Após
os dramáticos eventos do século XIV, tais como a perseguição à ordem dos
cavaleiros templários (1311 – 1319) , a Guerra dos 100 anos (1339 – 1453), a
Peste Negra (1334 – 1352) e o cerco ao Império Romano do Oriente pelos
islâmicos (1326 – 1453), os quais estenderam-se até a primeira metade do século XV, a Europa teve que enfrentar uma das maiores crises
da sua história. Os grandes cataclísmas apocalípticos da guerra, da fome, da peste
e da carestia deixaram um rastro de destruição nos campos e nos burgos comerciais
recem surgidos, oriundos dos vilarejos formados ao redor dos castelos medievais
e das feiras promovidas para o comércio da produção artesanal e agropecuária
regionais. As intempéries climáticas que comprometeram as produções agrícolas e
pecuárias, também afetaram as condições das estradas em muitos casos
interrompendo o fluxo transporte
de mercadorias e comprometendo o abastecimento dos vilarejos. As mortes decorrentes da guerras, das doenças e da fome dizimaram quase toda
a força de trabalho européia, sendo que não houve uma família européia que não tenha sido
tocada pela desgraça. Tal sofrimento humano, que estendeu-se por mais de um
século, deu contornos a esse tempo de um período de trevas, causando a perda de esperança e a uma idéia de “castigo divino”, que conduziu os sobreviventes a uma conclusão: o ser humano nasce só, morre só e sua
sobrevivência depende apenas de si mesmo e de sua capacidade de adaptar-se às
circunstâncias e superar as adversidades de seu destino.
As
consequências desse período que avassalou todas as crenças dos europeus
inicialmente foi o surgimento de tropas de mercenários, constituidas de
desertores dos exércitos reais e ex-cavaleiros das diversas ordens militares
católicas, em ambos casos guerreiros desencantados com os ideais que um dia
tinham abraçado, que passaram a lutar em troca de pagamento de quem contratasse
seus serviços ou de quem pagasse mais, dando origem ao soldado profissional e
remunerado. Nos campos o declínio do trabalho servil que já vinha ocorrendo
devida a migração dos servos para os burgos em busca do trabalho remunerado,
bem mais lucrativo, passa gradativamente a dar lugar à mão de obra remunerada,
em razão dos movimentos de reivindicação da supressão das obrigações feudais e do regime de servidão. Por sua vez os senhores feudais cada vez mais passaram a
integrar o a rede econômica urbana, desejosos de obterem lucros mais fáceis e cada vez maiores com a atividade de compra e venda. Muitos
deles passaram a perceber que seria muito mais vantajoso eliminar a servidão e
pagar salários aos trabalhadores de suas terras. A escassez de mão de obra após
o período da grande crise européia resultou não só na valorização do trabalho,
mas também na própria valorização da capacidade de cada indivíduo para exercer
sua atividade profissional.
Um
dos maiores exemplos do surgimento do indivíduo competente e produtivo em sua
atividade deu-se no seio da famíla Médici, de origem russa que fixou-se na
região da Toscania ao norte da Itália no século XIII, que através da
transformação da lã e do comércio textil veio a adquirir a sua riqueza inicial. Durante
o período da peste negra (1334 – 1352), a família teve entre seus membros “físicos”, titulo que designava na
época os praticantes de medicina, os quais fundaram o Hospital Tozzy Firenze,
em Florença, que tornou-se renomado por toda a Europa, sendo responsável por
salvar muitas vidas. O hospital deu aos Médici grande renome apesar de serem
destituídos de nobreza, mas em razão do trabalho prestado galgaram uma posição
aristocrática na sociedade florentina com tal sucesso que por sua influência poderosa não só passaram a governar Florença (1378) como em 1397, com a fundação do
Banco Médici, a tornaram o grande centro econômico-financeiro, da Europa.
Pode-se dizer que a família Médici é o primeiro exemplo do grandioso sucesso do
poder burguês nascente na Europa, que naturalmente em razão da posição
alcançada em algum momento passa a se revestir de títulos de nobreza, não
devido ao tal “direito de nascença”, mas, sim, devido ao próprio mérito, pela
capacidade individual do indivíduo de exercer sua liderança alcançada por sua
competência profissional.
