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terça-feira, 19 de junho de 2012

XIV – OS DOIS GRANDES TECELÕES RELIGIOSOS DA NOSSA ERA


Ao final do século a.C. toda a obra de tecelões como Alexandre Magno e Julio César  começou a ser comida pelas traças e a deslumbrante tapeçaria da história da Antiguidade foi desaparecendo, contudo novos tecelões surgiriam para garantir que a obra não se perderia de todo. Dois homens foram os grandiosos tecelões responsáveis pela transformação que daria o arremate final na segunda metarmofose humana, cujo conhecimento conquistado viria a dormir oculto tal como uma semente semeada no solo a espera da hora de germinar. Esses dois grandiosos tecelões que garantiriam que a herança do conhecimento humano transcendesse as gerações humanas até os dias de hoje foram: o judeu Jesus, o Nazareno e o árabe Maomé. Estes dois homens nascidos dentro de uma aura de predestinação divina foram responsáveis pela formação de duas tendências civilizatórias, que viriam a impulsionar o avanço em diração a terceira mutação humana. Então, vejamos como isso veio a acontecer.

No ano de 27 a.C. após o assassinato de Julio Cesar, seu sobrinho-neto e por ele perfilhado, Caio Julio Cesar Octaviano, foi reconhecido como herdeiro-legítimo do grande ditador-militar que dera grandeza imperial à Roma, assim em 27 d.C. o senado ao consagrá-lo como o Primeiro Imperador de Roma atribuiu-lhe o título de seu nome oficial IMPERADOR CESAR FILHO DE DEUS AUGUSTO (em latim: Imperator Caesar Divi Filius Augustus), sendo que o título de “Augusto” tinha por significado “Aquele que é digno de veneração e de honra” e que lhe conferia uma posição “sagrada” e “semi-divinisada”. Sem nenhuma dúvida nunca antes houvera um homem tão poderoso na face da terra, tão poderoso que pouco antes de sua morte foi declarado “Deus” pelo senado romano, recebendo o título de “Divino Augusto”, mas mesmo sendo considerado como Deus tal como um mortal qualquer faleceu a 19 de agosto de 14 d.C. , dando o seu nome a esse mês do calendário romano, sendo esta, ironicamente, a única lembrança de sua existência que permanece até hoje, mesmo assim poucos sabem quem ele foi o homem mais poderoso da Antiguidade.

Em contraponto ao homem mais poderoso da face da terra, o Imperador Cesar Filho de Deus Augusto, nasceu numa cidadezinha do antigo reino de Israel, então sob domínio romano, um menino pobre, mas nobre, por ser descendente do Rei Davi. A este menino nascido por volta de 8­–4 a.C. foi dado o nome hebráico de “Yehoshua”, que queria dizer “Deus (Javé) salva ou Deus (Javé) é a salvação”.

Yehoshua” era o nome que Moisés dera a Oséias, filho de Num, da tribo de Benjamim. quando o enviou com outros para espionarem as terras de Canaã (Num. 13:16) território que corresponderia à “Terra Prometida” por Deus aos hebreus, o qual seria indicado por Deus para conduzir o povo hebreu na entrada da “Terra Prometida.” O nome hebráico “Yehoshua” corresponde a Yeshua em aramáico, que quer dizer “salvação” e em grego a grafia é Iesus, por ocasião da latinização do nome pelos romanos a grafia adotada foi Jesus e o nome Josué foi uma criatividade romana para distinguir o líder guerreiro hebreu daquele que humilhariam como “rei dos judeus.” Portanto, a distinção essencial feita pelos romanos ao nome hebreu “Yehoshua”  é que Josué era um o guerreiro e conquistador da “Terra Prometida” e Jesus um rabi milagroso Jesus, o qual prometia a entrada no “Reino de Deus” sem o uso de armas, portanto a associação do nome de Jesus com um guerreiro conquistador sem dúvida não seria do interesse romano, que ironicamente, num futuro distante usaria da figura desse homem justo, submisso e martirizado para garantir a sobrevivência do Império Romano através dos séculos, de certa maneira até os nossos dias.

