e, posteriormente, Constantino proclamou o cristianismo como religião oficial do Império Romano, Jerusalém ganhou em decorrência um um renovado status como cidade santa, e só a partir desse momento a distinção entre judeus e cristãos começou a ser realmente feita, principalmente em razão do estabelecimento da teocrácia romana-cristã implantada como forma de governo imperial, que resultou no combate as chamadas heresías, decorrentes da ortodoxia judáica, a qual era questionada pelos romanos-cristãos. Portanto, é fato que muitos judeus e cristãos viviam na região da Palestina quando se deu a conquista árabe islâmica, e que a partir do século VII d.C. as três religiões conviveram juntas em Jerusalém, uma cidade santa para todas elas, já que os habitantes da região da Palestina constituiam-se de judeus, cristãos e islâmicos. Ignorar esse fato é perverter a narração histórica, por isso quando os cruzados entraram na Palestina seus combates se deram não só contra os islâmicos que lá viviam, mas também contra os judeus e cristãos habitantes da região e que também integraram as tropas árabes, do mesmo modo que também integraram as tropas otomanas (turco-islâmico), que causariam a queda de Constantinopla, em 1453.

As Astúrias e o Califado Omíada
Portanto, quando em 711 da nossa era, os islâmicos mouros vindos da Mauritânia (atual Marrocos) – ao norte da África, província romana conquistada pelos árabes em 683 – invadiram a Península Ibérica, derrotando a Roderico, último rei visigodo, trouxeram com eles também judeus e cristãos oriundos dos maiores centros comerciais como Alexandria e Tânger. A conquista islâmica se estendeu a praticamente a toda região ibérica com exceção do sítio diminuto das Astúrias, onde se estabeleceria uma forte resistência combativa aos invasores islâmicos do Califado Omíada. Das Astúrias, ao norte da atual Espanha, um movimento de reconquista teve início a patir de 900 d.C. que daria origem aos reinos de León e Navarra, depois em 1000 d.C. à formação do reino de  Castilha (ou Castela) e a do reino de Aragão em 1035 d.C., porém a campanha espanhola de expulsão mouros se fez sentir ainda mais potente a partir de 1085, as vésperas do início das Cruzadas (1095).

Após a conquista da Palestina e a tomada de Jerusalém pelos cruzados em 1099, o foco voltou-se para a expulsão dos islâmicos do território europeu, que durante os anos de domínio na Península Ibérica estabeleceram centros culturais de elevada importância, como o do Califado de Córdoba (929), de onde irradiou-se uma poderosa influência cultural por toda a Europa,  e acabou constituindo-se uma ameça ao poder romano-cristão vigente.

O condado portucalense foi fundado em 1093, integrante do reino da Galiza que tomara o nome em 910 de reino de León (Leão), e, em 1139, o conde de Portucale (Portugal) de nome Afonso Henrique de Borgonha foi aclamdo rei e com o consentimento papal Portucale passou a ser um reino independente e vassalo direto da Igreja de Roma (1179). A partir desse momento pode-se dizer que t iniciou-se o período histórico da Reconquista que terminaria em 1340, com a total expulsão dos islâmicos do território da Península Ibérica.

