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quarta-feira, 26 de outubro de 2011

II - O CARÁTER DAS REDES DE INFLUÊNCIA




            Se observarmos as pessoas de sucesso em sua excelência profissional, nós descobriremos que quase a maioria delas é inteiramente dedicada a obter sucesso no que fazem. Nós perceberemos, também, que aparentemente estas pessoas possuem uma incrível pluralidade de interesses. Não são do tipo que vão do trabalho para casa e da casa para o trabalho. Sempre estão em contato com outras pessoas, sempre estão trocando informações, interagindo ativamente com a sociedade em que vivem, trabalhando em tecer a própria “rede” de relações cujos interesses se confluem. Ou ainda, pertencem a uma “rede” estabelecida.

            Como “redes estabelecidas” eu defino todas as organizações que reúnem pessoas com algum intuito ou atividade comum, tais como; as instituições econômicas e financeiras, os centros educacionais, as sociedades religiosas e beneficentes, as organizações não-governamentais, as sociedades de classe, reuniões de partidos políticos e até a pratica de esportes. Por exemplo, atualmente no Brasil está em voga o golfe. Campos de golfe estão sendo construídos por todo o país e o milionário norte-americano, Donald Trump é o grande investidor que está implementando este rentável negócio, estabelecendo várias parcerias e ao mesmo tempo aproveitando para montar uma notável rede de influência no Brasil. Se alguém me perguntasse por onde começar sua rede, eu diria: “- Se você tem dinheiro disponível, vá aprender a jogar golfe,  ajudará a você fechar ótimos negócios!”.

            A redes hoje possuem importância fundamental, é difícil para um executivo que tenha uma boa rede de relações ficar desempregado, mas se ele ficar esta rede funcionará como uma perfeita e eficiente agência de empregos e não demorará a estar empregado novamente. Mas, não basta se ter uma boa rede, é necessário conhecer bem a sua rede, saber como ela se interliga a outras. Sim, porque de alguma maneira todas as redes sociais se interligam e se tecem uma às outras, em seus níveis de influencia.

            Para compreender como funciona uma rede de influência sugiro que se pegue um papel, coloque o próprio nome no meio e puxe uma linha para cada relação estabelecida com outra pessoa, a partir dessa pessoa coloque as relações que estão ligadas a ela e assim por diante, será possível perceber que existem vários níveis de relações, os mais próximos e outros mais distantes, todavia é certo que todos os nomes pertencem à mesma rede e que em alguns casos ocorre uma interligação com outras redes de influência.

             Conhecida a rede, é preciso administrá-la para fazer uso dela. O primeiro passo é fazer a ficha de cada participante, colocando todas as informações que se possa conseguir dele, desde a data de nascimentos até o nome do gato, pois quanto mais se sabe de uma pessoa mais subsidio se terá para utilizar a influência disponível desse contato e investir no estabelecimento de uma relação de confiança profícua, algo fundamental para o bom funcionamento da rede. Esse será o primeiro passo para ser um bom "tecelão" de redes.

            O segundo passo será criar laços de confiabilidade, as pessoas precisam saber o que podem esperar uma das outras, só assim se criará um clima de contribuição e empatia recíproco. Para isso as regras da boa educação serão de grande valia, pois foram feitas exatamente para isso. O terceiro passo é ter interesse nos parceiros, demonstrar atenção e também ter comprometimento com a relação estabelecida, pois um dia certamente terá a sua devida utilidade.      

            Tenha-se atenção na ocasião da entrada de um novo membro na rede, todo cuidado é necessário, pois o processo de conquista de confiança e de sedimentação da relação precisa ser conduzido conscienciosamente, já que qualquer deslize poderá ocasionar a perda do novo contato. Afobação, adulação, insistência, indiscrições e falta de educação poderão comprometer um bom resultado. É preciso ter em conta que as pessoas possuem diferentes conveniências, necessidades e interesses. E que estes três aspectos são os responsáveis pelo fato de aproximar ou afastar as pessoas.

            Administrar uma rede não é tarefa fácil, só com dedicação ela se manterá viva.  Uma rede pode morrer pelos mais variados motivos, entre eles estão: a incompetência administrativa da rede, escândalos que comprometam a rede ou a carência de informações que possibilitariam seu pleno funcionamento. Contudo, as perdas financeiras são o motivo mais comum e irremediável da falência de uma rede. Outro motivo é o estabelecimento em um local desconhecido, que obrigará a formação de uma nova rede local. Neste caso é preciso investir o máximo possível para obter informações sobre as pessoas e redes de influências. É um perigo desconhecer as redes influências locais, porquanto estando descoberto, seja em caso institucional ou pessoal, fica-se à mercê dos embusteiros e sujeito a armadilhas perigosas.

            Durante a Guerra Fria os agentes de inteligência dos serviços secretos eram treinados na arte de coptar informantes, ligando eles ao esquema montado de informações. As táticas obedeciam a um estreito conhecimento dos padrões de comportamento humano. É curioso que há mais tempo do que se pode imaginar tais procedimentos são empregados nas mais importantes redes de influência do mundo, porquanto estas redes necessitam sempre de elementos novos em razão de novas necessidades ou de novos interesses, ou ainda em razão do tempo de vida de seus membros, as pessoas morrem, não? É importante tomar conhecimento de como isso acontece, seja para usufruir o emprego desta ação, seja para se defender dela.