Foi então assim que no tempo de um imperador romano que tinha por objetivo ser o próprio Deus sobre a face da terra, que esse menino chamado Jesus cresceu e se tornou um jovem homem, e como todos os jovens de qualquer tempo devia ter admiração por outro homem que alcança uma posição de destaque na vida. Uma admiração que, no caso de Jesus, devia ser mais de descrença em tal absurdo do que em um exemplo que ele próprio seguiria, muito ao contrário, o imperador romano deveria representar para ele uma blasfemia ao que realmente era sagrado. Quando, então, na maturidade dos seus 30 anos, Jesus começa a sua pregação religiosa sendo seguido e reverenciado pelas massas como o verdadeiro “Filho de Deus” em detrimento do falecido e divinisado Imperador romano, cuja lembrança odiosa se mantinha presente entre os judeus, seria tanto em razão de seus ensinamentos revolucionários – de confraternização entre os seres humanos e o desapego aos bens materiais –, quanto por causa de seus milagres – tão poderosos que até permitia-lhe ressucitar pessoas da morte – , que tendo tais feitos ocorrido por três anos seguidos aumentaram ser poder a ponto de Jesus entrar em Jerusalém ovacionado pela multidão como o novo “rei dos Judeus” – o messias prometido pelo profeta Ísaias que traria a “salvação” para o provo judeu. Não foi, portanto, de admirar que os sacerdotes judeus e o poder romano passassem a vê-lo como uma ameaça política e social ao status quo vigente e decidissem em coluío eliminá-lo de maneira humilhante e impiedosa para que servisse de exemplo às massas e as mantivesse oprimidas.

Jesus, o Nazareno, cumpriu a sua predestinação como um dos maiores tecelões da sociedade humana, não em vida, mas como semente que desce à terra e morre, para resurgir gloriosa em sua vida ao ascender da escuridão do solo à luz do sol. Os ensinamentos de Jesus foram semeados de tal forma que a sua morte deu à eles um poder nunca antes imaginado. A história de Jesus e seus ensinamentos foram transmitidos mais  na tradição oral – em razão das perseguições que seus seguidores sofreriam – que na tradição escrita, pois muito pouco seria escrito sobre ele, mas esta pouca documentação existente foi milagrosamente preservada e serviu  para minar o Império Romano de tal forma que no século II da nossa era, quando a liberdade de culto foi permitida em todo o Império, esses documentos passaram a servir de base a fortificação de uma nova religião que não fazia distinção de pessoa e abraçava a todos que nela tinham crença, pois sustentava-se ela em três pilares: o amor, a esperança e a fé. 

Quem poderia imaginar naquele tempo que os ensinamentos de Jesus teriam tal efeito? O poder os ensinamentos de Jesus seria tanto que os próprios romanos para salvarem seu Império da aniquilação total constituiram a crença em Jesus a religião oficial do Império e colocaram o próprio Jesus como o supremo rei sobre todos os homens, eles foram ainda mais além ao reconhecerem nele o verdadeiro “Filho de Deus” e até deram-lhe o título de Christus, que no latim significa “Senhor Nosso”, enquanto que no grego o termo Kristós seignifica “o consagrado” que corresponde à tradução do termo hebráico “mesiah” para “ungido”, em português “messias”. Note-se que o título em latim tem uma conotação diferente do termo usado em hebráico, que está presente nos textos sagrados judáicos e nos textos bíblicos, e a contextualização é bem diferente no emprego de tal título, talvez em razão disso o próprio Jesus nunca se referiu a si mesmo como “messias”, mas como o “Filho do homem” título dado aos profetas judeus, do mesmo modo seus discípulos o chamavam de Jesus, pois este era seu nome o qual tinha um significado muito mais poderoso e concernente ao que realmente Jesus representaria para todos aqueles que acreditavam nele.