Reinos da Península Ibérica  – séc. XIV
No ano de 1279, subiu ao trono do Reino de Portugal e do Reino de Algarve com apenas 17 anos, Dom Dinis, filho de D. Afonso III de Portugal e da infanta Beatriz de Castela, vindo a desposar Isabel de Aragão. Dom Dinis governaria Portugal ao longo de 46 anos consolidando o reino como uma nação. Foi neste ano também que a vocação marítima portuguesa teve início com a primeira expedição em diração às Ilhas Canárias na costa africana. Dom Dinis contou com o apoio dos cavaleiros templários para concluir a Reconquista, definindo as fronteiras de Portugal no Tratado de Alcanizes. Em consequência da aliança com a Ordem dos Templários, D. Dinis promoveu a exploração de minas de cobre, prata, estanho e ferro, estabelecendo uma organização para a exportação da produção excedente para outros países europeus, mas na verdade beneficiou mais diretamente a Inglaterra, dando razão ao primeiro acordo comercial entre Portugal-Inglaterra assinado em 1308. Em seguida, em 1312, Dom Dinis fundou a Marinha Portuguesa, nomeando como 1º Almirante, o genovês Manuel Pessanha, ordenando a construção de docas e estaleiros para a construção de barcos. O início do tempo das Descobertas a partir de 1336, com as expedições para o reconhecimento dos aquipélagos das Canária, dos Açores e da Madeira no Oceano Atlântico, se daria durante o reinado de seu filho  Dom Afonso IV, o Bravo, que deu significativa contribuição ao desenvolvimento da marinha portuguesa, financiando a construção de uma marinha mercante, que garantiria o desenvolvimento econômico de Portugal.


Cruz Pátea da Ordem do Templo 
A narrativa histórica comumente interrompe-se neste ponto motivada pelo  peso de séculos de censura da Igreja Romana, responsável pela ocultação de fatos históricos indesejáveis e comprometedores. Ocorreu que em verdade os cavaleiros templários ajudaram os portugueses nas batalhas contra os islâmicos, recebendo como recompensa extensos domínios e poder político em Portugal.  Durante esse período de proteção dos templários castelos, igrejas e povoados portuguese tinham prosperado muito. Quando em 1309, o rei da França Felipe V, o Belo, e o papa francês Clemente V iniciaram a campanha para destruir a Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão, mais conhecida apenas como Ordem do Templo, Dom Dinis I de Portugal logrou primeiramente a “reserva” dos bens dos templários, tranferindo-os para a coroa portuguesa de 1309 a 1319, durante todo o processo de julgamento da ordem, rejeitando o monarca qualquer administrador papal. Assim, posteriormente Dom Dinis fez um pedido ao papa em 14/08/1318 para criar a Ordem de Nosso Senhor Jesus Cristo, ou simplesmente apenas a Ordem de Cristo, que se faria herdeira das propriedades e dos privilégios da Ordem do Templo. Em 14/03/1319, a bula papal de João XXII atendeu ao pedido do rei português D. Dinis. Tal processo versou mais de uma documentação oficial  para “refundar” a Ordem do Templo que o papado tinha condenado à extinção. Assim, naquele ano de 1319 os bens dos templários passaram intocáveis para a nova congregação, concedendo a excepção aos reis de Castela e Leão, Aragão e Portugal, que haviam se coligado para impedir a medida papal que ordenava de transferência dos bens templários para a Ordem dos Hospitalários –  Ordem de São João de Jerusalém­, posteriormente chamada Ordem de Malta a partir de 1530, quando foi estabelecida na ilha do mesmo nome pelo imperador do Sacro Império Romano-Germânico Carlos V, em 1530.

Cruz da Ordem de Cristo (portuguesa)
Assim tudo aparentemente mudou para permanecer o mesmo, com a Ordem dos Templários transvestida de novas roupagens, pois naturalmente não poderiam ser as mesmas dada a condenação papal. Quando ao final de maio de 1420, o infante Dom Henrique, o Navegador, foi nomeado dirigente da Ordem de Cristo, cargo que teve até o fim da vida, ordenou que a cruz pátea da ordem templária recebesse um novo design para ser asteada nos mastros dos navios portugueses para recordar que os recursos da Ordem de Cristo, titular do patrimônio dos templários, foram decisivos para o sucesso do empreendimento das navegações poruguesas.