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Um dos raros retratos pintados de Lorenço de Médici em vida |
Quando
em 1469, com apenas 20 anos, Lorenço de Médici (1449 – 1492) assumiu a
direção do Banco Médici, ele
trazia na cabeça idéias adquiridas durante seus estudos em Veneza e Milão,
assim como da sua própria experiência em viagens diplomáticas a serviço de seu pai, que
o dotaram de um caráter conciliador. No que diz respeito a atividade bancária,
não via com bons olhos a exploração financeira-econômica, sua incompetência
para os negócios bancários revelou-se de pronto por sua incapacidade de cobrar o emprésitmo
feito a Eduardo IV da Inglaterra para que se sustentasse no poder com o apoio
dos barões inglêses, cuja vultuosa quantia nunca seria recuperada e obrigaria ao
fechamento da filial do banco em Londres, em 1472. De modo que a decisão de
Lorenço de dar ao banco uma função filantrópica caritativa assim como de
patrocinador das artes, porquanto ele mesmo era um poeta e filósofo, usando dos
fundos bancários para investir na modernização de Florença e na administração
pública, levaria o Banco Médici a grandes perdas financeiras e de poder, tanto
por seu descuido com os vastos negócios bancários, como pela liberdade dada aos
seus administradores das filiais no estrangeiro e pela falta de uma
administração central firme acarretando o fechamento das filiais uma a uma. Nem
mesmo a boa relação que Lorenço mantinha com o sultão Mehmed II do Império
Otomano, cujos negócios com o comércio marítimo otomanos foram no passado
grande fonte de riqueza para os Médici, impediria que o Banco Médici perdesse
seu prestígio econômico-financeiro na Europa.
Lorenço
de Médici foi em essência um
grande estadista – apesar de ser tido como um tirano em razão das exigências
das circunstâncias de seu momento histórico que instalara o caos e a
necessidade do restabelecimento de uma nova ordem –, que como governate de fato
de Florença buscou promover a conciliação estre os Estados da Itália em busca
de uma união harmoniosa, conseguindo estabelecer um entendimento entre eles e
um período de paz, que no espaço de alguns anos resultou no nascimento de uma
nova cultura humanista.
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Máscara Funerária de Lorenço de Médici |
Assim,
foi como um mecenas que Lorenço cumpriria o seu propósito intimo de lançar uma
semente transformadora do mundo ao seu redor. Não foi em vão que dedicou grande
parte de sua fortuna a serviço das artes, menos ainda o fato de ter aliado o
Banco Médici ao governo de Florença, certamente se ele não tivesse agido dessa maneira nós jamais
teríamos ouvido falar de Sandro Boticelli (1445 – 1510), Leonardo da Vinci
(1452 – 1519), Erasmo de Roterdã (1466 – 1536), Nicolau Maquiavel (1469 –
1527) – o qual escreveu sua obra master "O Príncipe" analisando sua convivência com Lorenço –, ou Michelangelo Buonarroti (1475 – 1564) – que morou no Palácio Médici quando jovem – e todos outros mais, que em algum momento de suas vidas fizeram parte do círculo privilegiado de cabeças pensantes na reconstrução do mundo, partilhando uma filosofia neoplatônica, tão apreciada por Lorenço,
que partia da noção da importância do ser humano e da necessidade do indivíduo cultivar-se através da cultura, procurando a um só tempo um constante aprimoramento
do corpo e do espírito.
Em
razão da decepção com o coletivismo, nasceu a valorização da individualidade e
do objeto que a caracteriza, o corpo humano, suas sensações e sua capacidade
racional. O que leva cada vez mais o grupo de pensadores que rodeava Lorenço a
transformar as idéias que entre eles vicejavam em obras de arte, usadas como
uma espécie de “propaganda subliminar” para divulgar esse novo pensamento, em
tudo revolucionário em seu tempo, sem entrar assim em confronto direto com a
Igreja Católica de Roma, porquanto esta surgente filosofia humanista que
valorizava a razão humana como única fonte do conhecimento entrava em confronto
com o pensamento escolástico da igreja cristã, que afirmava que o conhecimento humano era
resultado de uma mistura de fé e razão, dependente da graça divína e do esforço
humano, porquanto a natureza humana tendia ao mal, condenada pela marca do
pecado original. Contudo, quando o
filho de Lorenço, João Lorenço de Médici (1475 – 1521) tornou-se o papa Leão X
(1513) não só era impregnado pelas idéias de seu pai como elas estavam espalhadas pela Europa de tal forma que uma
verdadeira revolução teria seu início.
