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sábado, 22 de outubro de 2011

I - O MUNDO EM QUE VIVEMOS



          No passado o mundo era constituído de várias civilizações com costumes e modos diferentes. O mundo era dividido em vários países, e estes países conjuntamente com as suas populações constituíam as Nações. Cada sociedade tinha a sua própria estratificação social, umas mais fortes outras menos. Antigamente era comum haver nos países uma aristocracia familiar. O nome de uma pessoa poderia significar muita coisa ou nada. A reputação da tradição de uma família se sobrepunha aos bens materiais que pudesse deter, e era assim em todo o mundo.

            Nos estudos de geografia, história e sociologia, era possível estudar as camadas sociais em forma piramidal. A base era constituída da força de trabalho em grande número de indivíduos, depois se seguia às camadas dos proprietários, dos militares, das elites intelectuais, religiosas e políticas conforme a importância que tinham em cada sociedade e no topo da pirâmide estaria invariavelmente o governo da sociedade. Mais tarde, essa configuração piramidal foi modificada em classes: a classe baixa, a classe dos trabalhadores, a classe média e a classe alta que era constituída pelos proprietários de capital e dirigentes da Nação. Esta nova estratificação deu origem ao que se chamou “luta de classes” baseada nos conceitos comunistas de Karl Marx. A partir deste momento a estrutura social começou uma trajetória de surpreendentes mudanças transformadoras de seu conceito original.

            A suposição de Marx foi baseada na segunda Revolução Industrial da Inglaterra, dentro da perspectiva de que as classes trabalhadoras tomariam o poder, e só obteve sucesso em países que paradoxalmente não tinham uma economia baseada na indústria, como no caso da Rússia, da China e de Cuba. Em verdade estes países se industrializaram posteriormente as revoluções comunistas e construíram artificialmente uma sociedade proletária aplicando os conceitos marxistas. Nos países industrializados, apesar do fortalecimento sindical, a mudança social resultou de um crescente capitalismo, que em razão do poder aquisitivo e consumo de bens dos indivíduos veio a estabelecer um novo conceito de classe social divididas em: A, B, C e D.

            A produção de bens passou a ser dirigida para atender as novas classes consumistas conforme os seus gostos e necessidades, fazendo surgir os produtos populares, os produtos utilitários, assim como os produtos de grife, exclusivos das classes abastadas, designadas como classe A. Conseqüentemente as marcas de produtos viraram símbolos de qualidade, a ponto de um produto de grife ser de tal maneira caro passando a ultrapassar grandemente o seu valor real.

            Na sociedade consumista a arte da venda de produtos passa a ser fundamental à contínua prosperidade produtiva. Os meios de comunicação tornaram-se notáveis veículos de vendas, surgiram os criadores de tendências esmerados na habilidade de manipular o público com campanhas publicitárias de novos produtos, de novas modas, e de novas necessidades, fazendo do “novo” um ato cotidiano. Esta situação alimentou um capitalismo predador permitindo que fortunas fossem feitas da noite para o dia, e sujeitas a desaparecerem do mesmo modo. Em pouco tempo o dinheiro passou a mudar de mão tão rápido que o rico de um dia podia ser o novo pobre de amanhã. O mundo assim virou um grandioso cassino, com as bolsas de valores subindo e descendo sem aviso prévio ou motivo e as indústrias, empresas, bancos podendo ser comprados, vendidos, incorporados de uma hora para outra. Os proprietários reais do capital agora são invisíveis. É o mundo em ebulição. O tal do Mercado, caprichoso e cheio de humores, é razão de tudo, seja para o bem, seja para o mal. Ninguém sabe quem são os responsáveis por tanta volubilidade, afinal nem todo mundo tem US$ 500 dólares para assinar a Forbes e ter acesso a mais prestigiosa publicação sobre este vai e vem de fortunas de um lado para outro. Apesar de que, em verdade, a Forbes não conta tudo, pois afinal o público dela pertence à elite mundial, a qual não tem o menor interesse de ver seus segredos revelados, pois se enriquece cada vez mais com a desinformação que grassa pelo mundo. A Forbes publica apenas o que esta elite deseja que seja divulgado publicamente.