Dom Henrique veio então a ficar entusiasmado com o desenvolvimento da navegação – embora ele mesmo nunca tivesse navegado–, e com o apoio do pai, o rei Dom João I, patrocinou a reunião de todas as fontes de conhecimento sobre o assunto e as sistematizou num compendio náutico. Tal trabalho teve sua sede na região de cabo de São Vicente, no Algarve, que passou a acolher estudiosos de todas as partes de dentro e fora da Europa fossem eles cristãos, islâmico ou judeus, todos interessados por navegação, mapas e construção de embarcações. Esse grupo de estudiosos passou a ganhar fama como a Escola de Sagres, vindo a destacar-se na importância pelo aperfeiçoamento de instrumentos de navegação como o astrolábio e a balestilha, que já eram usados pelos árabes, e na construção de embarcações chamadas caravelas. A Escola de Sagres não era uma entidade de fato, mas um braço da Ordem de Cristo que congregava os membros da Ordem dos Templários remanescentes que foram acolhidos por Portugal, que antes acolhera sob a sua proteção também judeus, islâmicos e outros intelectuais perseguidos pela inquisição da Igreja de Roma, sendo que entre eles encontravam-se cartógrafos e navegadores renomados.

Antes no século XIII, o rei Afonso X de Castela, tinha publicado o Livro do Saber da Astronomia, copilando os textos, assim como as Tabelas Afonsinas ­– que indicavam as posições de vários astros ao longo de um ano –, onde contou com o trabalho de sábios judeus e islâmicos sobre a astronômia. Porém, no início do século XV a técnica de navegação pouco diferia da usada na antiguidade, quando a navegação era feita bordejando a costa, utilizando o vento nas velas e os remos como força propulsora, cabendo ao piloto o bom uso de seus conhecimentos regionais das condições climáticas, maritímas e geográficas. As técnicas de navegação na primeira metade do século XV  eram ainda visuais baseadas em pontos conspícuos referência geográfica, o estudo dos ventos dominantes e as informações passadas de um piloto para outro de geração a geração, os quais permitiam traçar um rota rudimentar, estabelecendo roteiros, que deram origem à regimentos e aos mapas. As primeiras cartas náuticas indicavam rotas entre os portos e por isso foram chamada de portulanos. Só os vickings tinham se aventurado até então em navegações no mar aberto além do horizonte, com o uso de um aparelho de navegação baseado no no movimento do Sol, com um espécie de relógio solar que indicava a direção numa rudimentar navegação astronômica através da posição solar.

Mas, o desenvolvimento de novas instrumentações tecnológicos foi de grande contribuição para o progresso das navegações, entre estes instrumentos destacam-se a ampulheta,  criada por um monge francês no século VIII só teria a sua utilidade popularizada no século XIV, por volta de 1338; a bússula, que fora criada pelos chineses na metade do século XI e passou a ser usada para navegação marítima em 1117, vindo a ser adotada pelos navegadores persas em 1132, só introduzida entre os navegadores europeu pelos árabes a partir do século XIII; a balestilha criada pelos chineses no século XI para medidas astrônomicas; o quadrante náutico, que mede a altura do Sol e das estrelas e também o astrolábio que permite determinar a posição das estrelas, criado por volta de 1460. Mas, de nada valeria todos esses instrumentos se o uso dos preciosos conhecimentos do Liber Abaci (1202) – o livro de cáculos com números arábicos introduzido por Leonardo Fibonacci (1170 ­­ – 1250) mencionado em capítulo anterior – não tivesse se popularizado entre os europeus causando uma revolução no sistema de cáculos matemáticos dos europeus.

Portugal tinha uma localização privilegiada entre o Mar Mediterrâneo e o Oceano Atlântico, e sua costa era passagem para a navegação costeira que ligava a rota marítima desde o Oriente Médio até os países nórdicos, e  por isso era um ponto estratégico para o comércio maritímo. Com a ocupação islâmica na Península Ibérica, o condado de Portucale esteve ligado aos reinos gaélicos ao norte da Península Ibérica, desenvolvendo crescentes relações com as ilhas britânicas, principalmente com a Inglaterra. Por isso quando osocorreu a crise dinástica de 1383-1385 entre o reino de Portugal e o reino de Castilha,  o fundador da casa real inglesa de Lancastre,  o 1º duque de  Lancastre John de Gaunt deu apoio político e militar à João, Mestre de Avis, que veio a ser coroado rei de Portugal como João I e em consequência foi assinado o tratado de Windsor entre Portugal e Inglaterra, que estabeleceu a aliança entre os dois países em 1387, ano em que para celebrar o acordo Dom João I casou-se com a filha de John de Lancastre, Filipa, tendo como um dos seus filhos Dom Henrique, o navegador. Portanto, o reino de Portugal tinha na época do início do período das navegações uma posição em tudo privilegiada para reunir os conhecimentos regionais das experiências maritímas para estabelecer uma teoria geral e unificada sobre a navegação e tornar-se pioneiro das Grandes Navegações.