Então foi este homem morto de maneira tão humilhante e que fizera ressurgir a si mesmo da morte para provar o poder de Deus e que Deus é amor e qual era a verdadeira natureza do “Filho de Deus” – pois mesmo os judeus que também se chamavam de “filhos de Deus”, não compreendiam o significado real disso – , o qual se tornou a amálgama unificadora entre povos vindos de todas as partes com as mais diversas culturas e do povo dominador que imperava impiedosamente sobre a terra. Foi em razão da fé em Jesus que foi tecida a tapeçaria de poder e força da cultura Ocidental. Ele foi a semente de mostarda, que mesmo sendo a menor semente, cresceu e se fez abrigo para todos aquele seres humanos que buscavam consolo para a dureza de suas vidas. Jesus foi a pedra angular desprezada tanto por judeus como romanos e sobre ele se ergueria todo o explendor da civilização Ocidental. A sede de conhecimento levou seus seguidores europeus a buscarem cada vez mais e mais pelos verdadeiros sinais de sua passagem entre os homens, movidos não só pela curiosidade como também pelo desejo de se aproximarem de alguma forma do homem Jesus que não conheceram. Assim, Jesus deu a sobrevida admirável ao Império Romano, o salvando da própria ruína e deu a ele uma nova vestimenta, que permitiu não só reunir todos os povos  do antigo império como as novas hordas bárbaras que chegavam à Europa num só povo, num só rebanho.

Contudo, essa unidade inicial obtida pelos romanos com a constituição de uma teocracia cristã não se sustentaria por muito tempo, porque os arraigados costumes romanos e sua sêde crescente de poder sempre era fonte de discórdia e disputas, e uma grande perda de tempo e energia em embates políticos e  de ideologias religiosas, para sustentar o domínio sobre os novos reinos que surgiam na Europa e ao mesmo tempo manter o poder romano em outras partes do Império. Para tanto foi estabelecida uma Pentarquia com ao principais cidades do Império: Roma, Constantinopla, Jerusalém, Antióquia e Alexandria. O combate as heresias sobre a nova religião acabavam em perseguições sangrentas, as discussões sobra a natureza de Jesus era sempre o pomo da discórdia, até que a Igreja Sassânida Persa, que conseguira se estabelecer firmemente na Pérsia no século V, devido a confluência de idéias com o zoroatrísmo, foi acusada de heresia e acabou se separando de Roma, fundando a Igreja do Oriente. O mesmo se daria quando Constantinopla se confrontou com a Igreja de Alexandria, também a acusando de heresia, assim a Igreja de Alexandria se separou Pentarquia e fundou a Igreja Copta, em 533 d.C., tal clima de disputas políticas sobre dogmas cristãos entre os bispados que haviam passado a representar o poder do antigo Império Romano causou o enfraquecimento do domínio romano no Oriente Médio e devido a ausência de poder político governamental originou-se a oportunidade para o surgimento de uma nova força político-religiosa expansionista na região advinda da Península Arábica.

A Península Arábica está localizada entre a Ásia e a África e é banhada no seu lado oriental pelo Mar da Arábia no Golfo Pérsico, e no lado ocidental pelo Mar Vermelho. As condições ambientais se caracterizam pelo solo árido e a inexistência de rios permanentes, incluindo extensa região desértica. As montanhas de Hedjaz acompanham a estreita planície costeira de Mar Vermelho – onde estão situados picos de até 3.100 metros. A leste do planalto central fica a região costeira banhada pelo Golfo Pérsico.

A Península Arábica desde muito tempo antes da Era Cristã fora habitada por povos nômades semitas. Segundo a Bíblia, Abraão tomou como concubina a escrava egípcia Agar, nascendo dessa união Ismael. Com o nascimento milagroso de Isaac, seu filho legítimo com sua esposa Sarah, Abraão repudiou Agar a pedido de Sarah, e a expulsou juntamente com o filho da sua tribo. Sendo assim, o filho bastardo de Abraão seria o fundador do tronco árabe semita e portanto também descendente do patriarca hebreu. Esse parentesco veio a ser causa da discriminação e da rivalidade históricas entre as tribos árabes e hebráicas.

Por volta do século VI da nossa era a Península Arábica era habitada por dois grandes grupos humanos: os árabes urbanos – habitantes de cidades como Meca e Yathrib – e os beduínos – habitantes do interior da península. Em razão de suas condições geográficas e pela reduzidas regiões agrícolas – situadas ao Sul, na costa do Mar Vermelho e junto à região montanhosa –, boa parte da população da região dedicava-se ao pastoreio e a prática comercial com caravanas que cobriam as rotas entre a Ásia, a parte oriental do Mar Mediterrâneo – onde situava-se o então Império Bizantino romano – e a costa mediterrânea da África , que tinha como principal centro comercial a cidade de Alexandria. O comércio de caravanas colaboraria decisivamente para que os árabes entrassem em contato frequente com diversas influências culturais daquela época, fato que seria determinante para seu futuro.