            Em tais circunstâncias ocorreu o que antes era impensável: os governos perderam gradativamente o poder e a importância. O exercício do poder governamental passou a ser cada vez mais limitado pelos interesses econômicos: interno e externo, e também pelo mercado financeiro mundial. Não é de admirar que os governantes de países onde o foco do mercado seja muito intenso, tais como os Estados Unidos, a Inglaterra e o Japão, saiam de seus cargos precocemente envelhecidos após o exercício de seus governos. Os conflitos entre os interesses nacionais e os interesses internacionais são grandiosos e de difícil negociação. Geralmente costumamos culpar os governantes dos descaminhos do país, mas nem por um momento se tem a consciência da situação complexa em que este governante se encontra, vivendo quase sempre como se diz popularmente entre a cruz e a caldeirinha. Analiso que estas pessoas não calculam o quão espinhoso é o cargo que ambicionam, pois estão atraídos pelo glamour do poder que as cadeiras presidências representam no imaginário de cada um. Estas pessoas acreditam que vão poder fazer isto e aquilo, solucionar os problemas nacionais e fazer o país progredir, contudo quando chegam lá descobrem que não é bem assim, e que existe uma variedade incalculável de considerações para cada decisão a ser tomada, porquanto sempre são inúmeros os interesses envolvidos. Há sempre muita mais em jogo do que se pode pensar e qualquer decisão descuidada pode transformar de um momento para outro um país num castelo de cartas, pronto a cair ao mais leve sopro.

            O motivo dos governos não deterem mais o poder que possuíam reside no fato de que o mundo se transformou numa reunião das mais diversas pirâmides dos setores representativos da sociedade mundial, como se pode visualizar na figura abaixo.



  
            Podemos observar que na figura existem vários triângulos, cada um com uma área de representatividade. O degrade das cores de cada triângulo corresponde à importância social e nível econômico estratificado (A, B, C, D), quanto mais escuro maior o nível econômico e influência. O centro reúne os topos dos triângulos, também reúne a elite de cada área de atuação demonstrando a estreita proximidade das relações existentes entre elas. Na faixa externa encontra-se o nível econômico da informalidade, desempregados e pessoas que sobrevivem sem uma ligação formal com os meios produtivos e excluídos dos processos produtivo, de consumo e social. Nesta representação não foram considerados aqueles indivíduos inseridos em atividades de contravenção, pois estão envolvidos em todas as camadas sociais e em todas as áreas de atuação produtiva, não podendo desta maneira ter uma área distinta.

            É observável que só algumas áreas de influência da sociedade contemporânea relacionadas à atividade econômica que exercem estão representadas. Na Mídia, foram incluídos os serviços de comunicação em razão que são interativos. Na Energia está incluso além do sistema de extração, produção e distribuição, também os meios de transporte, pois dependem da energia.

            Pode causar estranheza a presença das áreas de Religião e das Organizações Não-Governamentais (Ongs) como participes neste contexto. Considerei a Religião como área de atuação econômica que reúne todas as religiões. Esta área passou a fomentar um crescente processo de produção de bens e decorrente consumo dos mesmos. As novas religiões evangélicas possuem consideráveis capitais, o esoterismo movimenta um comércio de tendências considerável, enquanto o Islamismo tem tido uma representatividade econômica que não pode ser desconsiderada, podendo seu atual poder econômico ser comparado ao do poder financeiro ligado ao Judaísmo.

            Por sua vez as Ongs passaram a exercer uma notável influência na economia, configurando o chamado Terceiro Setor, já que o primeiro seria o Público e o segundo o Privado. Como veremos adiante as Ongs ao reunirem representantes de todas as áreas e camadas sociais passaram a influir no setor Público. As Ongs são responsáveis pela formação progressiva das redes de influência, capazes atualmente de grande interferência e ingerência nos governos, ocupando áreas de atuação cuja representatividade governamental seria mais adequada e bem vinda.