Foi
por causa de Lorenço de Médici que Leonardo da Vinci foi empregado em 1482 na corte do
Duque de Milão Ludovico Sforza, um grande aliado de Lorenço. Quando Leonardo estava
às voltas com o projeto de um monumental cavalo de bronze para o duque chegou à
corte de Milão em 1497 o grande matemático toscano e frade franciscano Luca
Pacioli (1445 – 1517), vindo também à convite ducal de trabalho. Assim, ambos estando ao serviço da corte de Sforza,
Leonardo e Paccioli não só se conheceram como tornaram-se amigos, moraram juntos
e trocaram idéias geniais. Com o cerco de Milão pelas tropas francesas em 1499,
Leonardo e Pacioli fugiram para Veneza, onde Leonardo empregou-se como arquiteto
militar e engenheiro. Mas, logo foram para Florença e ficaram hospedados no
Monastério de Santissima Annunciata, contudo o talento de engenharia militar e
para fazer mapas de Leonardo foi requisitado em 1502 pelo novo governante de
Florença, César Borgia (1475 – 1507), filho bastardo do papa Alexandre VI. Assim, Leonardo da Vinci passou a integrar o grupo que acompanhava César Bórgia em suas
campanhas militares com um exército de mercenários italianos e suiços em nome
do papa,. Nesta ocasião Leonardo teve como seu companheiro de destino ninguém mais
que Nicolau Maquiavel. Mas, Leonardo retornou à Florença em 1503, ficou por
lá até que foi chamado de volta à Milão pelo Duque de Sforza em 1506, ficando entre idas e
vindas à Florença para tratar de negócios familiares até 1508, quando então
fixou residência em Milão, onde permaneceu até que o papa Leão X, filho de
Lorenço Médici, o chamou à Roma em 1513, onde juntou-se ao velho companheiro de
reuniões no palácio de Lorenço de Médici, Michelangelo e o novo protegido dos
Médici, o pintor Rafael, no trabalho de construção e acabamento da Basílica de São Pedro. E foi
por indicação de Leão X, que Leonardo foi servir à corte do novo rei da
França, Francisco I em 1516, onde faleceu em 1519, para
tristeza de seu amigo e admirador, Francisco I.
A
importância do frade Luca Pacioli na vida de Leonardo Da Vinci é raramente
mensurada, possivelmente porque carece de reconhecimento a genialidade
matematica desse monge franciscano, pouco comentado pelos historiadores, cuja a
obra não só foi fundamental para os projetos surpreendentes de Leonardo da
Vinci como à estruturação econômica e financeira do processo capitalista, que
passará a se instalar na cultura européia, dando as condições necessárias ao
lançamento de todo um novo processo de desenvolvimento que assegurará o progresso da
sociedade humana até os nossos dias.
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Luca
Pacioli nasceu no vilarejo de Borgo de Sansepolcro, na região da Toscania ao norte da Itália, em 1445. Sua
educação inicial se deu em linguagem vulgar e não em latim, recebendo aulas de
seu conterrâneo o matemático e pintor Piero della Francesca (1412 – 1492). Aos
vinte anos foi para Veneza para ser preceptor dos filhos do comerciante Antonio
Rompiasi. Enquanto desempenhava essa função deu continuidade aos seus estudos
matemáticos e geométricos em uma escola pública dependente da Universidade de Veneza, e
começou a escrever seu primeiro livro. Quando seu empregador faleceu em 1470,
Pacioli recebeu o convite de um dos primeiros investigadores da perspectiva
geométrica, o arquiteto León Battista Alberti (1404 – 1472), para ir para Roma.
E, em 1472, Pacioli ingressou na ordem de São Francisco de Assis.
Já
como frei franciscano Luca Pacioli
se mudou em 1475 para a cidade de Perugia para lecionar matemática e ocupou a primeira
cátedra de Matemática em sua Universidade de 1477 a 1489, porém em 1481 passou
uma temporada em Zara (atual Croácia) onde escreveu um manual de matemática de
fácil compreesão em linguagem vernacular para seus estudantes. Em seu retorno à
Perugia passou uma temporada em Florença, possivelmente frequentando o círculo
dos pensadores e artistas humanistas neoplatônicos de Lorenço de Médici. Certo
é que quando do seu retorno à Universidade de Perugia em 1486 obteve o título
de Magistrado e lecionou Matemética de 1486 a 1489. Mas, devido a sua saúde
frágil e esgotado Pacioli abandonou a docência e fixou residência em Roma. Em
1490, a convite do duque de Urbino, Guidobaldo de Montefeltro, ensinou teologia
e matemática em Nápoles, mas logo retornou para sua cidade natal, permanecendo em Sansepulcro de 1490 a
1493 preparando a sua obra master “Summa de Arithmetica, Geometria, Proportioni
et proportionalitá”. Em 1493 chegou a lecionar em Pádua, mas assim que
terminou a redaçãos da sua obra mudou-se para Veneza para supervisionar os
trabalhos de impressão, pois a esta altura as impressoras de Gutemberg já tinham se espalhado por todas
grandes cidades européias.
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Summa de Arithmetica, Geometria, Proportioni et Proportionalitá |
Em
1494, o livro de quase 600 páginas de Pacioli chamado “Summa de Arithmetica, Geometria,
Proportioni et proportionalitá” foi publicado em Veneza trazendo um
tratado sobre a metemática comercial, o chamado “método veneziano” – o qual
segundo algumas fontes teria se originado do método introduzido por Giovanni de
Mádici na administração contábil do Banco Médici –, e que Pacioli fora instruído em Perugia a não
ensinar aos seus alunos, porquanto era considerado a razão do sucesso comercial
da elite dos negociantes de seu tempo, sendo essa uma das causas que o fez
abandonar a docência.