As navegações portuguesas inicialmente tiveram um objetivo de exploração cientifica, em busca de levantamento de informações metereológicas e oceanográficas que permitissem o regresso dos barcos da costa africana por zonas de ventos mais favoráveis.  Foi durante estas explorações que foram descobertos os arquipélagos das Canárias, da e  Madeira e dos Açores  e, também, o Mar dos Sargaços (ou da Baga) e a rota de regresso da África.  Tais viagens de exploração permitiram o conhecimento do regime dos ventos e correntes do Atlântico Norte, assim como a determinação da latitude por observações astronômicas a bordo, levando os portugueses a se aventurarem cada vez mais longe da costa.

A bússula que chegara ao Oriente Mádio através das caravanas comerciais da rota da seda, que comerciavam produtos vindos da Pérsia, Índia e China, foi um dos instrumentos tecnológicos que deu poder aos cavaleiros templários na época das Cruzadas e por eles foi introduzida junto aos seus aliados comerciais, tais como os navegadores genoveses e venezianos, que implementaram suas rotas comerciais maritímas fazendo travessias maiores, sem a necessidade mais de recorrer à ajuda de pontos de referências da costa terrestre, podendo seguir um rumo constante determinado pela bússula durente o dia e de usarem usarem o conhecimento astrônomico que possuiam para as navegações diurnas. Por sua vez os árabes introduziram técnicas de navegação com base nas estrela e principalmente no Sol, desenvolvendo cálculos mais complexos com o acréscimo da álgebra, conhecimento esse que como já visto foi introduzido na Europa por Fabonacci. Assim, quando os portugueses reuniram os conhecimentos de navegação todos juntos e os estudaram, não só ganharam no saber como também puderam formar um quebra-cabeça de informações maritímas, constituido de informações secretas dos pilotos garantidoras do sucesso dos negócios nas rotas comerciais maritímas, o que ofereceu uma visão muito mais ampla e profunda do assunto que contribuiu fundamentalmente para o  desenvolvimento português de novas tecnologias e e de projetos de engenharia para novas embarcações, tal como a caravela.