            Pode-se observar também que não inseri na figura a representação da área política, a razão disso é que se pode constatar que dentro processo democrático moderno a representatividade política está mais ligada aos interesses econômicos do que aos interesses do povo. Os políticos contemporâneos adquiriram um perfil mais de “produto” dos laboratórios de marketing do que defensores de políticas públicas, que forneçam ao país meios de progredir e se desenvolver. Ousaria dizer que a Democracia da maneira como está se apresentando é pífia, servindo apenas aos objetivos de seus patrocinadores. Esta situação se formou por dois motivos; nos paises desenvolvidos por falta de responsabilidade dos indivíduos no exercício do voto, e nos países do terceiro mundo ocorre por falta de confiança dos eleitores nos políticos, que desconsideram suas promessas de campanha ao ocuparem os cargos eletivos. Em ambos os casos a principal causa é o baixo nível de informações dos eleitores, presas fáceis da manipulação do marketing das campanhas eleitorais.         

            A notável falta de seriedade política em todo o mundo democrático faz com que pululam escândalos de mau gerenciamento tanto do poder público e mais ainda dos cofres públicos, além da crescente corrupção. A má informação durante o período eleitoral, a guerra de denúncias pouco confiáveis e as campanhas publicitárias massacrantes, impedem os eleitores de terem uma real imagem do caráter dos candidatos e acabam votando mal e elegendo para dirigentes pessoas descomprometidas com as necessidades da população. Não é a Democracia um sistema de governo insatisfatório, são os indivíduos que não querem realmente ter qualquer dever com o exercício democrático, objetivando apenas usufruir os benefícios aparentemente oferecidos pelos políticos em suas campanhas.

            Este descaso democrático está permitindo que pouco a pouco tome forma um novo sistema de governança, onde o setor privado passa a ter uma presença cada vez maior no gerenciamento governamental, a ponto de interferir e comprometer a decisões que caberiam apenas aos governos. Ora, os governantes é que foram eleitos para exercerem o governo, os parlamentares é que foram eleitos para votarem em nome do povo, não pode ser aceitável que quem não foi eleito venha a tomar decisões que são pertinentes tão somente aos eleitos para os cargos públicos.

            Se os governantes não governam segundo as necessidades e interesses das Nações a que pertencem, é cabível perguntar quem então está governando. A resposta a esta pergunta é complexa, sobretudo porque é difícil aceitar a ausência de poder do povo de decidir os caminhos do seu país, mais difícil ainda é aceitar a obscenidade de que atualmente o verdadeiro Governo do mundo está nas mãos de algumas centenas de pessoas desconhecidas.   Tendo em vista que tal situação seria mais própria da imaginação de um escritor de livros de ficção do que uma realidade palpável e verídica. É plausível pensar que seja impossível, pois seria absurdo para a maioria das pessoas pensar que fosse assim, contudo negar o que está a cada dia mais claro aos nossos olhos seria uma atitude insensata.

            Defendo a idéia que a pior verdade é melhor que qualquer mentira, pois com a verdade podemos lidar, buscar soluções para o problema, redirecionar as ações, rever planos, enquanto que a mentira além de ser um engodo, não oferece nenhuma escolha, e sempre há de resultar num problema maior a longo ou curto prazo, com certeza. Também acredito que existem situações que não podem ser mudadas e devem ser aceitas. Aventuras quixotescas não têm lugar nos dias de hoje, onde se luta uma batalha por dia para manter o lugar ao sol, tal é a competitividade profissional. Ilusões de bondade e altos ideais humanitários ficam bem em livros e discursos, mas todos nós sabemos como é árduo ganhar o pão de cada dia e qual é o real valor do dinheiro em nossas vidas. Sabemos que se não formos à luta ninguém irá por nós. Por este motivo temos que conhecer melhor os métodos utilizados por quem conseguiu multiplicar de maneira formidável os seus recursos iniciais, e galgar níveis de influência cada vez mais altos.

             

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