A mitologia grega deu para a
civilização Ocidental o seu mito mais forte: ZEUS (que significa em grego deus do céu, também dito Dia, Diós ou
Dyeu que significa “brilhar do céu”). Segundo os textos gregos ele foi o todo-poderoso
da terceira geração dos deuses, filho de Crono e Réia teve sua vida salva por
sua mãe com a ajuda da sua avó Gaia, a
Terra Máter, que no passado desgostosa com o filho Cronos profetizara que
ele seria derrubado do seu poder por um filho, o que levou o deus a devorar os
filhos assim que nascessem. Réia estando prestes a dar à luz fugiu e
escondeu-se numa caverna e assim
que Zeus nasceu, seguindo o conselho de Gaia, embrulhou uma pedra num manto e
deu para Cronos comer, assim enganando o deus.
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ZEUS – Dyeus Phater ("Pai do Céu") |
Zeus cresceu longe dos olhos do
pai e teve como seu primeiro amor a neta de Gaia, Métis, uma deusa descrita por
Hesíodo como “aquela que sabe mais de todas as coisas do que os deuses e os
homens”. Métis personificava a sabedoria, a habilidade e a astúcia. Ela tinha a
capacidade de prever todos os acontecimentos e assim como a capacidade da
metamorfose, podendo se transformar em qualquer coisa que quisesse de uma
montanha a um mero inseto. E será Métis que irá ajudar Zeus a enfrentar o pai
Cronos e destroná-lo. Após a vitória Zeus tomou Métis como sua esposa, contudo
sua avó Gaia profetizou que Métis daria dois filhos para Zeus: Atena (ou
Tritogenia) que seria igual a Zeus em força e sabedoria e o segundo seria o rei
dos homens e dos deuses, seria mais poderoso que Zeus e eventualmente o
destronaria.
Zeus tal como deuses e seres
humanos também estava sujeito ao princípio de ordem natural, ou seja, o
destino, que era personificado por Moira. Assim quando Métis ficou grávida,
Zeus a fez se transformar numa mosca e a enguliu, para que ela não viesse a dar
a luz. Atena cresceu dentro do ventre de Zeus, causou-lhe uma tremenda dor de
cabeça e o deus foi obrigado a permitir que fosse libertada. Assim, a poderosa
deusa Atena saiu da cabeça de Zeus já adulta. A profecia de Geia se cumprira,
pois nem Zeus estava autorizado a transgredir o destino ditado por Moira, sem
interferir na harmonia cósmica.
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DEUS – também Dyeus Phater ("Pai do Céu") como Zeus! |
Zeus foi sem dúvida o deus mais
poderoso da Antiguidade, foi cognominado “pai dos deuses e dos homens”, foi
chamado de Dyeus Phater (“Pai do Céu”)
e Deus Supremo, justiceiro e protetor. Ele tinha como seus símbolos o raio, a
águia, o touro e o carvalho, e a ele rendia-se culto por todo o mundo da
Antiguidade. Quem poderia imaginar que um deus tão poderoso poderia vir um dia
ser derrubado de seu trono? Pois foi, por um filho de Deus ou filho do Pai do
Céu Todo-Poderoso!!! Assim, novamente, a profecia de Géia se cumpriu, mesmo que
esta história não seja contada na mitologia grega, ela encontrou o seu lugar na
realidade com a pessoa de Jesus de Nazaré, e por incrível que pareça foi
exatamente os gregos a reconhecerem primeiramente que este homem desprovido de
exércitos e armas poderosas, mas de inegualável sabedoria, era filho do “Todo
Poderoso”, o qual teve a capacidade de simplesmente de não só destronar
inteiramente Zeus de seu trono no Olímpos como também de derrotar todos os
deuses e estabelecer firmemente o Reino de Deus nos Céus. Conclue-se assim que a semelhança gráfica entre o nome Zeus e Deus não foi uma mera coincidência, simplesmente refete um progresso nas relações entre o ser humano e o seu criador divino.
Com o novo Reino dos Céus revelado
por Jesus, o céu divino passou a estar ao alcance de qualquer ser humano, situação bem diferente do Olímpos de Zeus,
onde o ser humano não podia entrar. O novo reino de Deus seria estabelecido na
terra em algum tempo futuro indeterminado e todo aquele que tivesse fé em Deus viria a poder entrar nele por ocasião desse dia. Assim, as pessoas
passaram a se sentir mais próximas de seus Criador, do Deus que era o Pai
deles. Essa proximidade gerou uma nova intimidade das pessoas com o mundo divino, todavia ela seria de estranhas influências na mentalidade humana e transformaria a capacidade mental humana durante várias gerações da
civilização Ocidental.