Mas
do que trata esse secretíssimo “método veneziano”? Em seu “Traestus XI –
Particularis de computis et seripturis”, Pacioli por 36 capítulos escreve o
tratado de contas de contabilidade usando a partida
dobrada, onde define as regras fundamentais do príncipio matemático e o da
partida dobrada”:
1ª.
Não há devedor sem credor ( ou débito sem crédito);
2ª.
A soma que se debita a uma ou várias contas tem que ser igual a que se credita
(ou cada débito corresponde a um crédito de igual valor);
3ª.
Todo que recebe deve a pessoa que dá ou entrega;
4ª.
Todo valor que ingressa é do devedor e todo valor que sai é do credor e
5ª.
Toda perda é devedora e toda ganância (perspectiva de lucro) é credora.
Em
seu tratado Pacioli aconselha o uso de quatro livros de acompanhamento de
contas: o de inventário e balanços, o de comprovantes, diários e o maior, que
correponderiam ao Livro Razão (ordem sistemática, que demonstra resultados de
lucros ou de perdas), ao Livro de Contas Correntes, ao Livro Caixa (recursos disponíveis, dando o conceito de
que o valor em caixa é igual ao capital consolidado disponível para uma transação)
e ao Livro Diário (ordem cronológica)
e, como são conhecidos na contabilidade moderna. Pacioli ensinou como essas contas
deveriam ser feitas em colunas demonstrativas organizadas em folhas de balanço
de uma categoria contábil de forma a relatar a atividade do fluxo de entrada e
saída de valores, e avisava que uma pessoa não devia dormir antes de igualar os
débitos aos créditos, ou seja os ganhos aos gastos, para manter suas contas
financeiras em dia.
Ora
em tempos de crises comerciais como no final do século XV, o livro de Pacioli
foi um salto qualitativo nas relações comerciais européias onde a falta de
controle da administração dos negócios era sempre a causa primeira de levar os
empreendimentos comerciais à falência. Não é sem motivo que Luca Pacioli é
considerado nos dias atuais o pai da “contabilidade” e o criador do conceito de
“capital” (= dinheiro em “caixa”,
em refer6encia a caixa usada pelos comerciantes venezianos para guardar o
dinheiro das negociações).
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Um dos poliedros desenhado por Da Vinci para Pacioli |
Por
conta do sucesso do seu livro é
que Pacioli foi chamado por Ludovico Sforza para sua corte em Milão em
1496 e deu aulas de matemática à Leonardo Da Vinci enquanto conviviam
juntos. O resultado da intíma relação entre esses dois gênios foi o livro
escrito por Pacioli em Milão de 1496 a
1498, chamado “Da Divina Proporção”, onde ele permeou a
Matemática com uma especulação
neoplatônica, apresnetando um estudo de perspectiva que revolucionaria desde a
arquitetura como sem dúvida a prática artística da pintura e da escultura. Em
paga dos preciosos conhecimentos recebidos do frei franciscano, Leonardo da
Vinci realizou os desenhos dos sessenta poliedros que aparecem no livro e
outros temas explicativos, que tornaram essa obra uma das mais importantes do
tempo renascentista e explica o grande progresso nas obras de artes e mesmo na
aquitetura a partir de sua publicação. Contudo, é preciso não esquecer que o
conhecimento matemático fornecido por Leonardo Fibonacci (1170 - 1250) em sua obra, responsável por introduzir a numeração com digitos de zero a 9 como novo sistema numeral, o
livro de cálculo e outros conceitos matemáticos foi deveras fundamental para que Pacioli pudesse dar tanto uma
natureza prática à Matemática em sua obra de contabilidade, como uma natureza
especulativa com seus estudos de perspectivas e frações.
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Divina Proporção |
Após
a já comentada fuga de Leonardo e Pacioli de Milão em 1499, passando por Mantua
e seguindo para Veneza e indo para Florença, logo ambos se separariam, Pacioli
retomou a docência dando aulas nas Universidades de em Piza e Bolonha a partir
de 1500. Em 1505 regressou a Roma permanecendo até 1508, quando viajou para
Veneza para supervisionar a publicação “Da Divina Proporção”, que saiu da
prensa em 1509, retirando-se depois para sua cidade natal em razão de sua
delicada saúde. Mas, seu descanso não durou muito, pois do mesmo modo o papa Leão X, chamara a Leonardo da Vinci para ajudar na
obra da Basílica de São Pedro em 1513, Luciano Pacioli também foi convocado por
Leão X em 1414, sendo instalado como professor da Sapienza, a Universidade
da “cidade eterna”, em Roma, onde os dois amigos, Leonardo e Pacioli, puderam se reencontrar pela última vez. Pacioli veio a falecer em 1517, em sua cidade de
nascimento em Borgo de Sansepolcro, deixando atrás de si uma semeadura de
conhecimento tão vasta, que daria tantos e tantos frutos, que nem ele mesmo com
a sua genialidade matemática poderia ter calculado que seria possível.