Os beduínos eram organizados em tribos e eram essencialmente nômades, ocupando-se fundamentalmente com a pecuária e viviam em tendas, vagando pelas regiões áridas em busca constante de pastagens para o gado. Assim, na medida que passaram a adotar o comércio como principal forma de subsistência organizaram-se em caravanas, de forma que logo se tornaram os maiores distribuidores de produtos de todo Oriente Médio e ativaram o próprio comércio interno das cidades da Península Arábica. Porém, nem os beduínos e nem os habitantes das cidades possuiam um governo unificado organizado. Entre os beduínos predominava o regime familiar, em que todos os membros tribais consideravam-se parentes entre si. Eram comuns entre os beduínos as lutas entre as famílias que poderiam se prolongar até o desaparecimento de dezenas de pessoas de cada família. Já nas cidades o poder político era exercido por uma aristocracia comercial.

A cidade de Meca constituia-se o principal centro comercial e também veio a se tornar um importante centro religioso, pois nela foi construído um templo conhecido como Caaba (ou Kaaba) para conter uma “pedra negra milagrosa enviada do céu,” e abrigar também uma multiplicidade de ídolos reverenciados por cada tribo particularmente, configurando assim a prática de uma religião politeísta. A tribo guardiã da Caaba era a tribo aristocrática  dos “coraixitas” (ou quraych), e seriam eles a promoverem a primeira tentativa de unificação do povo árabe no século VI d.C., ao levantarem a questão de que a divisão árabe no tocante a vida social, política e religiosa era a causa principal da fraqueza dos árabes em frente aos poderes imperiais persa e bizantino. Essa conscientização veio a se tornar cada vez mais forte com a entrada das tropas cristãs bizantinas na Etiópia e no Iemen, ao sul da Península Arábica, e o confronto militar entre as tropas bizantinas e persas no Egito. Tais disputas entre persas e bizantinos comprometera severamente o frutífero comércio exterior das caravas árabes, gerando uma necessidade armamentícia cada vez maior para assegurar a segurança e manutenção das caravanas comerciais.

Foi nesse cenário conflituoso que na cidade de Meca, no ano de 570 da nossa era, que nasceu uma criança pertencente a um dos clãs mais pobres da tribo aristocrática dos coraixita, e ao menininho foi dado o nome  de Maomé (Muhammed, que pode ser traduzido como digno de louvoures ou  o grandemente louvado). O menino cresceria e se tornaria um jovem vivaz, e sua humilde condição econômica-financeira de nascença resolveu-se através de um rico casamento, que lhe permitiu uma agradável ascenção social na tribo coraixita. Como marido da proprietária de uma das mais prósperas caravanas, Maomé teve condições de dedicar-se a sua sede de conhecimento e crescer em sabedoria, absorvendo conhecimentos culturais dos vários povos com que mantinha contato. Dono de uma brilhante inteligência e perspicácia não demorou a visualizar que uma nova forma de domínio estava sendo utilizada como forma de governo: a teocracia, onde política e religião reunidas num único poder era capaz de unificar as pessoas num mesmo objetivo comum.