Em nome de Deus e de seu filho
Jesus, honorificado com o título de “Cristo”, guerras sanguinárias seriam
travadas, perseguições impiedosas seriam feitas e justificariam-se tremendas
injustiças e atos pouco dignos de honra ou justiça. Assim, ao aproximar-se quase mil e quinhentos
anos do nascimento de Jesus, na pobre manjedoura na cidadezinha de Belém na
Judéia, uma grandiosa revolução silenciosa começou a acontecer na medida em que
a verdade começou a ser revelada, cumprindo a promessa que o próprio Jesus
fizera: “Não temais, pois, porque nada há de escondido que não venha à luz,
nada de secreto que não se venha a saber. O que vos digo na escuridão, dizei-o
às claras. O que vos é dito ao ouvido, publicai-o de cima dos telhados.” (Mt.
10:26) ou “ Guardai-vos do fermento dos fariseus, que é a hipocresia. Porque
não há nada oculto, que não venha a descobrir-se; e nada há escondido, que não
venha a ser conhecido. Pois o que dissestes às escuras será dito à luz; e o que
falastes ao ouvido, nos quartos, será publicado de cima dos telhados.” (Lc.
12;1-3) Jesus disse isso aos seus discípulos logo após ter censurado duramente
os fariseus em seu discurso dizendo entre outras coisas: “Aí de vós escribas e
fariseus hipócritas! Vós fechais aos homens o reino dos céus: vós mesmos não
entrais e nem deixais que entrem os que querem entrar.” (Mt. 23:13) e “Ai de
vós doutores da lei! Vós que
tomastes a chave da ciência , e vós mesmos não entrastes e impedistes
aos que venham para entrar.” (Lc. 11:52). Como se pode constatar históricamente,
na medida em que o cristianismo ganhava mais e mais poder no Ocidente, o clero
detinha mais e mais poder também. Assim, não seria errado comparar o
comportamento do clero cristão da Idade Média com o comportamento dos fariseus
do tempo de Jesus. Comprovadamente o comportamento humano de restringir o
conhecimento para garantir o poder de domínio sobre as massas estava se
repetindo, fazendo grassar a ignorância para melhor governar e garantir a
secularização do poder da Igreja Cristã sobre os vários reinos europeus. Contudo
esta situação não se sustentaria por muito mais tempo e tal comportamento daria
origem a eventos de grandiosa dramaticidade que levaria a Humanidade não só a
uma jornada rumo ao desconhecido como a ponto de constestar a própria
existência de Deus, a fé milenar depósitada em Jesus e toda a civilização
erguida sobre os preceitos cristãos.
Da mesma maneira que Cronos fora
suprimido de seu poder por Zeus e que Zeus fora destituído de seu trono por Jesus, filho de Deus, a nova intimidade na relação do ser
humano com Deus, proporcionada pela figura de Jesus, viria a ter consequências
paradoxais, pois, se de uma lado, os cristõas eram capazes de travar as maiores
batalhas e vencer os maiores desafios em defesa do nome de Jesus, também, de
outro, eles seriam capazes de combatê-lo no desejo implantar sobre a face da
Terra o tão ambicionado e desejado “Reino dos Céus”, não esperando mais por seu
estabelecimento por obra divina mas, através de seus próprios meios e segundo a
própria concepção humana e não divina do que deveria ser um mundo perfeito.
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Os cruzados liderados por Jesus na Evangelização |
A partir do primeiro milênio da
nossa era, a crença nos ensinamentos evangélicos de Jesus impulsionou os
europeus ao início de uma “jornada rumo ao desconhecido”, a fim de cumprir uma das profecias
feitas por Jesus sobre o seu retorno, presente no Evangelho de Mateus, capítulo
24, versículo 14, onde está escrito: “Este Evangelho do reino será pregado pelo
mundo inteiro para servir de testemunho a todas as nações, e então chegará o
fim.” O processo de
evangelização sempre for a levado muito a sério pelas Igrejas Cristãs, além de
naturalmente servir aos inúmeros interesses políticos e econômicos do renovado
Império Romano sob a égide da religião cristã. Esse intuíto evangélico permeou
as Cruzadas e principalmente o espírito da Ordem dos Templários, que teve em
seu objetivo inicial a conquista da cidade de Jerusalém sob o domínio islâmico,
um objetivo alcançado e perdido. Jerusalém seria pelos séculos seguintes o pomo
da discórdia entre os cristãos europeus e os islâmicos, só a partir do século XIX
a cidade também se tornaria alvo de disputa dos judeus, desejosos também de
cumprir a profecia de Ísaias e outros profetas das escrituras sagradas do
restabelecimento de uma nova Jerusalém.