Neste mesmo período a influência germânica passara a se expandir num processo de
germanização aos territórios avizinhados aos ducados germânicos, absorvendo
fazendeiros, comerciantes e artesões, atraindo também um crecente número de
refugiados judeus perseguidos em outras partes da Europa em razão do progresso e do desenvolvimento comercial da região. Assim, o final do século XV é marcado pelo aumento da influência
da emergente burguesia germânica oriunda das atividades comerciais da Liga
Hanseática (Hansa), a qual expandia-se com a adesão de um número crescente de
cidades mercantis ao norte da Europa, formando uma rede comercial na qual os
germânicos passaram a adquirir cada vez mais poder.
Com essa burguesia germânica que se
fortalecia às expensas da aristocracia feudal, surgiu o conceito de
“propriedade”, que passa a substituir as antigas formas de juridição, que davam
limites dentro dos quais a autoridade podia ser exercida. A “posse” de terra
deixa de ser um benefício restrito à hierarquia política imperial romana da nobreza e da qual outros poderes derivavam, para vir a ser uma “propriedade”
passível de ser adquirida e comerciada e da qual derivavam não só direitos, mas também as obrigações.
No entanto, note-se que este tipo novo de juridição não contava a este tempo
com o amparo de uma legislação, a qual não existia ainda virtualmente. As
práticas jurídicas, a este tempo, se davam com base em costumes tradicionais e
nas cortes jurídicas as leis eram descritas segundo as práticas comuns.
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A influência comercial de Bruges em 1487 |
Em
termos de divisão política o território germânico como Império Sacro Romano era
dividido em cinco ducados. Durante o século XII o duque de Swabia, Rodolfo de
Habsburg (1218 – 1291) adquiriu os ducados da Áustria e da Styria, e em
1273, fundou a dinastia alemã da casa dos Habsburg, que passou a expandir sua
influência na Europa através de casamentos e pelos ganhos de privilégios
papais. Desse modo no século XV o filho de Frederico III de Habsburg (1415 –
1493), Imperador do Sacro Império Romano e da infanta Eleanor de Portugal,
Maximiliano II de Habsburgo (1459 – 1519) casou-se com a única neta do Duque de
Borgonha, Filipe III, o Bom, que havia fixado sua corte na poderosa cidade
comercial de Bruges, atraindo para ela muitos banqueiros e personalidades
proeminentes, levando a cidade a ser consideras a “Veneza do Norte”. De seu
casamento com a Duquesa Maria de Borgonha e Brabant (1457 – 1482) nasceu Filipe
I de Habsbugo, cognominado o Belo, fato garantiu aos Habsburgo o domínio
comercial da região ao norte da Europa. Por sua vez, Filipe I, o Belo, casou-se
com Joana de Castela, a filha de Ferdinando II de Aragão e de Isabel de
Castela, os reis católicos da Espanha, cuja a irmã Catarina de Aragão casou-se com Henrique
VIII, rei da Inglaterra, fato que levaria Filipe I, o Belo, a instalar uma
representação da casa de Habsburg e de sua corte em Londres. E será do
casamento de Filipe I, o Belo, com Joana de Castela que nascerá uma das figuras
mais proeminentes do século XVI, Carlos V (1500 – 1558), Imperador do Sacro
Império Romano-Germânico. (1512), que por sua vez casou-se com a filha de Dom Manuel I de
Portugal e Maria de Aragão (filha também de Ferdinando II e Isabel, reis
católicos da Espanha). Tais casamentos deram origem ao famoso círculo de poder
em torno da França, o chamado “anel de ferro dos Habsburg”,
responsável por uma série de acontecimentos determinantes do futuro dos reinos
europeus.
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Mapa do "Anel de Ferro Habsburg" |
É
neste cenário da conquista de poder dos Habsburgo em busca do domínio
comercial europeu, que irá surgir um personagem oriundo da emergente burguesia
germânica cujo papel excederá amplamente as expectativas de ascensão ao poder
de um homem comum destituído de nobreza, podendo-se dizer que ele foi fundador
do ideal capitalista do “made self man” , o nome desse home era Jacob Fugger.
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Jacob Fugger por Albecht Dürer – 1518 |
Jacob
Fugger (1459 – 1525) nasceu na cidade germânica de Augsburg, uma cidade que
apesar de não fazer parte da Liga Hansa veio a ser cada vez mais beneficiada
pelo progresso decorrente dela, em razão da qualidade de suas manufaturas, de
sua tecelagem e de seu
comerciantes de prata, ouro e cobre. Ele era o nono filho de dez filhos de uma
família de comerciantes de Augsburg. Dois de seus irmãos morreram em 1460 e quando ele tinha dez anos seu pai morreu também, assim seus irmãos mais velhos Ulrich
Fugger (1441 – 1510) e George (1453 – 1506) tomaram à frente dos negócios da
família e começam a criar as bases para o crescimento da companhia, abrindo
negócios de manufaturas em Nuremberg e Veneza. Ocorreu que em 1473 uma grande oportunidade
bateu à porta dos Fugger, Ulrich foi encarregado de fornecer as novas
vestimentas para o imperador Frederico, seu filho Maximiliano I e seu séquito
em sua viagem de visita ao Duque de Borgonha, Carlos, o Calvo, (filho de Filipe
III, o Bom) quando se daria o noivado de sua filha Maria com o jovem
Maximiliano. Assim, Ulrich financiou toda a opulência desejada pelo monarca e pelo empréstimo
recebeu o brasão de família ornado com um lírio em 1473. Esse foi o início de
uma relação muito lucrativa entre a família Fugger e os Habsburg.