Réplica da caravela tipo "carraca" de Bartolomeu Dias
A caravela foi um desenvolvimento das antigas barcas portuguesas, seu nome advém do nome árabe carib das embarcações de porte médio e velas triangulares. A caravela era uma embarcação rápida com 25 metros de comprimento, 7 metros de largura e 3 metros de calado, semelhante a uma casca de nóz, tinha 2 ou 3 mastros e velas latinas (triangulares). O barco podia levar uma tripulação com pouco mais de 20 homens e deslocava 50 toneladas, e caracterizava-se por ser uma embarcação rápida e de fácil manobra, podendo zigue-zaguear (bolinar), mas com ventos calmos ela não era de muita vantagem e mostrava-se lenta. Por esse motivo, a caravela também sofreu logo um desenvolvimento em sua engenharia náutica e deu lugar à carraca (ou nau), com um porte bem maior com cabines de proa e popa (castelos), dois ou, três ou quatro mastros, com duas ou três ordens de velas sobrepostas, as carracas eram assim imponentes e possuiam um design mais arredondado. A nova embarcação, a carraca, visava atender a necessidade do aumento da capacidade de transporte de abastecimento, mercadorias, marinheiros, armamento e soldados. E foi numa carraca que Bartolomeu Dias dobrou o Cabo da Boa Esperança , ao sul do continente africano, em 1488, que Critovão Colombo com patrocínio do governo do reino espanhol cruzou o Ocaeno Atlântico e chegou à América, em 1949, e que Pedro Álvares Cabral chegou ao Brasil, em 1500, por conta de ter-se perdido da armada portuguesa que empreendia viagem às Índias e tomado a direção errada.
Caravela portuguesa tipo "Nau"
As carracas posteriormente evoluiram em sua engenharia náutica e passaram a ser naus e no século XVI tinham tonelagem não inferior a 500. Segundo o Padre Fernando de Oliveira, em sua obra Livro da Fábrica de Naus, em meados daquele século a capacidade de tonelagem das naus era crescente chegando a ter 600 toneladas no apogeou da rota para a Índia. No século XVI a Espanha concorrente de Portugal nas navegações deu às naus um novo aperfeiçoamento e surgiu o galeão, com quatro mastros de alto bordo e de alto desempenho na navegação oceânica, com 1200 tonelagem e tendo 40 escotilhas para as bocas de canhões, com grande capacidade para o transporte de carga. Novamente, pode-se dizer que o desenvolvimento da engenharia e da tecnologia náutica só foi possível pelo uso do livro de cálculos arábicos de Fabonacci.
Se de um lado nós podemos compreender como se deu o desenvolvimento tecnológico que permitiu a era das Grandes Navegações e levou os europeus a se aventurarem em viagens rumo ao desconhecido, por outro fica difícil nós compreendermos a informação histórica de que havia falta de conhecimento dos navegadores europeus e que eram tomados por temores imaginativos da época quanto a navegação além-mar, os quais levavam a crer que os mares podiam ser habitados por monstros e que sendo a Terra um plano horizontal ao chegar-se ao seu fim a embarcação poderia cair num abismo. Tais narrativas históricas só podem ser consideradas inverídicas e dadas como verdadeiras apenas para atender os interesses da Igreja de Roma, a qual veio a patrocinar as navegações espanholas com o intuito de desbancar o empreendimento portugês.
GALÁXIA CENTRAL
No ano de 1497, em Bolonha, Itália, foi registrado por Domenico Maria Novara de Ferrara que Copérnico (1473 – 1543) fez as suas primeiras observações contrariando a teoria geocentrista de Ptolomeu (90 -168), de que o Sol girava em torno da Terra e que, sim, a Terra girava em torno do Sol. Portanto, é bem possível que esta observação não tenha sido só dele. Galileu Galilei (1564 – 1642) acrescentaria ao sistema heliocentrista de Copérnico que começara a ser divulgado a partir de 1537, a dedução de que a Terra era esférica e não plana. O que possivelmente também já fora observado por alguém mais, mas mantido em segredo, afinal uma informação pode valer fortunas para quem sabe o que fazer com ela, e no caso tudo leva a crer que os portugueses já tinham essas informações, pois ninguém vai investir toda uma fortuna num projeto ilusório e que resulte num prejuízo descomunal. É certo que os portugueses sabiam o que estavam fazendo do mesmo modo que os aventureiros contemporâneos norte-americanos também o sabiam, quando empreenderam suas expedições à Lua, e finalmente a conquistaram, quando o astronauta Neil Amstrong (1930 ­– 2012) foi o primeiro homem a pisar no satélite terrestre em 20 de julho de 1969!
Portanto, o início das Grandes Navegações marcaram o príncipio de uma jornada humana rumo ao desconhecido, levando a conquistar mares e oceanos,  continentes, conquistar aos céus tão ambicionados e, é certo, essa  jornada não terá fim até que o ser humano conquiste para si todo o Universo e consiga chegar e ficar frente a frente ao seu criador, DEUS.
O "OLHO DE DEUS" – Foto tirada pala NASA (EUA) com o telescópio Hubble da Galáxia Central. Este tipo de acontecimento dá-se uma vez a cada 3.000 anos!!!