Há que se recordar que até o exôdo
judáico de 135 d.C. promovido pelo imperador romano Adriano, o cristianismo em
si era uma dissenção da religião judáica e seus praticantes eram convertidos ao
judaismo, logo considerados judeus também. Assim a perseguição romana foi
infligida por séculos sobre judeus e cristãos, pois os romanos não faziam
distinção entre eles. A expulsão dos judeus do território do antigo reino de
Israel, na Palestina, fez com que se espalhassem num primeiro momento por todo
território do Império Romano, mas passado o tempo o ato imperial de Adriano foi
sendo esquecido e muitos judeus e cristãos retornaram à Palestina.
Quando a liberdade religiosa foi
adotada no Império Romano em decadência e, posteriormente, Constantino
proclamou o cristianismo como religião oficial do Império Romano, Jerusalém ganhou
em decorrência um um renovado status como cidade santa, e só a partir desse
momento a distinção entre judeus e cristãos começou a ser realmente feita,
principalmente em razão do estabelecimento da teocrácia romana-cristã
implantada como forma de governo imperial, que resultou no combate as chamadas heresías, decorrentes da ortodoxia
judáica, a qual era questionada pelos romanos-cristãos. Portanto, é fato que
muitos judeus e cristãos viviam na região da Palestina quando se deu a
conquista árabe islâmica, e que a partir do século VII d.C. as três religiões
conviveram juntas em Jerusalém, uma cidade santa para todas elas, já que os
habitantes da região da Palestina constituiam-se de judeus, cristãos e
islâmicos. Ignorar esse fato é perverter a narração histórica, por isso quando
os cruzados entraram na Palestina seus combates se deram não só contra os
islâmicos que lá viviam, mas também contra os judeus e cristãos habitantes da
região e que também integraram as tropas árabes, do mesmo modo que também
integraram as tropas otomanas (turco-islâmico), que causariam a queda de
Constantinopla, em 1453.
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As Astúrias e o Califado Omíada |
Portanto, quando em 711 da nossa
era, os islâmicos mouros vindos da Mauritânia (atual Marrocos) – ao norte da
África, província romana conquistada pelos árabes em 683 – invadiram a
Península Ibérica, derrotando a Roderico, último rei visigodo, trouxeram com
eles também judeus e cristãos oriundos dos maiores centros comerciais como
Alexandria e Tânger. A conquista islâmica se estendeu a praticamente a toda
região ibérica com exceção do sítio diminuto das Astúrias, onde se
estabeleceria uma forte resistência combativa aos invasores islâmicos do
Califado Omíada. Das Astúrias, ao norte da atual Espanha, um movimento de
reconquista teve início a patir de 900 d.C. que daria origem aos reinos de León
e Navarra, depois em 1000 d.C. à formação do reino de Castilha (ou Castela) e a do reino de Aragão em 1035 d.C.,
porém a campanha espanhola de expulsão mouros se fez sentir ainda mais potente
a partir de 1085, as vésperas do início das Cruzadas (1095).
Após a conquista da Palestina e a
tomada de Jerusalém pelos cruzados em 1099, o foco voltou-se para a expulsão
dos islâmicos do território europeu, que durante os anos de domínio na
Península Ibérica estabeleceram centros culturais de elevada importância, como
o do Califado de Córdoba (929), de onde irradiou-se uma poderosa influência
cultural por toda a Europa, e
acabou constituindo-se uma ameça ao poder romano-cristão vigente.
O condado portucalense foi fundado
em 1093, integrante do reino da Galiza que tomara o nome em 910 de reino de
León (Leão), e, em 1139, o conde de Portucale (Portugal) de nome Afonso
Henrique de Borgonha foi aclamdo rei e com o consentimento papal Portucale
passou a ser um reino independente e vassalo direto da Igreja de Roma (1179). A
partir desse momento pode-se dizer que t iniciou-se o período histórico da
Reconquista que terminaria em 1340, com a total expulsão dos islâmicos do
território da Península Ibérica.