No
mesmo ano de 1473, Ulrich Fugger decidiu que seus dois irmãos menores Jacob e
Marcos deveriam seguir a carreira clerical. Marcos, o caçula, ficou em Roma
encarregado de lidar com as remessas de dinheiro da venda de indulgências para
a corte papal. Jacob foi encaminhado para o mosteiro franciscano em Herrieden,
na Alemanha, onde permaneceu até a morte de seu irmão Marcos em Roma, em 1478. Então, Ulrich considerou que com o crescimento dos negócios, agora com os irmãos
Fugger reduzidos a apenas seis, seria melhor encerrar a carreira clerical de
Jacob e o instalou na Fondaco dei
Tedeschi, sede dos negociantes germânicos em Veneza, para ser instruído nas
artes comerciais venezianas.
Em
seu primeiro ano de estudos na Itália, Jacob acompanhou seu irmão Ulrich em
suas constantes visitas à Roma e à Florença, onde teve acesso tanto ao círculo
de poder papal como ao círculo de influência de Lorenço Médici assim como de outros poderosos daquele tempo. Portanto, Jacob
Fugger teve a rara oportunidade de conhecer as sutis conexões entre os
comerciantes e os príncipes e a igreja. Durante a sua permanência na Itália por
nove anos, de 1478 a 1487, Jacob se dedicou à sua formação como negociante,
estudando o famoso método veneziano das partidas dobradas, que seriam
divulgadas por Pacioli em sua “ Summa”
, publicada em Veneza, no ano de1494. Não se pode desconsiderar a possibilidade
de Jacob Fugger ter tido algum tipo de contato Luca Pacioli, pois naquele
tempo, praticamente todas pessoas influentes se conheciam entre si. As idéias
humanistas neoplatônicas que vicejaram na corte de Lorenço de Médici sem dúvida
transpareceram na formação do caráter de Jacob Fugger, refletindo-se com a passagem dos anos em vários
aspectos da condução de sua vida privada e de seus negócios.
Após
ter tomado intimidade com todos os negócios da família pela Europa em
sucessivas viagens, seria em Salzburgo que Jacob demonstrou pela primeira vez
seu notável talento comercial, ao fazer um empréstimo aos trabalhadores
autonomos das minas de prata de Salzburgo necessitados constantemente de
capital. Jacob emprestou o dinheiro com o uso de boletos da dívida e pediu uma
participação na mineradora, introduzindo-se assim no negócio de mineração e
eliminando intermediários. Esse negócio o conduziu em 1485 à gerência da filial
dos negócios da família Fugger em Innsbruck, de onde dirigiu sua atenção para os
negócios das mineradoras na região do Tirol.
O
primeiro grande empréstimo negociado por Jacob Fugger foi para o Arquiduque
Segismundo, governante da rica zona mineira de Schwaz em 1487, marcando de
fato a fundação do Banco Fugger. O arquiduque era o proprietário único dos direitos
de um arrendatário privado de mineração, que pagava-lhe com uma parcela de seu
usufruto. Contudo, o arquiduque sempre envolvido em dívidas por conta de seus
gastos desmedidos era obrigado a
pedir sempre empréstimos para o sustento de sua corte, onde mantinha
seus quarenta filhos bastardos e para a sua intensa atividade construtora. Em
1488 a dívida do arquiduque com Jacob Fugger era de mais de 150 mil florins,
uma verdadeira fortuna que o duque não teria como pagar. Jacob então ofereceu uma proposta ao arquiduque de que faria os pagamentos diretamente aos credores dele, à casa real, aos artesões, aos soldados e todos à serviço do arquiduque, em
contrapartida Jacob receberia os pagamentos diretamente dos devedores do
arquiduque, suas garantias sobre os altos funcionários e principalmente os
pagamentos das concessões das minas do Tirol. Ou seja, em poucas palavras, com a proposta aceita pelo arquiduque Jacob
trocou a dívida do arquiduque com ele pelo direito de administrar
economicamente e financeiramente a região do Tirol e inclusive a própria vida da
corte do arquiduque, como resultado Jacob obteve as conexões necessárias para
conseguir logo depois o monopólio da prata no Tirol. Esse foi o início de um extensivo
envolvimento da família Fugger com a mineração e os metais preciosos, que
transformariam os Fugger em banqueiros, permitindo que tivessem domínio sobre a
casa da moeda do Tirol – a encargo também de Jacob –, podendo comprar o marco da
prata a cinco florins e revendê-lo a oito, podendo também duplicar seu valor ao
aliar a prata com o cobre.