O cristianismo, o judaismo, o masdeismo e mesmo o budismo eram formas religiosas que naquela época continham um conceito político-social grandioso, pode-se dizer aque até maior que o próprio conceito religioso do qual se originaram. A prática religiosa dessas doutrinas era o meio e o fim era gerar um poder político com objetivo de exercer um domínio de poucos sobre muitos. No hitórico religioso da humanidade se constata que as religiões se basearam nos “mistérios ocultos” do chamado mundo invisível, na busca de dar um sentido lógico ao que a razão humana não conseguia explicar. A mente humana tem a capacidade de formular métodos que a permitam concretizar sua experessão, o que é chamado de “simbolismo” (Ex.:  Cores, números, letras e formas – um círculo, um triângulo, um quadrado ou uma cruz – são símbolos). O simbolismo é tão presente no dia a dia humano que também se encontra na maneira humana de intuir sua comunicação com o mundo invisível. A simbologia utilizada para tal fim é por isso considerada “mágica, devido aos seus poderes ocultos inexplicáveis. A Kabalah (ou Cabala) judáica era uma forma de simbologia cujo conhecimento permite desvendar os mistérios dos textos sagrados hebráicos. Do mesmo modo na cultura greco-romana os iniciados das Doutrinas Secretas Dionísica e Órfica tinham uma compreensão dos ensinamentos de todas as outras religiões por serem também versados na misteriosa linguagem simbólica. A partir do século V da nossa era com o advento da teocracias cristã e masda (zoroástrica), passou-se a combater-se com severas perseguições o conhecimento simbólico do mundo invisível, que levou à destruição uma infinito número de seus documentos que poderiam ser perniciosos ao domínio das novas teocracias.

O cristianismo, devido a ignorância dos seus sacerdotes dos fundamentos cabalísticos judáicos, foi fundamentado em um conhecimento totalmente desvirtuado do simbolismo utilizado por Jesus em seus ensinamentos, o que transformou a nova religião teocrática romana num conjunto de princípios mentais racionais, que pouco tinham a ver com o mundo invisível e espiritual revelado por Jesus, porém os dogmas criados permitiam atender unicamente ao aspecto materialista humano e   ser uma ferramenta útil ao domínio de um indivíduo sobre muitos. Portando, não é de causar espanto que aos 40 anos de idade, Maomé tenha estabelecido uma nova doutrina teocrática baseada na linha romanizada do cristianismo; pobre em simbolismo espiritual e totalmente voltada para o aspecto materialista, empregnada de elementos religiosos que se adaptavam a natureza do povo árabe,  que permitia uma identificação rápida e segura de cada indivíduo  por ser permeada pelas principais crenças religiosas de sua época, praticamente criando uma doutrina religiosa monoteísta com fundamentos “universais.” A profissão de fé monoteísta do Islão, ou do islamismo, está contida na “shahadah”: “Não há outro Deus senão Alá e Maomé é seu Profeta” e no dogma perpetuado por Maomé na IV Sura do Corão (o livro sagrado islâmico): “Acredito em Deus, em seus anjos, livros e mensageiros, no último dia, na ressurreição dos mortos, na predestinação por Deus, no bem e no mal, no julgamaneto e na justiça, no paraíso e no fogo do inferno.” Na composição da nova doutrina teocrática verifica-se que na busca da universalidade religiosa, Maomé usou de uma grande diplomacia religiosa para não criar confrontos com as outras religiões dominantes de seu tempo, de modo que os novos crentes pudessem interagir e usarem de tolerância religiosa quando fosse do próprio interesse, porém sabiamente estabeleceu o princípio do “proselitismo,” onde obrigava o fiel islâmico a não medir esforços para a conquista de nosvos prosólitos (adeptos). De modo que o proselitismo transformou-se em pouco tempo na grande arma ideológica de Maomé. O princípio do “djihad”, que quer dizer “guerra santa”, para a conversão dos infiéis defendia a idéia de que “a espada é a chave do reino dos céus; todo aquele que morre lutando pela expansão do Reino de Alá é um mártir e vai para o paraíso.”

Com o sucesso de sua doutrina Maomé conquistou um exército que permitiu a ele entrar no ano de 630 d.C. triunfalmente em Meca. Ele e seus adeptos destruiram os ídolos da Caaba, preservando apenas a “pedra negra milagrosa vinda do céu.” Com a conquista de Meca, Maomé funda e estabelece um Estado teocrático, manda construir a primeira mesquita e determina os quatro deveres religiosos básicos do fiel islâmico: a oração (salah), o jejum, a esmola (zakah) e a peregrinação à Meca (hadj). Os rituais religiosos estabelecidos por Maomé, tal como as orações –  que deviam ser feitas após abluções purificadores com água ou areia e cinco vezes ao dia (antes do nascer do sol, ao meio-dia, antes e depois do por do sol, e quando a noite caisse) na direção de Meca –, visavam não só estabelecer a “religação” entre o indíviduo e a entidade divina como também promover uma união espiritual entre os membros do islâmismo, de modo que desenvolvessem uma espécie de consciência grupal unificadora, reforçando a idéia de “pertencerem” a um mesmo “corpo”, dando um sentido específico a própria vida e existência individual.