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Reinos da Península Ibérica – séc. XIV |
No ano de 1279, subiu ao trono do
Reino de Portugal e do Reino de Algarve com apenas 17 anos, Dom Dinis, filho de
D. Afonso III de Portugal e da infanta Beatriz de Castela, vindo a desposar
Isabel de Aragão. Dom Dinis governaria Portugal ao longo de 46 anos
consolidando o reino como uma nação. Foi neste ano também que a vocação
marítima portuguesa teve início com a primeira expedição em diração às Ilhas
Canárias na costa africana. Dom Dinis contou com o apoio dos cavaleiros
templários para concluir a Reconquista, definindo as fronteiras de Portugal no
Tratado de Alcanizes. Em consequência da aliança com a Ordem dos Templários, D.
Dinis promoveu a exploração de minas de cobre, prata, estanho e ferro,
estabelecendo uma organização para a exportação da produção excedente para
outros países europeus, mas na verdade beneficiou mais diretamente a
Inglaterra, dando razão ao primeiro acordo comercial entre Portugal-Inglaterra
assinado em 1308. Em seguida, em 1312, Dom Dinis fundou a Marinha Portuguesa,
nomeando como 1º Almirante, o genovês Manuel Pessanha, ordenando a construção
de docas e estaleiros para a construção de barcos. O início do tempo das
Descobertas a partir de 1336, com as expedições para o reconhecimento dos
aquipélagos das Canária, dos Açores e da Madeira no Oceano Atlântico, se daria
durante o reinado de seu filho Dom
Afonso IV, o Bravo, que deu significativa contribuição ao desenvolvimento da
marinha portuguesa, financiando a construção de uma marinha mercante, que
garantiria o desenvolvimento econômico de Portugal.
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Cruz Pátea da Ordem do Templo |
A narrativa histórica comumente
interrompe-se neste ponto motivada pelo peso de séculos de censura da Igreja Romana, responsável pela
ocultação de fatos históricos indesejáveis e comprometedores. Ocorreu que em
verdade os cavaleiros templários ajudaram os portugueses nas batalhas contra os
islâmicos, recebendo como recompensa extensos domínios e poder político em
Portugal. Durante esse período de
proteção dos templários castelos, igrejas e povoados portuguese tinham
prosperado muito. Quando em 1309, o rei da França Felipe V, o Belo, e o papa francês
Clemente V iniciaram a campanha para destruir a Ordem dos Pobres Cavaleiros de
Cristo e do Templo de Salomão, mais conhecida apenas como Ordem do Templo, Dom
Dinis I de Portugal logrou primeiramente a “reserva” dos bens dos templários,
tranferindo-os para a coroa portuguesa de 1309 a 1319, durante todo o processo
de julgamento da ordem, rejeitando o monarca qualquer administrador papal.
Assim, posteriormente Dom Dinis fez um pedido ao papa em 14/08/1318 para criar
a Ordem de Nosso Senhor Jesus Cristo, ou simplesmente apenas a Ordem de Cristo,
que se faria herdeira das propriedades e dos privilégios da Ordem do Templo. Em
14/03/1319, a bula papal de João XXII atendeu ao pedido do rei português D.
Dinis. Tal processo versou mais de uma documentação oficial para “refundar” a Ordem do Templo que o
papado tinha condenado à extinção. Assim, naquele ano de 1319 os bens dos
templários passaram intocáveis para a nova congregação, concedendo a excepção
aos reis de Castela e Leão, Aragão e Portugal, que haviam se coligado para
impedir a medida papal que ordenava de transferência dos bens templários para a
Ordem dos Hospitalários – Ordem de
São João de Jerusalém, posteriormente chamada Ordem de Malta a partir de 1530,
quando foi estabelecida na ilha do mesmo nome pelo imperador do Sacro Império
Romano-Germânico Carlos V, em 1530.