            Como exemplo de "como" uma rede pode agir para estabelecer uma nova ligação, eu apresentarei o relato de um caso simples passível de ocorrer com qualquer pessoa. O personagem principal desse enredo é o “head-hunter” (caçador de cabeça), pode ser descrito como o indíviduo que anda pelos meios sociais em busca de pessoas “interessantes” e se possível “brilhantes”, que possam se tornar um “player” (ator) em determinado cenário, seja este cenário político, empresarial, docente, artístico ou outros. O head-hunter não tem idade nem gênero, pode ser alguém que você conheça por acaso, ou que trabalhe na mesma área de atuação, ou encontre em algum evento social, ou até um amigo, mas é possível identificá-lo pelas atitudes. Ele estará procedendo segundo o velho manual dos serviços de inteligência.

            Se você se tornar alvo de um head-hunter, saiba que antes de se aproximar de você ele já vai ter sua ficha completa, pois a esta altura ele já se informou de sua vida por inteiro. Sabe tudo de você, o que você gosta e o que você não gosta, quais são seus hábitos, o que come, o que bebe e etc, literalmente tudo. Ele conhecerá perfeitamente a sua rotina. Ele vai planejar um encontro com você.  Se você for o tipo de pessoa sociável, ele o encontrará em algum dos ambientes que freqüenta, e se aproximará dizendo, por exemplo: “- Estive com Fulano (grande amigo seu) e ele me contou do sucesso que você teve em tal negociação...”. Pronto, ele lançou a isca, você engoliu e foi fisgado.  Se você não é do tipo sociável, mas costuma dar uma corridinha saudável todo dia, vai ser muito mais fácil e vão acabar correndo junto. Mas, se você for do tipo ermitão,  que vive enclausurado, não pense que estará livre dele, pois na primeira chance ele estará ao seu lado, seja quando for comprar jornal ou levar o cachorro passear, e você se encantará com aquela pessoa tão simpática, tão interessada em você.

            Passada a fase do primeiro encontro, chega o momento de cortejar, do mesmo modo que ocorre na conquista amorosa será a hora de conquistar a sua confiança. Se você foi ao banco e ele chegou depois de você, não é obra do acaso, nunca acredite em coincidências. Ele estava seguindo você, esperando a hora mais oportuna de abordar você. O head-hunter sempre chegará depois de você nos lugares públicos. A conversa estava tão interessante no banco, que vocês irão tomar um cafezinho. Aí, ele vai falar da possibilidade de um negócio para você ou de conseguir alguma coisa que você vem tentando muito conseguir, mas não consegue. Marcam um almoço no dia seguinte para conversarem melhor. No almoço ele conta que tudo “milagrosamente” deu certo, ou o negócio vai ser fechado ou ele conseguiu o que você precisava. Afinal, ele não poderia falhar, não estamos falando de conquista de confiança? Pronto, ele conseguiu que você ficasse devendo um favor a ele e caísse na “rede” dele, todavia você pensou apenas no quanto era sortudo de encontrar alguém tão útil aos seus interesses como ele.

            Agora ele precisa introduzir você na “rede de influência” em questão. Então combinam encontrar num bar muito freqüentado pelo happy-hour. Você chega e já o encontra  sentado com outro amigo, que apresenta a você. Em dois segundos são como velhos amigos, só que você não desconfiará nem por um minuto que ele será a sua “sombra,” aquela pessoa que se tornará suficientemente próxima de você para passar a outros elementos da rede as informações confidenciais da sua vida.

            Quando os laços de confiança estiverem verdadeiramente selados e a sua ficha devidamente aprovada pela “rede”, ao tempo determinado você será devidamente introduzido nela, tendo conhecimento disto ou não. Você foi caçado. Se você tiver consciência do que está acontecendo poderá decidir se a rede serve aos seus propósitos ou não, se pretende permanecer nela ou se retirar. Mas, se você não tem consciência e fica deslumbrado com suas novas amizades, e até acredita nelas, você estará sujeito a ser literalmente usado para os objetivos da rede sem ganhar nada com isso, ou se meter numa tremenda encrenca, que poderá afetar a sua vida de maneira desastrosa, porque toda “rede de influência” tem poder, e quanto maior o poder de influência maior também é o poder decisório dela na sociedade. Assim, lembre-se sempre, que a rede pode alçar o status de quem quer e também pode derrubar qualquer um ao seu bel prazer. 

            Quem já foi alvo desse tipo de ação cria o hábito de não confiar em ninguém, muito menos vai acreditar em milagres da sorte e cria o bom hábito de colher informações antes de se envolver em qualquer coisa. Uma certa dose de paranóia nos dias de hoje é muito salutar. Sobretudo porque parte deste procedimento, acima descrito, também está sendo usado em organizações criminosas para assaltos, seqüestros, tráfico de drogas e outros. Mas, também é largamente empregado na espionagem industrial, financeira e empresarial. De qualquer maneira este conhecimento ajuda a manter um estado de alerta para evitar tanto a excessiva confiança como uma perigosa ingenuidade.

          Desde que o mundo é mundo, o processo civilizatório apresentou-se como uma verdadeira batalha de interesses, onde anjos e demônios da civilização serão consagrados pela História segundo os conceitos daqueles que detêm o poder da informação. Basta dizer que até a poucas décadas a cristandade católica satanizava figuras como Galileu, Voltaire, Spinoza e tantos outros sábios que ousaram pensar de maneira contrária aos termos vigentes de suas épocas. É verificável que a História se escreve através dos embates e conflitos das redes de influências, são elas a força propulsora que move a civilização, e se deve aos que tecem suas tramas tanto o progresso como o atraso da civilização. 

        O exemplo que dei dos campos de golf do Donald Drump é um microcosmo de uma disputa de espaço para os tecelões trabalharem suas redes de influência, mas o mesmo caso pode ser encontrado em campos mais amplos, com interesses ainda mais vultuosos, que são passiveis de uma internacionalização das redes, que de maneira intrigante e fantástica é capaz de mudar o mundo, fato este que só uma visita ao passado das redes nos revelará.       


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