Um estudo mais profundo do islamismo permite observar que seus princípios religiosos estão direcionados à totalidade da vida social árabe, que não só permitiu unir em si as nobrezas beduínas e as aristocracias das cidades numa só elite unificada da Arábia, como também permitiu a esta elite a ter domínio sobre as camadas desprivilegiadas da população árabe, do momento em que tinha como dogma de fé que todo islâmico deveria enfrentar os acontecimentos de sua vida com “resignação,” já que estes estariam previamente traçados por Alá, promovendo uma crença fatalista.

Tendo em vista o aspecto social do islamismo verifica-se que como uma doutrina comportamental a nova religião foi muito benéfica para promover a unificação dos árabes em um só povo e a constituição da Nação Árabe. A validade da obra de Maomé se comprovou na sua capacidade de criar um mecanismo capaz de dar-lhe poder para tecer os laços que uniriam os árabes e de assim organizar o caos materialista de seu povo que era impeditivo ao  progresso árabe. A imposição de práticas religiosas teocráticas pela violência não era uma exclusividade do islamismo, o próprio cristianismo já o vinha praticando no intuito de conservar o poder do decadente Império Romano. Cabe aqui uma sábio pensamento milenar chinês: “O fato de alguém conseguir alguma coisa por meios condenáveis pode levar à suposição de que tais meios são naturais.” Portanto, é possível comprovar-se historicamente que é da natureza humana empregar o uso das mais variadas formas de violência para subjugar  e exercer o domínio de uns sobre os outros.

Usando-se de uma análise psicológica pode-se dizer que Maomé foi o primeiro a usar da chamada “psicologia de massas” numa doutrina capaz de atender as expectativas individuais e eliminando o alto grau de ansiedade de milhares de indivíduos ao mesmo tempo, algo até então inédito na história humana. Tal feito foi alcançado apenas com o uso de rituais que estabeleciam laços de “união”, permitindo que se evoluísse de uma identidade individual para uma identidade coletiva. O pensamento contemporâneo de Erich Fromm sobre a superação da solidão dá uma explicação concisa de como isso procede: “É uma união que o ser individual desaparece em ampla escala, em que o alvo é pertencer ao rebanho. Se eu sou como todos os mais, se eu não tenho sentimentos ou pensamentos que me façam diferente, se eu estou em conformidade com os costumes, idéias, vestes, padrões do grupo, eu estou salvo: eu me salvei da terrível experiência da solidão.” E é exatamente essa salvação da solidão o âmago da religião islâmica e a razão do seu expansionismo no Oriente Médio e norte da África. Após a morte de Maomé em 632 d.C. os árabes avançaram sobre o Império Persa e depois de conquistá-lo dirigiram sua sede de conquista para o Império Romano do Oriente (ou Império Bizantino). O conflito entre cristãos e islâmicos perduraria por séculos e ficaria ainda mais acirrado com as Cruzadas promovidas pelo papado de Roma a partir do século XI, e é admirável perceber que de certa maneira que nós presentemente ainda vivamos ainda as graves consequências desse passado remoto.

Contudo,  se conforme a crença de que o destino humano está nas mãos de Deus – o mesmo Deus em nome do qual se derrama-se rios de sangue –, ele provavelmente tinha outros planos para essas duas teocracias belicosas que dominavam o mundo da Idade Média. Pois, essa é a única maneira que se tem para explicar o raio que cruzou os céus do Extremo Oriente ao Ocidente, e que configurou o mundo numa nova ordem mundial. E mesmo que os historiadores não lhe façam a justiça devida, foi ele que deu o primeiro grande impulso para o progresso do conhecimento humano com a disseminação da sabedoria Oriental e por seus feitos pode ser considerado como o terceiro grandioso tecelão da civilização humana, e seu nome era Temudjin, mais conhecido como Gêngis Khan (1160 – 1227), cuja influência no destino da humanidade será analisada no próximo capítulo.

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