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Cruz da Ordem de Cristo (portuguesa) |
Assim tudo aparentemente mudou
para permanecer o mesmo, com a Ordem dos Templários transvestida de novas
roupagens, pois naturalmente não poderiam ser as mesmas dada a condenação
papal. Quando ao final de maio de 1420, o infante Dom Henrique, o Navegador,
foi nomeado dirigente da Ordem de Cristo, cargo que teve até o fim da vida,
ordenou que a cruz pátea da ordem templária recebesse um novo design para ser asteada nos mastros dos
navios portugueses para recordar que os recursos da Ordem de Cristo, titular do
patrimônio dos templários, foram decisivos para o sucesso do empreendimento das
navegações poruguesas.
Dom
Henrique veio então a ficar entusiasmado com o desenvolvimento da navegação –
embora ele mesmo nunca tivesse navegado–, e com o apoio do pai, o rei Dom João
I, patrocinou a reunião de todas as fontes de conhecimento sobre o assunto e as
sistematizou num compendio náutico. Tal trabalho teve sua sede na região de cabo
de São Vicente, no Algarve, que passou a acolher estudiosos de todas as partes
de dentro e fora da Europa fossem eles cristãos, islâmico ou judeus, todos
interessados por navegação, mapas e construção de embarcações. Esse grupo de
estudiosos passou a ganhar fama como a Escola
de Sagres, vindo a destacar-se na importância pelo aperfeiçoamento de
instrumentos de navegação como o astrolábio e a balestilha, que já eram usados
pelos árabes, e na construção de embarcações chamadas caravelas. A Escola de
Sagres não era uma entidade de fato, mas um braço da Ordem de Cristo que
congregava os membros da Ordem dos Templários remanescentes que foram acolhidos
por Portugal, que antes acolhera sob a sua proteção também judeus, islâmicos e
outros intelectuais perseguidos pela inquisição da Igreja de Roma, sendo que
entre eles encontravam-se cartógrafos e navegadores renomados.
Antes
no século XIII, o rei Afonso X de Castela, tinha publicado o Livro do Saber da Astronomia, copilando
os textos, assim como as Tabelas Afonsinas
– que indicavam as posições de vários astros ao longo de um ano –, onde
contou com o trabalho de sábios judeus e islâmicos sobre a astronômia. Porém,
no início do século XV a técnica de navegação pouco diferia da usada na
antiguidade, quando a navegação era feita bordejando a costa, utilizando o
vento nas velas e os remos como força propulsora, cabendo ao piloto o bom uso
de seus conhecimentos regionais das condições climáticas, maritímas e
geográficas. As técnicas de navegação na primeira metade do século XV eram ainda visuais baseadas em pontos
conspícuos referência geográfica, o estudo dos ventos dominantes e as
informações passadas de um piloto para outro de geração a geração, os quais
permitiam traçar um rota rudimentar, estabelecendo roteiros, que deram origem à
regimentos e aos mapas. As primeiras cartas náuticas indicavam rotas entre os
portos e por isso foram chamada de portulanos. Só os vickings tinham se
aventurado até então em navegações no mar aberto além do horizonte, com o uso
de um aparelho de navegação baseado no no movimento do Sol, com um espécie de
relógio solar que indicava a direção numa rudimentar navegação astronômica
através da posição solar.
Mas,
o desenvolvimento de novas instrumentações tecnológicos foi de grande contribuição
para o progresso das navegações, entre estes instrumentos destacam-se a ampulheta, criada por um monge francês no século VIII só teria a sua
utilidade popularizada no século XIV, por volta de 1338; a bússula, que fora criada pelos chineses na metade do século XI e
passou a ser usada para navegação marítima em 1117, vindo a ser adotada pelos
navegadores persas em 1132, só introduzida entre os navegadores europeu pelos
árabes a partir do século XIII; a balestilha
criada pelos chineses no século XI para medidas astrônomicas; o quadrante náutico, que mede a altura do Sol e das estrelas e também o astrolábio que permite determinar a
posição das estrelas, criado por volta de 1460. Mas, de nada valeria todos
esses instrumentos se o uso dos preciosos conhecimentos do “Liber Abaci” (1202) – o
livro de cáculos com números arábicos introduzido por Leonardo Fibonacci (1170 – 1250) mencionado em capítulo
anterior – não tivesse se popularizado entre os europeus causando uma revolução
no sistema de cáculos matemáticos dos europeus.