Em
1489, Jacob Fugger encontrou-se com o jovem Maximiliano na feira de Frankfurt,
o estreitamento da amizade entre ambos resultou em 1490 na abdicação do
arquiduque Segismundo a favor de Maximiliano, motivada pelo julgamento público da má administração dos
territórios tiroleses por Segismundo, de modo que todos créditos do arquiduque passaram Maximiliano, créditos estes que continuaram sendo admistrados pelo Banco Fugger, logicamente. Logo, os Fugger tornaram-se os mais importantes
prestadores de serviços financeiros dos Habsburg, porém quando Maximilano subiu ao
trono demonstrou ser um gastador muito maior do que algum dia o fora o
arquiduque Sigismundo, o que colocou o novo imperador também nas mãos dos
banqueiros Fugger, porém foi com o apoio inquestionável de Jacob Fugger que a
casa dinástica dos Habsburgo tornou-se dominante no Sacro Império Romano.
Com
o prestígio econômico-financeiro e político em alta, restava a Jacob Fugger a
ascenção social tão desejada, assim ele casou-se em 1498 com uma Grã-burguesa (ou grã-cidadã) de
Augsburg, Sibylla Artz, abrindo caminho para que ele se elevasse na
aristocracia social como Grão-burguês (ou grão-cidadão) de Augsburg, chegando mais tarde até a
ter um assento no conselho da cidade. Pelos serviços prestados aos Habsburg,
Jacob seria elevado a nobreza do Sacro Império Romano em 1511, com o título de "conde". Os serviços indispensáveis de jacob para o sucesso das grandes ambições de domínio econômico
da Europa pelos Habsburgo, agregou a ele não só a fama do homem mais rico
da Europa mas como o de maior banqueiro que a Europa já tinha visto até então. Assim, naquele tempo, tal como alguém já o disse, não saber quem era Jacob Fugger eseria o mesmo de aguém hoje não saber quem é Bill Gates!!!
Jacob
Fugger tinha um verdadeiro espírito capitalista, como negociante domínou o
comércio do papel, em grande procura por causa da disseminação das impressoras
(Gutemberg) que permitiam a publicação de livros em massa, assim como imperava
sobre o comércio de especiarias, bens de luxo, perolas e gemas preciosas. Por
conta de seus negócios comerciais patrocinou financeiramente as viagens
marítimas de Vasco da Gama para a Índia, de Francisco de Almeida e de Fernando
de Magalhães e de ninguém mais que Pedro Alvares Cabral, descobridor do Brasil.
Jacob Fugger foi o primeiro a investir no Brasil, fazendo de Fernão de Noronha
representante de seus interesses na nova colônia portuguesa. E seus negócios
com os navegadoras e as terras novas eram extremamente facilitados por conta do
“anel de ferro dos Habsburg” e suas alianças familiares com Portugal e Espanha.
Fugger
era movido não só pelo seu desejo de subir socialmente numa hierarquia européia
engessada pelo culto pessoal dado pelo direito de nascimento da nobreza, ele
tinha paixão não por apenas fazer algo, mas por ter lucro com o que fazia e
obter assim cada vez mais riqueza. O dinheiro para ele era um fim e não apenas
um meio, em razão disso o conhecimento que ele obteve na Itália da “arte da
contabilidade”, não era para ele meramente uma técnica contábil, mas bem mais
do que isso, Fugger via na contabilidade o seu real propósito que era o de
auxiliar a obter mais e mais riqueza.
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Agência e Comércio do Banco Fugger (1495 -1525) |
Jacob viajava regularmente às suas sucursais na Europa, nas quais instara um método administrativo deveras eficiente, tendo um diretor para cada uma com um time de funcionários constituído de dez contadores, dez caixas, dez escriturários, dez secretários e etc., empregados por um contrato de duração determinada de 6 à 8 anos. Fugger mudava seguidamente seus diretores de uma sucursal para outra para impedir que estabelecessem laços pessoais e profissionais nas cidades e eles não tinham o direito de fazerem negócios por conta própria. Jacob muito ciente da necessidade de proteger seus interesses formou uma rede de informação, comparável a um "serviço secreto" de espionagem, e, igualmente, estabeleceu um serviço próprio de correios, de modo que todas as correspondências de negociações entre as partes envolvidas eram obrigadas a passarem pelas mãos do agente de Fugger, em Innsbruck. Paralelamente, Jacob Fugger usou parte de sua fortuna patrocinando não apenas a ordenação de padres como exércitos de mercenários, particularmente o primeiro contingente de mercenários suiços pedido pelo papa Julio II, pedido à Confereação Helvética em 1505, que passou a ser conhecido como Guarda Suiça do Pontífice em 1506, e que serviu sob às ordens de César Borgia, investimentos que garantiram ao Banco Fugger ter o papado entre seus principais clientes.