Portugal
tinha uma localização privilegiada entre o Mar Mediterrâneo e o Oceano
Atlântico, e sua costa era passagem para a navegação costeira que ligava a rota
marítima desde o Oriente Médio até os países nórdicos, e por isso era um ponto estratégico para o
comércio maritímo. Com a ocupação islâmica na Península Ibérica, o condado de
Portucale esteve ligado aos reinos gaélicos ao norte da Península Ibérica,
desenvolvendo crescentes relações com as ilhas britânicas, principalmente com a
Inglaterra. Por isso quando osocorreu a crise dinástica de 1383-1385 entre o
reino de Portugal e o reino de Castilha,
o fundador da casa real inglesa de Lancastre, o 1º duque de
Lancastre John de Gaunt deu apoio político e militar à João, Mestre de
Avis, que veio a ser coroado rei de Portugal como João I e em consequência foi
assinado o tratado de Windsor entre Portugal e Inglaterra, que estabeleceu a aliança
entre os dois países em 1387, ano em que para celebrar o acordo Dom João I
casou-se com a filha de John de Lancastre, Filipa, tendo como um dos seus
filhos Dom Henrique, o navegador. Portanto, o reino de Portugal tinha na época
do início do período das navegações uma posição em tudo privilegiada para
reunir os conhecimentos regionais das experiências maritímas para estabelecer
uma teoria geral e unificada sobre a navegação e tornar-se pioneiro das Grandes
Navegações.
As
navegações portuguesas inicialmente tiveram um objetivo de exploração
cientifica, em busca de levantamento de informações metereológicas e
oceanográficas que permitissem o regresso dos barcos da costa africana por
zonas de ventos mais favoráveis.
Foi durante estas explorações que foram descobertos os arquipélagos das
Canárias, da e Madeira e dos
Açores e, também, o Mar dos
Sargaços (ou da Baga) e a rota de regresso da África. Tais viagens de exploração permitiram o conhecimento do
regime dos ventos e correntes do Atlântico Norte, assim como a determinação da latitude
por observações astronômicas a bordo, levando os portugueses a se aventurarem
cada vez mais longe da costa.
A
bússula que chegara ao Oriente Mádio através das caravanas comerciais da rota
da seda, que comerciavam produtos vindos da Pérsia, Índia e China, foi um dos
instrumentos tecnológicos que deu poder aos cavaleiros templários na época das
Cruzadas e por eles foi introduzida junto aos seus aliados comerciais, tais
como os navegadores genoveses e venezianos, que implementaram suas rotas
comerciais maritímas fazendo travessias maiores, sem a necessidade mais de
recorrer à ajuda de pontos de referências da costa terrestre, podendo seguir um
rumo constante determinado pela bússula durente o dia e de usarem usarem o
conhecimento astrônomico que possuiam para as navegações diurnas. Por sua vez
os árabes introduziram técnicas de navegação com base nas estrela e
principalmente no Sol, desenvolvendo cálculos mais complexos com o acréscimo da
álgebra, conhecimento esse que como já visto foi introduzido na Europa por
Fabonacci. Assim, quando os portugueses reuniram os conhecimentos de navegação
todos juntos e os estudaram, não só ganharam no saber como também puderam
formar um quebra-cabeça de informações maritímas, constituido de informações
secretas dos pilotos garantidoras do sucesso dos negócios nas rotas comerciais
maritímas, o que ofereceu uma visão muito mais ampla e profunda do assunto que
contribuiu fundamentalmente para o
desenvolvimento português de novas tecnologias e e de projetos de engenharia
para novas embarcações, tal como a caravela.
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Réplica da caravela tipo "carraca" de Bartolomeu Dias |
A
caravela foi um desenvolvimento das
antigas barcas portuguesas, seu nome
advém do nome árabe carib das
embarcações de porte médio e velas triangulares. A caravela era uma embarcação
rápida com 25 metros de comprimento, 7 metros de largura e 3 metros de calado,
semelhante a uma casca de nóz, tinha 2 ou 3 mastros e velas latinas
(triangulares). O barco podia levar uma tripulação com pouco mais de 20 homens
e deslocava 50 toneladas, e caracterizava-se por ser uma embarcação rápida e de
fácil manobra, podendo zigue-zaguear (bolinar), mas com ventos calmos ela não
era de muita vantagem e mostrava-se lenta. Por esse motivo, a caravela também
sofreu logo um desenvolvimento em sua engenharia náutica e deu lugar à carraca (ou nau), com um porte bem maior com cabines de proa e popa (castelos),
dois ou, três ou quatro mastros, com duas ou três ordens de velas sobrepostas,
as carracas eram assim imponentes e possuiam um design mais arredondado. A nova embarcação, a carraca, visava
atender a necessidade do aumento da capacidade de transporte de abastecimento,
mercadorias, marinheiros, armamento e soldados. E foi numa carraca que
Bartolomeu Dias dobrou o Cabo da Boa Esperança , ao sul do continente africano,
em 1488, que Critovão Colombo com patrocínio do governo do reino espanhol
cruzou o Ocaeno Atlântico e chegou à América, em 1949, e que Pedro Álvares
Cabral chegou ao Brasil, em 1500, por conta de ter-se perdido da armada
portuguesa que empreendia viagem às Índias e tomado a direção errada.