Jacob
Fugger estabeleu uma espécie de “arte da riqueza”, considerando que o
racionalismo econômico era um requisito fundamental para o sucesso dos
negócios. Ele era um desapaixonado, combatia o otimismo mal colocado, sempre
colocando-o sob a luz de um escrutínio racional. Defendia a idéia de que apenas
quando todas as medidas de precauções foram tomadas o otimismo se fazia
necessário para que qualquer empreendedor se justificasse na tomada de
decisões. Uma de suas máximas era: “en
affaires comme en affaires”, isto é, negócio é negócio e é preciso negociar
com isso.
Jacob
Fugger se ateve à reflexão de Maquiavel e a seu conselho que “o verdadeiro estadista deve manter a cabeça
calma e procurar apenas o que é realizável”, ou seja, não buscar lucros
excessivos, mas reconhecer os limites apropriados de cada transação, esta seria
a chave do segredo da força e do poder. Ele considerava a segurança de cada
empreendimento, inclusive aquelas que não tivessem sido aventadas em termos de longo prazo, de forma a não gastar energia em várias oportunidades recorrentes
constantemente presentes sob todas condições de negócio. Ele considerava que
era preferível negócios menores mas certos e lucrativos do que grandes negócios
mas mais arriscados, e foi assim com a soma de pequenos negócios que ele
adquiriu o monopólio europeu da prata e lucraria absurdamente com o ouro do
novo mundo trazido nos galeões espanhóis.
Sabiamente,
Jacob Fugger adotou para si um conselheiro jurídico, o humanista Conrad
Peutinger (1465 – 1547), que estudara Direito na Universidade de Pádua, vindo a
ocupar o cargo de secretário adminstrativo de Augsbugo em 1497. Assim, o
moderno jurísta com espírito forjado pelo Direito Romano e pela
individualização pagã do neoplatonismo florentino e que dava às costas à
organização social solidária cristã germânica uniu-se ao moderno negociante que
não aceitava os limites do “altruísmo” cristão para seu desejo de adquirir
lucros e estabelecer empreendimentos. Dessa parceria racionalista um novo rumo
legal germânico foi definido, responsável pela defesa legal do direito das companhias comerciais, dos comerciantes e dos produtores de calcularem o próprio preço das
mercadorias que negociavam e da tolerância com os monopólios capitalistas e
cartéis. Sob a influência de Jacob
Fugger, Peutinger escreveu: “Todo
comerciante é livre para vender suas mercadorias como queira, como possa e como
escolha. Nesta ação, ele não comete pecado contra a lei canônica, nem é culpado
de uma conduta antisocial. Por conta dessa lei canônica ocorre regularmente dos
comerciantes, para prejuízo deles, serem forçados a venderem suas mercadorias
mais baratas do que eles as compram.” Da cooperação entre Fugger e
Peutinger surgiu uma nova política comercial imperial, que estabeleceu uma
“legislação comercial”, algo até então inexistente e que seria adotada em vários centros comerciais europeus.
O
Banco Fugger sob a direção de Jacob Fugger tomou cada vez mais o lugar do Banco
Médici, que enfraquecido com a má administração perdia seguidmente os seus
contratos e sua influência política para seu único concorrente. Jacob Fugger
não era só muitíssimo rico, mas também politicamente protegido pela ligação de sua
fortuna financeira ao poder político dos Habsburgo, que não só eram
governantes da Áustria e de grande parte da Alemanha, mas em dado tempo
tornaram-se também governantes da maior parte do Novo Mundo. Portanto, não é de
admirar que Jacob Fugger passou a ser presença imprescindível na mesa de
negociação dos reis europeus.
O
grandioso poder de Jacob Fugger deveu-se à sua capacidade de sustetar com
fidelidade e convicção os interesses dos Habsburgo, os apoiando com o poder de
sua riqueza e do seu crédito a política imperial nas esferas temporal e
espiritual. Porém, Jacob Fugger, prudentemente, jamais foi tão longe que seu poder
fosse exposto e descoberto. Ele permitia-se ao orgulho pessoal tendo consciência de ser indispensável e de seu extraordinário poder – uma posição ímpar
nunca antes alcançada por um homem comum–, mas guardava para si, sem nunca mostrar
nenhum traço de vanglória. E, ele com calma fria e calculada fazia
objetivamente seus negócios. Essa postura discreta foi sem dúvida a razão de seu
grandioso sucesso em todos os aspectos de sua vida e pela conservação de sua
influência poderosa até o fim dos seus dias, sendo ele, direta ou indiretamente,
responsável pelos caminhos do destino europeu a partir do século XVI, como nós poderemos constatar no próximo capítulo.