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Caravela portuguesa tipo "Nau" |
As
carracas posteriormente evoluiram em sua engenharia náutica e passaram a ser naus e no século XVI tinham tonelagem não
inferior a 500. Segundo o Padre Fernando de Oliveira, em sua obra Livro da Fábrica de Naus, em meados
daquele século a capacidade de tonelagem das naus era crescente chegando a ter
600 toneladas no apogeou da rota para a Índia. No século XVI a Espanha
concorrente de Portugal nas navegações deu às naus um novo aperfeiçoamento e
surgiu o galeão, com quatro mastros
de alto bordo e de alto desempenho na navegação oceânica, com 1200 tonelagem e
tendo 40 escotilhas para as bocas de canhões, com grande capacidade para o
transporte de carga. Novamente, pode-se dizer que o desenvolvimento da
engenharia e da tecnologia náutica só foi possível pelo uso do livro de
cálculos arábicos de Fabonacci.
Se
de um lado nós podemos compreender como se deu o desenvolvimento tecnológico
que permitiu a era das Grandes Navegações e levou os europeus a se aventurarem
em viagens rumo ao desconhecido, por outro fica difícil nós compreendermos a
informação histórica de que havia falta de conhecimento dos navegadores
europeus e que eram tomados por temores imaginativos da época quanto a navegação
além-mar, os quais levavam a crer que os mares podiam ser habitados por
monstros e que sendo a Terra um plano horizontal ao chegar-se ao seu fim a
embarcação poderia cair num abismo. Tais narrativas históricas só podem ser
consideradas inverídicas e dadas como verdadeiras apenas para atender os
interesses da Igreja de Roma, a qual veio a patrocinar as navegações espanholas
com o intuito de desbancar o empreendimento portugês.
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GALÁXIA CENTRAL |
No
ano de 1497, em Bolonha, Itália, foi registrado por Domenico Maria Novara de
Ferrara que Copérnico (1473 – 1543) fez as suas primeiras observações
contrariando a teoria geocentrista de Ptolomeu (90 -168), de que o Sol girava
em torno da Terra e que, sim, a Terra girava em torno do Sol. Portanto, é bem
possível que esta observação não tenha sido só dele. Galileu Galilei (1564 –
1642) acrescentaria ao sistema heliocentrista de Copérnico que começara a ser
divulgado a partir de 1537, a dedução de que a Terra era esférica e não plana.
O que possivelmente também já fora observado por alguém mais, mas mantido em
segredo, afinal uma informação pode valer fortunas para quem sabe o que fazer
com ela, e no caso tudo leva a crer que os portugueses já tinham essas
informações, pois ninguém vai investir toda uma fortuna num projeto ilusório e
que resulte num prejuízo descomunal. É certo que os portugueses sabiam o que
estavam fazendo do mesmo modo que os aventureiros contemporâneos
norte-americanos também o sabiam, quando empreenderam suas expedições à Lua, e
finalmente a conquistaram, quando o astronauta Neil Amstrong (1930 – 2012) foi
o primeiro homem a pisar no satélite terrestre em 20 de julho de 1969!
Portanto,
o início das Grandes Navegações marcaram o príncipio de uma jornada humana rumo
ao desconhecido, levando a conquistar mares e oceanos, continentes, conquistar aos céus tão
ambicionados e, é certo, essa jornada não terá fim até que o ser humano conquiste para si
todo o Universo e consiga chegar e ficar frente a frente ao seu criador, DEUS.
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O "OLHO DE DEUS" – Foto tirada pala NASA (EUA) com o telescópio Hubble da Galáxia Central. Este tipo de acontecimento dá-se uma vez a cada 3.000 anos!!! |
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